Cap. 33 - Sinônimo de amor é amar

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"Pegue para você o que lhe pertence, e o que lhe pertence é tudo o que sua vida exige. Parece uma vida amoral. Mas o que é verdadeiramente imoral é ter desistido de si mesma."

Clarice Lispector

Os olhos verdes brilhavam a luz das tochas que iluminavam aquele momento em família. Helena estava radiante dançando descalça junto a Kelly. A roda de capoeira se desfez apenas para que a de Lundu voltasse a se formar, e dessa vez Helena se permitiu se deixar levar por aquele ritmo contagiante.

Segurando a barra do vestido, a morena movia seu corpo em movimentos ondulares de grande volúpia, lascivos e lúbricos, com um certo rebolar e maneios de seus quadris, exalando uma sensualidade que hipnotizava um certo alguém, que seguia cada movimento da mulher que dançava alheia aos olhos azuis fixos em si.

Quando os olhos verdes miraram os azuis, Helena se viu mordendo o lábio inferior tombando a cabeça para o lado enquanto deixava seu lábio escorregar lentamente, o libertando da mordida, e sorriu sacana ao perceber o quanto Karla a olhava com cobiça.

Levada pelo ritmo, a morena se aproximou da loirinha, tendo seus olhos fixos nos dela e uniu suas mãos, numa sequência de palmas, convidando Karla a dançar com ela.

Aceitando o convite, Karla investiu sobre Helena, indicando o desejo de envolvê-la em seus braços. Com uma risada alta, Helena recuou tendo a loirinha a seguindo. Movendo seus corpos com uma sincronia ímpar, sob o som de batuques, as mulheres simulavam um ritual de amor, envolvendo-se, provocando-se, num jogo de sedução...

¥¥¥

Calor...

Helena rolava em sua cama de um lado para o outro sentindo seu corpo totalmente acordado, e acabou por fechar os olhos respirando profundamente.

"Karla é certinha demais para tomar a atitude, a mulher foi criada por freiras! Céus! Se queres, então vá e a mostre, porque ela a respeita priminha, e jamais dará esse passo sem a sua permissão."

A voz de Andréa ecoava em sua mente. Havia buscado conselho em sua prima, e lá estava a mulher lhe instigando a lutar pelo que queria. Sim, Helena queria mais de Karla.

- Inferno! – Esbravejou.

Já ia tarde pela madrugada, faziam horas que as comemorações haviam acabado, e ela ainda sentia o colar do corpo de Karla.

- O que tinhas na cabeça para dançar daquela forma! – Se amaldiçoava, mas era inevitável. Não era mais dona de si, nem de suas vontades, Karla a tinha por completo, ou quase.

Suspirou...

"Se a queres, então vá e a mostre..."

O conselho de Andréa voltou a sua mente...

¥¥¥

O som de batidas em sua porta, foi o que trouxe a loirinha de volta a si. Karla havia desistido de dormir, e contemplava o céu por através da janela de seu quarto, que jazia aberta.

Piscou os olhos franzindo o cenho, quem havia de ser?

Com passadas confiantes, a mulher adentrou pelo quarto, enquanto Karla voltava a fechar a porta.

- Lena, o que fazes aqui em tão tarde hora? Acaso sente-se mal? - Karla a olhava apreensiva.

- Uma vez, vós me pedistes desculpas por eu ter sido obrigada a me unir a ti. – Helena falava num tom baixo ainda de costas para Karla. – Hoje percebo que não fui obrigada a nada, porque vós sois o que sempre quis em minha vida.

Lies | SupercorpOnde histórias criam vida. Descubra agora