Icarus - Asas De Cera | TaekookMin (FINALIZADA)

Capítulo 27

Jungkook

Min.

É engraçado tratar Yoongi pelo sobrenome. O faz parecer mais humano. Quase tão real quanto eu, e Jimin, e Taehyung... Diferente de quando o tratamos pelo título medonho, que mais serve de aviso e alerta do que qualquer outra coisa.

O grande e temido Sicário Âmbar já foi, na verdade, um garoto comum. Um garoto como eu, que amava as mesmas bandas que eu, e queria viajar o mundo³... Isso me lembra uma música. 

Ele tinha sonhos. Tinha deveres como colocar o lixo para fora, exatamente como qualquer pessoa comum. Era rebelde como qualquer adolescente, mas aí também estava sua nuance em meio aos outros de sua idade.

Yoongi nunca foi de companhias. Não costumava confiar em ninguém, não depois de tantas decepções, e a própria sombra pareceu ser o melhor a se manter por perto. É claro que amava sua família: sua mãe, seus dois irmãos mais novos que sempre nadavam grudados em seus calcanhares - o pai morrera, vítima do vírus recém surgido -; mas o tempo em que não estavam juntos, era o seu favorito.

O silêncio da relva em torno da casa pequena onde morava, próxima ao rio de onde vinha o frio que fazia seus pés congelarem durante as noites gélidas. Tratava a própria casa como um paraíso, e se perdia na mata durante as tardes em que não tinha companhia, fazendo o próprio caminho para mapear cada centímetro possível e todas as maravilhas que carregavam consigo.

Yoongi gostava de observar as coisas do topo das árvores, e foi em um dia sobre os galhos altos da copa de um dos maiores carvalhos que ele descobriu uma grande admiração pelos pássaros. Desde a engenhosidade de seus ninhos, até a forma como sabiam usar cada uma de suas penas para alçar vôo e se manter tão próximos dos céus, eles o pareciam fascinantes demais para serem apenas mais um detalhe da natureza. Foi quando se tornaram companhia a mais além da própria sombra, muito bem aceita.

Perdia seu tempo observando os animais alçando vôo e alimentando seus filhotes, a banhando no rio sempre que a calmaria o preenchia com um sopro de paz.

Foi voltando para casa, depois de mais uma de suas expedições, que ele encontrou o envelope sob o tapete vermelho que desejava boas vindas. As letras com seu nome o fizeram estranhar e então não houve um grande evento para abrir o que, na verdade, era o convite para o maior evento de toda a sua existência: uma guerra.

Ele se despediu da família na semana seguinte, não se permitiu chorar diante os irmãos mais novos ou da mulher que os criou tão fortemente, mas também não os prometeu seu retorno. Enfiou os pôsteres, velhos e úmidos pelo frio das paredes de seu quarto, na mochila; calçou seu melhor par de tênis e pendurou no pescoço o velho terço que, um dia, pertenceu ao seu falecido pai. Uma foto velha da família foi dobrada ao meio, guardada sem cuidado entre as notas de dois na carteira furada, porque ele não podia se apegar àquilo; não podia se dar ao lixo de se apegar à esperança de um retorno.

A alinhou às tropas, e fez amizade com um dos poucos homens que não o olharam torto por se manter distante. Trabalhou sua lealdade, e no fim se tornou um soldado de confiança para liderar uma das tropas que saíram para um embate com o exército inimigo. Foi quando aconteceu: Yoongi viu os pássaros mortos sobre a grama seca, e foi como se pudesse pressentir o que estava por vir.

Ele fechou os olhos e respirou fundo, e mesmo sabendo que a morte o aguardava marchou à frente, ao lado de seu único confidente naquele comboio de corpos carregando nada além de medo e angústia.  Mais ninguém saberia, era um segredo entre os dois, o que fizeram na noite anterior em seus breves momentos de paz; ninguém saberia das promessas que fizeram. Mas duas pessoas só mantém um segredo de uma estiver morta, e Yoongi se culpou por isso quando se aproximaram mais dos limites da floresta morta e foram pegos em uma emboscada. Ele se culpou por não ter sido atento o suficiente; e depois por ter feito com aquele garoto o seu segredo, porque sentiu como se o tivesse condenado à morte para enterrar aquilo que não queria que mais ninguém soubesse sobre si.