XIV - Capítulo quatorze

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              Me perdoem os erros

Kamila

- Eu quero te ver. Hoje.

- Ham? - sibilei quando parei a contragosto o beijo pra respirar.

- Quero você lá no baile Kamila, pra ter um motivo pra me aproximar de você.

- Você tá louco? - porque eu estava prestes a ficar - tá louco, eu não piso os meus pés naquele lugar nunca mais!

- Por quê?

Ele perguntou com uma falsa inocência que se não fosse tão sexy, me irritaria profundamente.

- "Porquê"? Não se faz de rogado! Dá última vez que eu fui num baile tu me disse que ia me comer! Dizer, dizer não; você me avisou! Como se eu fosse responder amém.

Ele já estava rindo de mim na metade, e eu já estava amaldiçoado minha língua comprida no final.

- Comer você? É por isso que tá tão receosa? - sorriu com escárneo - Não meu amor, nós vamos ter uma conversinha sobre você não conseguir segurar essa linguinha gostosa - segurou meu rosto - e ainda por cima permitir que alguém grave isso e coloque na internet, pra me deteriorar. Você esqueceu que tem uma dívida comigo?

- Esqueci mas já lembrei.

Ele fez menção de sorrir mas de repente retomou sua postura altiva e impessoal, olhou nos meus olhos, o calor nos seus já tinha sumido - eu odiava essas abruptas mudanças de humor - me disse:

- Vamos lá, você precisa voltar a trabalhar e eu preciso sair daqui antes que alguém me veja. - colocou, ou tentou colocar meu cabelo no lugar onde estava antes de ele bagunçar completamente - Você tem alguma noção de quem fez isso com você? Te gravou? Me diz hoje a noite, no meu camarote, tudo bem?

Não tive tempo de anuir, mas ele já tinha sua confirmação dentro de si.

Exibido.

Só quando o vi se afastar é que notei que ele estava meio sujo, as roupas com poeira e os ombros tensos, a musculatura rija saltando sem querer sobre as roupas, de um jeito que só fazia alguém querer ver mais, o exposto era pouco.

Ele virou pra mim e me pegou encarando sua bunda. Sorriu satisfeito e saiu pelos fundos.

Exibido, mil vezes exibido.

De súbito então, um flash de suas palavras passou pela minha cabeça. "Me diz hoje a noite, no meu camarote" Hoje a noite? Mas já estava de noite. Senti raiva pelo seu autoritarismo, eu ainda teria de trabalhar.

E eu não iria, é óbvio. Saio tarde do trabalho, eu não vou me arriscar indo naquele lugar tão tarde da noite. Seja lá o que esse homem tem na cabeça, só não é juízo.

- Kamila! Morreu aí dentro garota?

Meu patrão gritou me tirando do transe.

- Já vooou!

Tinha até esquecido o que vim pegar.

Durante todo o resto da noite eu fiquei pensando no vídeo, e em quem teria me gravado. Eu realmente não sabia, e isso me assustava, pois agora que todos tinham acesso a ele, eu só conseguia imaginar que seria sequestrada e morta por qualquer bandido desse lugar que se sentisse ofendido, ou linchada em praça pública pelos próprios moradores. Eu estava fodida.

Com esse vídeo, eu fiz exatamente o que minhas primas temiam, tornei público os meus ideais polêmicos. Me senti arrependida por não ter escutado seus conselhos, Iza ia me matar, e ainda era provável que eu deliberadamente tenha colocado minha família em risco. Eu estava fodida.

O Dono do MorroOnde histórias criam vida. Descubra agora