durma um pouco

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—Ja faz quantas horas? - eu perguntei, inquieta

Adam me observa, aflito comigo

—Quatro.

—Ele já devia ter acordado.- respirei fundo

—Por que está tão aflita?

Eu arqueio a sobrancelha. Que pergunta! Estávamos num campo minado, prestes a explodir a qualquer momento

—Por que você acha? Você não conhece o que restou da minha família. Na verdade, tem uma ideia, meu tio atirou em mim e minha mãe passou por cima dele com um carro. O que você acha disso?

—Acho que vocês precisam de terapia.

Eu suspiro e sento na beira da cama, observando um ponto vazio

—Tem coisas que não dá pra reverter.

—Duvido muito. - ele fala, com certo entusiasmo

—Por que você diz isso?- perguntei

—Nem tudo é 8 ou 80, tem como achar um meio termo

—Não existe meio termo quando se toma decisões extremas! - aumento o tom de voz, esqueço por alguns instantes que ele não podia fazer ideia de tudo que já tinha passado

—Existe meio termo quando o outro lado se arrepende!

—Que merda, Adam! Que porra você tá fazendo?- grito com ele

Mas ele respira fundo e observa o teto, tentando achar a resposta para mim, de forma paciente

—Tentando mostrar pra você que...tem salvação.

—O que tem salvação? Olha em volta. Ações geram consequências, os seus pais foram uns monstros e quem pagou por isso não foi apenas vocês, mas eu também e todo mundo que está em volta!

Ele fica em silêncio
Como se o tivesse atingido em cheio.
Droga
Não era assim que eu queria resolver as coisas, não queria mais ninguém ferido

—Eu...sinto muito. Não queria machucar você. - abaixo os olhos

—Essa é uma parte da minha vida que eu só quero esquecer. Mas não posso negar que aconteceu e por muito tempo eu senti raiva dele...— ele olha para Christopher— Por ter me deixado, por ter deixado a gente sofrer por tanto tempo...mas eu nunca vou saber o fardo que ele carregou por todos esses anos, ele carrega o sangue de quem ele nunca quis matar. Mas fez isso por nós. Por mim. Eu não posso falar por ele, mas até você já sabe disso.

—O que?- perguntei

—Ele não sente mais raiva, ele não sente mais essa sede de vingança. Ele só sente culpa. Uma culpa que tá matando ele aos poucos.

—Eu já o perdoei. Ele não precisa mais sentir isso.

— Você pode ter o perdoado, mas para que você pudesse seguir em frente. Não ele. Naquele momento, ele não quis o seu perdão, então ele nunca poderia seguir em frente

Eu observo seu corpo inerte, um pequeno corte seguia da testa até a altura do olho esquerdo. O tronco coberto por uma faixa branca, já estava dando sinal da marca da bala.

—Voce tá querendo dizer que eu preciso perdoa-lo denovo?

—O que eu quero dizer é que ele precisa te pedir perdão.

Eu dou um sorriso debochado só em pensar nessa possibilidade

—Isso nunca vai acontecer. - digo a ele

—Não subestime ele.- ele fala com confiança

Era impressionante a confiança que ele tinha no irmão

Christopher (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora