o caos

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—Consegue me escutar? Já faz um tempo que eu estou aqui. Eu consigo sentir você, então eu suponho que você também...-coloco o queixo sobre as mãos, encima da cama e o observo, se ele faz algum movimento ao me escutar

Mas ele parece imóvel

—Assim você até parece indefeso, o que não é uma mentira. Já que você levou um tiro...- eu desvio meu olhar para minha mãe, desacordada.

Suspirei, com um ar melancólico

—Eu preciso de você. Isso não é uma novidade, nem pra mim, nem pra você. No final das contas, terminamos sempre aqui, juntos...então, acorde.

Eu toco sua mão e num movimento rápido, ele mexe um dos dedos

Antes que eu pudesse reagir a isso, um barulho de tiro me assusta
Eu levanto rapidamente da cama e tento escutar através da porta

Um silêncio
Nada
Ninguém falava nada!

—Não posso sair sem saber o que é...- eu respiro fundo, nervosa.- Droga, que merda aconteceu?!

Eu me concentro em escutar algo, meu ouvido está colado na porta de madeira velha. Eu tento acalmar minha respiração, para conseguir o máximo possível, até que eu percebi uma frequência diferente de respiração. Como se alguém tivesse respirando comigo.

Eu prendi o fôlego, foi quando ouvi alguém colado através do outro lado da porta.

—Se você não abrir a porta, todos aqui fora vão morrer. É uma escolha simples, querida.  Uma vida pela de vocês.

Aquela voz estridente atravessa o quarto inteiro, calma e serena. Tanto que me causava náuseas, sem qualquer tipo de emoção.

Era uma escolha fácil, pelo menos era pra ser.
Eu concentro meu olhar em Christopher
Eu não entendia o que me prendia a ele, o que me fazia acreditar que não podia simplesmente matá-lo

Mas eu não podia deixar mais ninguém morrer
Eu tinha que tentar
Sem violência
Tinha que dar certo

Eu suspirei, criando coragem. Fui até a porta e girei a chave, devagar. Me afastei da porta e, instintivamente, fechei os olhos, pensando em tudo que eu devia fazer.

Eu escuto a maçaneta girar devagar e a porta chia quando foi aberta

—Que bom vê-la denovo.

Eu abro os olhos, era quase impossível não voltar à minha infância toda vez que eu o via. Era difícil aceitar que ele estava fazendo aquilo. Meu tio Fernando.

—Então era verdade mesmo, vocês combinaram tudo isso. - eu falo, com o coração despedaçado. Mesmo sabendo desde o início, que era uma armadilha, trazer todos para o mesmo lugar, achando que estávamos seguros, para poder atacar quando estivéssemos vulneráveis. Ainda sim, era difícil sentir o peso da traição.

Ele aponta uma arma em minha direção

—Você não nos deu escolha, querida.

—Eu dei sim. Eu perdi muita coisa, tio. Muito mais do que você imagina. Mas ainda sim, eu escolhi ser melhor. Não posso julgar sua dor, ninguém pode julgar a dor de ninguém, só quem vive sabe o peso que carrega. Eu não tô te pedindo pra perdoar, porque isso vai muito além, isso vem de dentro...o que eu estou te pedindo é que não gere mais sofrimento, acabe com o ciclo! Se você matar ele, alguém vai querer vingá-lo, se alguém te matar, alguém vai querer vingá-lo ! Isso não tem fim! Então, por favor, encerre isso.

Christopher (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora