e agora?

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O rosto dele cobriu minha visão. Antes o céu estrelado cobria meus olhos, mas agora eu sentia uma gota de sangue no rosto. Seu olhar preocupado, sua boca mexia, balbuciando alguma coisa, que eu não conseguia ouvir. Mas eu conseguia entender, ele gritava por mim, pelo meu nome.

Ele segura suas mãos entre meu rosto, suas mãos geladas e úmidas afagam minhas bochechas inertes. Ele me puxa para o encontro do seu peito, quente, afável, aliviado.
Foi aí que finalmente pude escuta-lo.

—Madeleine, me escuta. Por favor. Fala comigo.- ele mexe sua mão suavemente pelos meus cabelos, enquanto aperta meu corpo contra seu peito. Estamos sentados no chão de terra, presos naquela noite fria e turbulenta.

Eu vejo o tempo passar entre os batimentos cardíacos de Adam. Sua respiração pesada e constante me acalmavam. Eu sabia o que tinha acontecido, mas parecia não ser real.

— Ele...ele morreu, não foi? - eu engulo em seco aquelas palavras quase impossíveis.

Desde tudo que aconteceu, nunca imaginei que pudesse viver num mundo onde ele não existisse mais...por que eu não sentia nada?

Adam demora a responder e eu sinto ele tensionar. Me afasto do seu peito e encaro seus olhos vermelhos.

Ele assente, abaixando o olhar.

—Sim. Ele morreu.

...

E agora?

Isso rodeava meus pensamentos enquanto via o amanhecer através do vidro do carro. As paisagens tropicais e vividas do Havaí eram um sonho pra qualquer viajante. Mas infelizmente eu não estava ali para isso. Aonde quer que eu fosse, tudo parecia nublado e sombrio.

Na verdade, eu me sentia vazia.

Um choro me desperta, suspiro ao lembrar do que ainda vem pela frente.

—Para aqui. Eu vou descer. - ordena Aaron, que segura o bebê nos braços no banco de trás.

Adam está dirigindo o carro e me olha esperando uma resposta minha. Eu viro para confrontar Aaron.

—O que é isso? Estamos no meio do nada. Você não pode ficar aqui. - digo secamente.

—Eu não vou a lugar nenhum com vocês. O que planeja? Que eu volte pra minha vida de antes? Que magicamente eu ressuscite e a polícia aceite? Eu não posso voltar, e nem quero. - a bebê chora ainda mais forte e eu sinto minhas têmporas latejarem.

Obviamente eu não queria que Aaron voltasse comigo, eu não sabia exatamente o que fazer, mas a minha mãe estava morta e ela pediu que eu cuidasse da criança, não podia deixar que Aaron ficasse nesse país correndo risco junto com a criança.

—Você não pode ficar aqui, mesmo que Heitor tente acobertar as coisas, ainda tem o Hulu que está nos rastreando, pense na sua filha!

Ao escutar seu nome, Heitor se distrai da sua ligação. Ele me lança um olhar questionador, mas logo volta sua atenção para o telefonema no qual fala um idioma que não reconheço.

Desde que saímos de lá, ele sequer se dirigiu a mim. Parecia distraído, inquieto. Ele era apaixonado pelo Chr..., por ele. Devia estar sofrendo muito.

E eu mal conseguia pensar no seu nome.

—Para a porra do carro! - Aaron grita e faz com que Adam freei bruscamente.

Christopher (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora