Capítulo 15

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Taehyung

As coisas não melhoram em nada. Um problema foi resolvido, mas outro surge e toma minhas forças mais uma vez. Me pergunto quando terei o mínimo de paz. 

O desequilíbrio na casa dos Kim se foi junto ao relacionamento de Jungkook e Jimin há semanas atrás. Mas também é o que me desequilibra agora. 

De alguma forma, saber que Jimin não tem mais alguém com quem dividir anéis de ouro me faz repará-lo bem mais do que já fazia. E seus passos não me são somente mais doces, sua voz me acalma e me devolve o equilíbrio que me é extraído durante todo o dia em que sinto os olhos queimando minhas costas. 

Isso é errado. Como é errado... Tenho uma promessa a cumprir, mas se Jizzy soubesse o quão difícil isso pode se tornar... e vem se tornando.

Isso é o que me esgota.

Além do que ainda ecoa em minha mente, rebatendo nas paredes vazias de outros pensamentos. Pulsando em um eco infindável. 

Jung Hoseok.

" Mas pode me chamar de Hobi. É como me chamam os amigos."

O sol se punha ao longe. Podia imaginá-lo alcançando o topo das montanhas para mergulhar em seu precipício; se enterrar ao fim dos batimentos acelerados de mais um dia cheio para todos nós. Acreditava, desde pequeno, nas lendas que diziam ser o por do sol a ponte de contato dos vivos e o mundo dos espíritos, então, por mais que somente a imaginação me estivesse disponível para prever o momento exato em que o astro daria o lugar soberano à luz pálida da lua, me plantava em frente às janelas do "hotel prisão" e esperava, pacientemente, para enviar meus pedidos de desculpas aos que sucumbiram ao último suspiro por minhas próprias mãos. De qualquer forma, achava pouco provável que, mesmo me ouvindo, houvesse alguma possibilidade de redenção para mim. 

Aquele era o início, dois dígitos tomavam espaço entre minha cabeça e meu peito. A emoção de ter o poder que nunca tive antes ainda queimava em minhas veias, e por mais errado que soubesse ser, era reconfortante se sentir digno, depois de uma vida tão limitada, de exercer o controle entre quem continua respirando e quem deixa a vida.

As ordens vinham de cima, dos que apontavam o caminho para os mais proveitosos e, aparentemente, proveitosos. O convite era uma oferta de Regs, dos originários que respiravam em meus cabelos, prontos para me vetar assim que se mostrasse minimamente viável. Mas a escolha foi minha. A vontade era minha, e se tornava força sempre que chegava aos meus dedos, quando me davam permissão para desfazer a anatomia de cada testemunha - no lugar errado, e na hora errada -, e dos que se recusavam a nos seguir. 

O sorriso sempre persistia, mas ao fim sempre preferia pensar que  era somente para que meus olhos se fechassem, limitando a visão da cena que eu mesmo causei. Para que meu nariz não se retorcesse pelo cheiro ardente do sangue que sujava minhas roupas por maior que fosse a distância. Por mais que preferisse acreditar em algo, porém, não era capaz de me livrar do sentimento de soberania que sempre me tomava, e não podia simplesmente negar que aquilo também fazia parte de mim. 

Foi o auge de minha passagem por Regs. A época em que meu nome foi esquecido pelos novatos, me chamavam de O intocável. 

Em mais um fim de tarde, imaginando como seria o por do sol. Foi quando me permiti cometer meu maior erro mais uma vez. 

Passos arrastados, logo depois das dobradiças velhas reclamando a porta ao se abrir, denunciaram sua chegada tal como o cheiro de iguarias e o farfalhar das sacolas contra a superfície de um dos poucos móveis deploráveis daquele lugar. 

Icarus - Asas De Cera | TaekookMin (FINALIZADA)Onde histórias criam vida. Descubra agora