Música on: "I'll Never Love Again" (Lady Gaga)
Os olhos castanhos acompanhavam o navio deixar o porto, e ganhar as águas da Baía da Guanabara rumo ao velho mundo. Mas ela não iria, tinha de ficar. Alexandre estava ali, e não o deixaria dessa vez. Nunca mais o deixaria.
Samantha caminhava pelas ruas da província sentindo a chuva fria que caía em garoas, molhar seus cabelos sem se importar. Empurrou o pesado portão, entrando no que era o fim para todos os sonhos, planos. Onde todo orgulho, fortunas e preconceitos terminavam. Enterrados.
O Cemitério de São João Batista era uma necrópole de jazidos imponentes com mausoléus ostentosos, mostrando a quem fosse, que ali estava a "elite brasileira". Karla havia lhe entregue as orientações de onde Alexandre estava. Otto havia pedido ajuda as freiras, que de bom grado, lhe cederam um "pedaço de chão". Alexandre descansaria com as santas freiras imaculadas.
A passos lentos, ela se aproximou, sendo dominada pelo pranto, quando leu o que havia na lápide, e compreendeu o porquê de as irmãs terem sido tão solícitas.
"Hic est Chris Price Danvers. Dilectus meus, et soror mea filia."
- Aqui jaz Karla Price Danvers. Amada filha e irmã. – Samantha leu o que continha escrito na fria e escura pedra de mármore que cobria o bonito túmulo. E foi impossível se conter. Jogou-se por cima da sepultura molhada pela chuva, que agora caia em grossas gotas, e chorou como nunca.
Alexandre havia sido sepultado como se fosse Karla. Sim, para todos, Karla estava morta. Mas para Samantha... quem havia morrido, era ela, no exato momento em que não lutou por seu amor. Em que o deixou ir.
- Queria poder ter dito adeus... eu teria dito o que eu queria, se eu soubesse que seria a última vez... ah, Alexandre... – A mulher se lamentava, sentindo seu coração doer. -Eu teria partido meu coração em dois, tentando salvar uma parte de ti, meu amor... não quero sentir outro toque, não quero conhecer outro beijo, nenhum outro nome sairá de meus lábios. – Samantha soluçava enquanto falava, acariciando a fria pedra, como se fosse a face que tanto amou, e sempre amaria. - Não quero entregar meu coração para outro estranho, não, eu nunca vou amar de novo, Alexandre, eu nunca vou amar de novo...
A alguns metros dali, oculto em meio as árvores, alguém observava a mulher que fazia juras de amor deitada encolhida sobre um jazido de mármore. E inclinou a cabeça curioso.
- Quando nos conhecemos, eu nunca pensei que me apaixonaria. – Samantha riu da lembrança daquele dia. De como achou Alexandre galante, garboso e pretensioso. – Ah, Alexandre, eu nunca pensei que me encontraria deitada em seus braços. – Negou com a cabeça, se erguendo para encarar a foto de Karla. - E eu quero fingir que não é verdade, oh amor, porque foi sem mim? Porque meu mundo continua girando e girando e girando, e eu não estou seguindo em frente. Eu não posso sem ti. E eu não quero entregar para outra pessoa minha melhor parte, eu prefiro esperar por ti. Eu vou esperar por ti...
VOCÊ ESTÁ LENDO
Lies | Supercorp
FanfictionBrasil, 1886. Em meio ao progresso ferroviário, a pressão inglesa e aos movimentos abolicionistas, duas famílias firmam um acordo vantajoso para ambas. Helena (Lena) e Alexandre (Alex) iriam se casar. Envolto a trocas de cartas, tramas e complos, u...