Será?

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Meus olhos ardiam

Ah, como ardiam

Eu sabia que tinha que parar, mas eu não conseguia. Estou afundando nos meus lençóis, suando frio. Na mão direita eu segurava uma garrafa de vodka, na outra eu segurava o controle remoto. O quarto só havia um barulho, o som da voz dela.

Eu apertava mais os olhos, tanto pelo ardor quanto pela experiência de sentir ela comigo.
Era uma tortura que eu fazia questão de sofrer
Um documentário gravado na escola e ela foi entrevistada

Qual seu prato favorito?

Ahn...pizza!- ela ri pra si mesma

—Como você é previsível, garota. - eu desdenho dela, tomando outro gole ardente

O que voce está achando do seu ensino medio ?

Hum...-ela olha para um ponto qualquer, até que uma voz masculina fala atrás da camera e ela o encara com um sorriso idiota. - Está indo bem, na medida do possível.

O que quer dizer com isso?

Ah...as vezes as pessoas podem ser cruéis demais. Mas tem outras...que vale a pena a ser feliz.

Ela encara a câmera, quase como se conseguisse me ver.

—Por quem você é feliz agora, Madeleine?- eu a respondi, lançando palavras no ar

Um silêncio constrangedor paira no video, ela ri para tentar aliviar o clima

Eu sou feliz pela minha familia, pelo meu namorado, pelos meus amigos. Não acho que haverá algo que vai mudar isso.

Como um soco no meu estômago, foi aquilo que significou aquelas palavras

Meus olhos agora pegavam fogo, eu aperto eles com força. Sentindo um aperto no peito, uma dor...
Eu jogo a garrafa contra a parede, o vidros se espalham junto ao liquido
Meu grito é de desabafo, eu grito, grito até meu ar ir embora do peito.

Enquanto o mundo gira, enquanto eu agonizo naquela cama, a risada de Madeleine é a minha música de fundo. Seu riso sincero, doce, feliz. Como ela nunca mais teria, como eu tirei isso dela.
Sorria de mim, pequena
Eu quero morrer ao som do seu riso

...

—Chris!!!!!!Acorda!

Pequena mãos empurram meu corpo de um lado para o outro, na cama.
A claridade me incomoda, a dor de cabeça me impede de ficar muito tempo de olhos abertos.
Mas o suficiente para ver a Rosquinha encima de mim

—Onde você se enfiou, garota?! Aí...- eu levo a mão até a testa, meio tonto

Rosquinha nega com a cabeça, meio chateada

—Quando meu pai bebia assim, eu tinha que ir embora. Senão sobrava pra mim. - ela pega as garrafas que estavam envolta de mim

Eu a observo, intrigado. Era difícil admitir, mas eu estava bem por ela ter voltado, sua presença era quase um alívio.

Desde o dia que briguei com Heitor as coisas apenas pioraram pra mim. Além de me sentir preso em amarguras, eu tinha agora que conviver com novas mágoas, novas angústias e a Rosquinha era uma delas.

—Por que você sumiu? - eu a perguntei, com leveza. Não queria mais assusta-la

Ela suspira, girando os dedos no lençol. Distraída.

Christopher (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora