Kelly abriu os olhos com dificuldade sentindo todo seu corpo reclamar ao mínimo movimento. Experimentou falar umedecendo os lábios com a língua, mas tudo que saiu foi um suspiro dolorido. Mãos tocaram suas costas à fazendo fechar os olhos novamente. Algo pastoso e frio, com cheiro forte, foi espalhado por suas costas levando alívio ao lugar que queimava em brasas.
- Minha criança... – Quitéria suspirou enquanto espalhava o emplasto de ervas, uma mistura de Bálsamo e Babosa, pelas feridas abertas nas costas de Kelly. – Minha pobre e indefesa criança... – A negra tinha os olhos vermelhos e inchados, o rosto molhado pelas lágrimas. Quitéria trazia no rosto as marcas de uma vida sofrida. Suas rugas contavam verdades, seus olhos viam além, seus lábios quadravam segredos e seus cabelos brancos entregavam sua idade, assim como sua postura entregava sua origem nobre. Uma princesa africana arrancada de sua terra, mas nunca deixou de ser filha de reis terrenos e espirituais.
- Atotô! Obalúwayé... Oluwa imularada, baba mi, itọsọna mi, ipilẹ mi. Pa awọn ọgbẹ duro, mu irora ọmọbinrin rẹ kuro. baba mi, mo bẹbẹ rẹ ... Silêncio! O rei que é senhor da terra... O senhor da cura, meu pai, meu guia, minha essência. Feche as feridas, tire as dores da sua filha. oh, meu pai, eu te peço...
Quitéria orava a seu orixá aos sussurros em ioruba, sua língua mãe, de olhos fechados passando o xaxará, uma espécie de bastão, pelas costas de Kelly que no mesmo instante sentiu o corpo relaxar e um sono profundo a abraçar...
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Música on: "Fight Song" (Rachel Platten)
Os olhos azuis passeavam pelas letras, sem que realmente estive compreendendo o que estava escrito. Suspirou fechando os olhos, ao reabri-los, os perdeu mirando longe pela janela do escritório. Não havia conseguido dormir. Nunca tinha presenciado tal ato. O odor estava impregnando em si, bem como a imagem de Kelly sempre vinha aos seus olhos toda vez que os fechava. Fechou o livro com força, o deixando na mesinha que estava ao lado, se levantando da cadeira em que estava sentada.
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Lies | Supercorp
FanfictionBrasil, 1886. Em meio ao progresso ferroviário, a pressão inglesa e aos movimentos abolicionistas, duas famílias firmam um acordo vantajoso para ambas. Helena (Lena) e Alexandre (Alex) iriam se casar. Envolto a trocas de cartas, tramas e complos, u...