VIII - Capítulo oito

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Kamila

Acordei no outro dia após o baile, sem mal ter dormido, eu ainda sentia o peso de suas palavras e o calor dos seus lábios formigando nos meus.

Depois de eu ter ido embora tão abruptamente, um tempo depois, as meninas apareceram. Pareciam preocupadas comigo, e estavam chateadas mas procuravam disfarçar pra eu não me sentir horrível por estragar a noite delas.

O pior foi ter que inventar uma boa desculpa que não entregasse o fato de eu estar aos beijos com um criminoso.

- Gente, mil desculpas, mas eu meio que me senti mal sabe, um mal estar se espalhou por mim e eu não podia mais ficar ali. Daí aquele cara, o Roberto - me fiz de sonsa - ele viu minha situação e mandou o soldado me levar pra casa, só isso.

Acho que a desculpa colou, levando em conta com eu estava pálida e acabada, elas acreditaram.

- Mas por que você não chamou nenhuma de nós? - perguntou Lívia, ela era a única que questionou minha história.

- Eu não queria incomodar vocês, olha como estavam se divertindo, e olha onde estão agora, eu estraguei a noite desculpa meninas.

- Kah, não! - começou Izadora - De jeito nenhum, a gente te entende. Nós entramos lá juntas e íamos sair juntas. Você sabe que vão ter muitas outas festas iguais a essa né? Não se preocupa, você é nossa prima e nós escolheriamos você mais um milhão de vezes.

Ela me abraçou.

- É - disse Iza - quem liga pra aqueles traficantes quando se tem uma prima que consegue ingressos de graça?

- Aliás Kah, - falou Letícia - conseguiu descobrir quem de mandou as pulseiras?

Caralho caralho

- Ah, foi o Marreco - pensei rápido, ele foi o único que se aproximou ao menos um pouco antes de Roberto se apoderar de mim - mas acho que ele não mandou exatamente pra mim não!

Todas olharmos pra Iza, que durante o baile não desgrudava de Marreco.

- Ai eu fico lisonjeada - ela disse debochada - mas sinto muito seu Marreco, não vai passar de uns pegas.

Só Iza pra me fazer rir quando estava tão chateada e com raiva, e perdida, e confusa, e com muita, muita raiva.

Eu estava putassa quando acordei essa manhã e me dei conta de que tudo aquilo não foi só um pesadelo de mau gosto. Estava puta da vida enquanto me arrumava e ia para a escola. Estava tão sem escrúpulos que nem dei atenção à Rebeca me provocando com alguma piada idiota sobre o meu sotaque.

Só conseguia pensar no fodido formigamento na minha boca e na podridão das suas palavras.

Ele pensava que ia me comer?! Idiota.

Eu nem percebi quando Paulo entrou na sala se não fosse por Iza ter me cutucado.

Ele começou a falar mas eu tinha perdido o começo e estava perdida também em todo o resto.

- ... Então, como eu já venho dizendo - Paulo falava pra toda a turma - o prazo pra a entrega do trabalho é daqui uma semana, é melhor vocês se apressarem.

Virei pra Iza atrás de mim.

- Que trabalho?

- Você tá com a cabeça aonde Kamila? - numa disgraça de um traficante - O trabalho de história, aquele pra fazer um seminário sobre um lugar do Rio, sinceramente Paulo, você já passou coisa melhor, mas relaxa ninguém vai fazer essa merda não, eu e Izadora vamos pegar alguma matéria sobre o Cristo Redentor.

O Dono do MorroOnde histórias criam vida. Descubra agora