IV - Capítulo quatro

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Kamila

Minha nossa que loucura, e puta que pariu isso é enorme!

Se existe uma palavra que possa descrever o que é uma favela, ela é amontoado.
Que amontoado da moléstia. Nem dá pra ver onde termina uma casinha e começa outra, é tudo aglomerado.

Não sei como eu vou achar o caminho de casa quando começar a morar aqui.

Nossa sorte é que tia Marta e tia Rosa foram nos buscar na rodoviária, e depois de um reencontro realmente emocionante entre as irmã, e um primeiro encontro sem jeito entre as tias e os sobrinhos, colocamos a bagagem no carro rumo ao alemão. Como eu dizia, nossa sorte foi que elas nos buscaram, nós com certeza nunca chegaríamos lá sozinhos.

Quando o Celta verde musgo de Tia Rosa é colocado na primeira marcha, ele sobe o morro ainda penante, como quem já não aguentasse mais essa tarefa.

Não pude evitar o sorriso, a situação era cômica. As pessoas que eu via da janela eram tão diferentes do que eu imaginava... O barulho que parecia estar ali a tanto tempo que ninguém mais se importava, e talvez fosse verdade, era o barulho estarrecedor do trabalho, misturado com as vozes cheias de sotaques e a música alta em cada esquina.

Parece que teria que me acostumar a não ter silêncio.

O carro vira em uma das muitas esquinas estreitas e nós estamos na frente de uma casinha apertada entre as outras, mas de cara muito acolhedora.

A fachada tinha duas meias paredes terminadas em grades de ferro, divididas por um portãozinho que parecia já ter sido pintado muitas vezes; adentrando o portão um jardinzinho bem simples, mas se via que quem o cultivava tinha muito esmero; um pequeno caminho de pedras até o alpendre, que era de cimento batido e tinha dois pilares, um de cada lado com armadores prontos pra receber a rede.
A porta estava aberta e sem nem mesmo entrar eu percebi que a casa era pequena, mas eu também percebi que era muito limpinha.
Entrando de fato nós tínhamos: a sala à esquerda, com um sofá que foi feito pela própria família e era bonito e parecia confortável, uma mezinha de centro bem simples e a estante com a TV. A parede com a TV dividia a sala da cozinha, que era logo atrás, ela tinha uns armários bem diferentes dos convencionais na parede, a geladeira com centenas de imãs e fotos, uma pia e bancada, não de granito ou mármore, mas de tijolos e cimento; uma cortininha que fazia o papel de box embaixo da pia e que combinava com o pano que cobria o botijão de gás, a toalha da mesa e a cortina da janela em cima da pia, utensílios normais de cozinha e no meio dela uma avó bem sorridente, mas ignoremos ela só por um minuto e voltemos ao tur:
A mesa tinha só quatro cadeiras mas ainda assim parecia espaçosa; entre a sala e a cozinha, que ficavam à esquerda, nós tínhamos à direita uma parede com quatro portas:
Uma era o quarto da minha tia Rosa com a minha prima Lívia, outra era o único banheiro da casa, outra era o quarto da minha avó, e por fim o quarto reservado pra mim, minha mãe e Miguel.

Se não deu pra perceber, a casa é toda customizada, as mulheres da minha família sempre foram muito trabalhadoras e começando pela minha avó, que reformou essa casa quase que sozinha, todas as filhas herdaram o talento do artesanato, então aqui tinha pelo menos um objeto que foi feito por um próprio morador da casa, bom, pelo menos tinha até nós nos tornarmos moradores.

- Aaaaaaah! Como minha menina cresceu. - gritou minha avó Milu com a voz aguda e embargada pelas lágrimas. Ela correu e abraçou a minha mãe que, nos braços dela chorou tanto que soluçou.
Ficaram as duas assim, chorando e se abraçando por um tempo que me permitiu até conhecer a minha prima Lívia que estava no sofá observando a cena.

Lívia é filha da minha tia Rosa e as duas moram aqui, mas minha avó tem quatro filhas e um filho: Marta, Rosa, Doralice, Eliza e Alexandro.

Marta, que estava praticamente sufocando o meu irmão com tantos beijos e abraços, e que ainda estava conosco mas logo iria pra própria casa.
Parece que ela mora aqui perto com o marido e seus filhos, meus primos: Caio, Beatriz, e Letícia

O Dono do MorroOnde histórias criam vida. Descubra agora