rua 23

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Seja discreto

Estou sentado em frente ao prédio que Heitor me orientou
Já faz duas horas que ninguém entra, nem sai
A rua vazia e escura, sem sinal de movimentação
A neve cobria uma fina camada no asfalto, mas naquela noite, nem a neve queria cair do céu

Nunca matei sem motivo
Matar por matar não me satisfaz
Eu preciso sentir raiva antes, sentir desejo disso
Mas ali...eu nem sabia quem era o homem que iria matar

Meu pé esquerdo se move freneticamente, estava ansioso
Como nunca havia ficado

O frio
Maldito frio

Ninguém sairia de casa com aquele frio
Ele tinha que estar em casa
A minha ansiedade me impedia de esperar mais. Levantei e andei em direção ao prédio
Um prédio antigo do subúrbio da cidade, sem porteiro, muito menos cadeado no portão
Mas as portas dos apartamentos eram todas gradeadas

Inclusive a do meu alvo

Me certifiquei que era o apartamento correto. Na mochila, tenho as armas que Heitor mandou pra mim, além de um silenciador. Tudo tinha que ser bem feito

Peguei a arma e inseri o silenciador. Mirei no cadeado que tinha na grade. Ao disparar, um barulho alto ecoa pelo corredor. Eu tinha que ser rápido, era um andar baixo, se ele percebesse, pularia do prédio

Girei a maçaneta congelante. Uma sala quase vazia e cheia de mofo foi o que eu vi quando entrei, com a arma de prontidão, eu vasculho o apartamento

Um cheiro forte de baunilha entra no meu nariz e eu fico tenso
Um silencio paira no ar
Como se alguém tivesse prendendo a respiração
Imediatamente eu penso em Madeleine e aquele maldito cheiro de baunilha

—Eu sei que você está ai. Não adianta se esconder.- eu falo, caminhando lentamente no corredor que leva até os quartos

Sem sinal de resposta
A minha ansiedade estava quase explodindo meu peito
Meus olhos tentam se acostumar com a penumbra, tinham que estar alertas

Até que um sinal foi dado. Escutei uma panela caindo. Foi apenas em dois segundos, que pude escutar os passos violentos, tentando fugir. Corri a frente desses passos, quando mirei as costas do homem prestes a sair pela porta
Ele sente a arma nas costas e levanta as mãos, frustrado

—Por favor...eu juro que vou pagar! Só preciso de mais um tempo...

Eu o interrompi

—Eu não sou cobrador. Eu apenas executo. Se me mandaram aqui, foi pra ser curto e direto. Não há negociação.

Ele ajoelha ainda de costas pra mim, chorando

—Não me mata, por favor...

Não há tempo para chorar
Pois o disparo o faz cair no chão, sem vida.

Observo o corpo dele. Sem reação. Não senti nada. Absolutamente nada.

Novamente o cheiro de baunilha aparece e eu olho ao redor

—Quem está ai?- perguntei, mirando no corredor

Nada como resposta

Eu balancei a cabeça, afastando aqueles pensamentos. Era só coisa da minha cabeça.
Todo esse tempo eu via coisas que não eram reais, frutos de uma mente fudida que nem a minha

Christopher (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora