Capítulo 29

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Taehyung

- Não olhe para mim assim. - Foi a primeira coisa que ouvi quando finalmente consegui abrir os olhos outra vez. - Não o teria salvo se minha garganta não estivesse em risco. - O reconhecia de algum lugar. O reconhecia do prédio na noite de minha fuga: o garoto das esferas explosivas. - Cá entre nós... - Ele sussurrou. - Teria sido melhor se tivesse funcionado. 

Eu apenas fechei os olhos outra vez. Porque ele estava certo, e eu não precisava de mais explicações para entender o que queria dizer com aquilo: seria melhor se tivesse morrido. É tudo o que desejo, não abrir mais meus olhos depois disso.

Não queria ter acordado em uma maca depois de o som de estática quase rasgar meus ouvidos e sentir meu corpo quase se rasgar enquanto era teleportado para o galpão de ferro no fim do mundo. Não queria ter recebido visitas demais em um só dia, ou senti-las cutucar minha carne exposta sem cuidado algum para me limpar, para me medicar e me manter vivo. Não queria estar respirando para poder gritar a plenos pulmões por tempo demais - Dias? Semanas? Meses? - e não ser ouvido por ninguém. Não queria estar em meu corpo para sentir minhas veias arderem como se estivessem em chamas, para sentir cada parte do meu corpo ruir aos poucos até que já não pudesse sequer me mexer. Quis estar morto outra vez, quis ter morrido naqueles dias, não queria ter aberto os olhos outra vez para ver o teto de ferro e sentir o cheiro de meu próprio vômito por todo o canto. 

Eles só entraram quando estava consciente, e por um momento eu não quis estar. Foi meu primeiro pedido a ser realizado. Em um estalar de dedos, uma cópia de Maria entrou na sala e fez o discurso ao qual não me atentei, se aproximou e acariciou meu rosto - podia sentir o suor arrastado por seus dedos - para dizer o quanto precisava de mim, e o quanto era um bom garoto por ter sobrevivido para ela. Quando Maria se apresentou como Hwasa, pensei em Jizzy e seu gosto por lendas, e apostei que não gostaria daquela. A mulher me perguntou se eu tinha entendido, e por mais que não acreditasse naquilo tudo - apenas preferia acreditar que estava no inferno, pronto para sofrer todas as consequências do que fiz em vida - apenas assenti. A partir dali foi feito: meus pensamentos não me pertenciam, então não os podia controlar e era muito mais fácil. 

Não haviam lembranças, porque o momento em si era sempre mais agitado. O presente em que arrancava corações com minhas próprias mãos, e sacrificava incomuns que se tornavam, de alguma maneira, uma ameaça para a mulher que me tinha como um cão de guarda fiel, era mais importante do que qualquer remorso ou arrependimento. 

Não demorou muito para que o ego inflasse meu peito outra vez. Tamanho poder, tamanho prestígio, tamanha importância... e então O Contador estava de volta.  Não percebi quando meus pensamentos voltaram a me pertencer, porque agora me focava apenas naquilo: matar, machucar, cumprir meu dever como escudo de Hwasa. O contador em meu pescoço pinicava todas as noites, e eu sorria para as estrelas que imaginava estar entregando aos céus. 

Não havia remorso. Não haviam arrependimentos. E continuou assim até o dia em que fui mandado para uma missão extra durante uma reunião particular de Hwasa. 

Eu era dispensável já que mais cinco escudos estavam a vigiando, então fui designado a liderar um grupo de buscadores na captura de um grupo de fugitivos bem grande mais ao leste. A primeira coisa que vi quando as coisas começaram a dar errado, e todos os incomuns começaram a correr na mesma direção, foi a mulher de vestido amarelo se erguer do meio da poeira com as mãos erguidas para os céus, de onde desceram as estacas de ferro em brasa que feriram vários de meus homens. A cena devastada apenas piorou quando mais poeira se ergueu do chão e, seguindo para o centro do furacão que o fazia, encontrei Seokjin com os olhos embaçados por névoa como se fosse, de fato, um incomum, controlando as nuvens espessas de poeira.

Icarus - Asas De Cera | TaekookMin (FINALIZADA)Onde histórias criam vida. Descubra agora