Capítulo 1 - Patolino

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Dez anos atrás

Eric


Era uma manhã fresca de outono, quando eu brincava com meus carrinhos, em um pequeno parquinho, que ficava no jardim da casa dos meus padrinhos. Aquele dia era o aniversário de sete anos da Molly e o local estava abarrotado de crianças que corriam de um lado para o outro.

Enquanto segurava o brinquedo entre meus dedos e deslizava as rodinhas pela grama, eu me sentia completamente imerso naquele passatempo e me divertia, principalmente, por poder estar com outras crianças. No entanto, apenas uma coisa suplantava o meu divertimento: aquela pequena e odiosa vozinha que Liam usava quando queria tirar minha atenção de algo.

— Ei, tampinha! — gritou da varanda, fazendo-me virar o rosto e encarar seu típico porte soberbo e superior que carregava consigo desde criança. Ele era insuportável, o que me levava a questionar o porquê de tentar ser seu amigo. — A mamãe tá chamando! Hora de cortar o bolo da Molly! Vem logo, mané!

Oh não, ele havia me chamado de tampinha e eu tinha uma completa aversão por quem falava assim comigo. Por que aquele idiota insistia em me chamar de tampinha? Uma tremenda injustiça, já que eu era somente alguns centímetros menor que ele. Eu odiava ser chamado de tampinha.

— Já vou, Patolino! — gritei de volta, revirando os olhos, levantando-me da grama e batendo a poeira da minha bermuda. Meu rosto não escondia o desconforto que sentia por terem pedido que ele me chamasse para se juntar ao bolo no momento dos parabéns. Afinal, quanto menos tivéssemos contato, melhor era para mim.

Ergui o rosto e comecei a caminhar indo em direção ao local onde haviam organizado uma mesa com os doces, os salgados, os enfeites e o bolo. No entanto, à medida em que eu ia me aproximando, pude perceber o exato instante em que Liam moveu seus lábios, pronto para soltar mais um insulto, não fosse por Tia Claire, que apareceu e tocou em seu ombro.

— Pateta. — Não ouvi sua voz, mas pude fazer uma leitura labial daquilo que teria proferido, caso sua mãe não houvesse surgido. Obviamente, o idiota ficou com medo de levar um sermão, acompanhado de um belo puxão de orelha, pois minha madrinha sempre me defendia, o que causa nele ainda mais revolta para comigo.

Nós tínhamos o costume de nos chamar assim, Pateta e Patolino, apelidos tão imbecis quanto nós mesmos, graças à um episódio que ocorreu em sua residência nos costumeiros finais de semana em que meus pais me deixavam brincar com sua irmã. Disputávamos até por qual desenho veríamos na televisão e, por conta de uma corriqueira briguinha, findamos por nos intitular assim.

Liam era o pior menino que eu havia conhecido em toda a minha vida de curtos oito anos de idade. Por que minha mãe tinha de ser melhor amiga da mãe dele? Por que ela a escolheu para ser minha madrinha? Eu adorava a tia Claire, mas o filho dela era um estúpido. Nunca brincava comigo, nunca me emprestava seus carrinhos, nunca me deixava usar seu videogame, nunca jogava bola comigo.

— Eric, querido, Molly está só esperando por você! — Tia Claire, mãe do Liam e da Molly, bem como minha madrinha, chamou-me com habitual tom gentil e simpático, estampando um lindo e branquinho sorriso em seu rosto. Ela era tão encantadora quanto a minha mãe.

— Estou indo, madrinha! — respondi, apressando o passo e quase correndo pelo jardim, deixando para trás meus carrinhos no parquinho e alcançando a área onde todos já estavam reunidos para cantar os parabéns. Era uma casa imensa, mas, ainda assim, farta de pessoas.

Ao chegar à parte do jardim onde estava acontecendo o aniversário, logo ouvi uma voz doce e sutil, chamando-me incansavelmente. Não era preciso ao menos me virar para saber quem era a dona daquele adorável timbre, pois já a conhecia bem demais: Molly.

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