Capítulo 12 - Apaga esse fogo!

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Liam


Eu tentei, eu juro que tentei trocar de dupla para o laboratório de química, mas o professor negou veemente, dizendo que todas as duplas estavam formadas, que não tinha sobrado ninguém, que isso ia ser bom para a interação entre os alunos e blábláblá. Porra! Que azar!

Antes de sair da sala, Eric ainda passou por mim e disse: "relaxa, bonequinha, é só uma dupla de laboratório". Relaxar?! Como eu poderia relaxar tendo que aguentar ver a sua cara tão próxima à minha até o fim das aulas? E ainda me chamou de bonequinha, para completar!

Bonequinha é caralho!

Eu teria dado uma resposta bem malcriada a ele, se o professor não estivesse lá.

Se o Pateta não tivesse cuidado, eu juro por Zeus que jogaria ácido na porcaria daquele rostinho, enquanto estivéssemos no laboratório. Até porque, ontem, passei o dia inteiro pensando em como ia ser tudo isso. Eu sei que não deveria pensar nele, porque, droga, não tinha coisa pior do que pensar nele.

Na verdade, eu não estava pensando nele.

Eu estava pensando na situação que ele estava envolvido.

E isso era bem diferente. Eu não passaria o dia pensando no Eric, ora.

Ele disse para eu relaxar, mas eu tinha certeza de que nem ele estava relaxado. Eu vi muito bem a cara que ele fez quando leu meu nome no papel. Travou total. Provavelmente devia ter pensado que eu ia me aproveitar dele e não ia fazer nada, deixando todo o trabalho nas suas costas. Isso não era um equívoco da sua parte, porque eu ainda não sabia nada de química. Mas, ontem, sentei a bunda na cadeira e, milagrosamente, passei a tarde estudando.

Não queria parecer um completo tapado no laboratório. Até porque estava cansado de ter passado a vida toda ouvindo meus pais, meus amigos e todas as pessoas da face da Terra dizendo que o Eric era esperto, o Eric era inteligente, o Eric era isso, o Eric era aquilo, e que eu deveria seguir o exemplo dele. Saco! Isso me lembrava um dia em que meu pai faltou arrancar o meu couro, quando eu tinha uns dez anos, porque tinha tirado nota baixa.


...


Naquela manhã, acordei cedinho, para aproveitar meus poucos minutos de paz, antes que o Eric abrisse os olhos. Ele tinha ido passar o sábado e o domingo na minha casa, para brincar com a Molly. Os piores finais de semana eram quando ele estava aqui. Eu não tinha paz, sério. Ele ia para ficar com a Molly, mas ficava o tempo inteiro me perguntando: "Liam, vamos brincar? Liam, vamos apostar corrida? Liam, vamos jogar um pouco no seu videogame? Liam, eu trouxe meus carrinhos, vamos brincar? Liam, vamos jogar bola?"

Não, não, não e não.

Por alguns momentos, eu até cheguei a pensar que ele tivesse probleminhas mentais, porque parecia que não entendia que eu não queria brincar com ele. Não queria! Isso era difícil de entender ou eu precisava desenhar? Era um saco. Por isso, acordei cedo e liguei, de fininho, meu videogame. De fininho mesmo, porque mamãe insistiu em colocá-lo para dormir no meu quarto, em uma cama ao lado da minha. Nem privacidade uma criança de dez anos poderia ter. Eu heim.

Olhei para o lado e vi que, graças a Deus, ele estava dormindo mesmo. Assim, mais relaxado, liguei o videogame, deixei a televisão no mudo, me sentei para começar a jogar e...

— Liam Wyman Tremblay Terceiro! Desça aqui agora! — ouvi a voz raivosa do meu pai me chamando. No mesmo instante, senti um calafrio percorrer toda a minha espinha.

Jogada de MestreOnde histórias criam vida. Descubra agora