Extra III

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Jimin

Estão todos sobre mim. Os olhares. E as cortinas sequer se abriram ainda.

- Mais cinco minutos, por favor!

- Não temos mais cinco minutos. - O homem com a prancheta é simples. Vira as costas e gira o indicador em direção à equipe, que se prepara para começar a melodia. 

- Droga... - Praguejo, e Joseph corre para fora do palco. - Onde está Taehyung agora?

Ensaiamos toda a coreografia inúmeras vezes durante as últimas semanas, e seria perfeito. Tudo sairia certo, mas não o vejo desde a manhã.

Mordo os lábios, e nego em silêncio. 

Ele sabe o quão isso tudo é importante para mim. Sabe o quanto esperei por isso, e o quanto confiei nele para estar ao meu lado. 

Mas não está aqui.

Gostaria de saber o porquê de nunca me aproximar das pessoas certas.

- Trinta segundos. - O homem com a prancheta está de volta à sua cadeira, e a equipe corre de um lado para o outro, finalizando os detalhes do palco e buscando as cordas das cortinas. 

Sozinho. É como farei. Mas não é uma novidade, afinal.

- Tudo bem. - Assinto e as cortinas se mexem.

Meus olhos percorrem as marcas no chão, encaram meus próprios pés calçados em sapatos bonitos, para encontrar os pés em movimento que estagnam bem aqui à minha frente. 

Pode ser?

Não. Não pode ser...

Os ergo com cuidado, e as cortinas já estão se abrindo quando encontro os olhos de Jungkook me encarando, hesitantes. 

- O quê? - É tudo o que escala minha garganta. 

O sorriso vacila. Se esforça para me encorajar. 

Entendo quando ele tira os sapatos, usando os próprios pés para isso. Ainda o encaro por um tempo, enquanto os olhos curiosos da plateia - os que já nos enxergavam - nos encaravam, antes de também tirar os meus. 

- Vamos fazer isso. - Sua voz também me sorri, e Jungkook me estende a mão enquanto caminha para o centro do palco. - Não se preocupe. Vai ficar tudo bem.

A frase me faz arrepiar. Minhas pernas tremem até alcançar o meio do palco, onde uso as mãos para tapar meu rosto antes mesmo de assentir para a equipe como sinal. 

Durante todo o tempo, Jungkook acompanha meus passos, e me conduz como soubesse a coreografia desde o início. 

É estranho sentir seu cheiro, e rodear seus passos, e permitir seu toque, e sentir sua aura tão próxima. Quando seus braços me prendem, e me tiram do chão, me lembro de que nunca me senti tão seguro como em seu abraço, e isso é tão errado... Tão errado com Taehyung, e o que descobrimos sentir pelo outro.

É mais fácil quando ele está longe, e é esse pensamento que me faz demorar no sorriso forçado que faz parte da coreografia. 

Ele se aproxima quando as palmas começam e meu coração dispara no peito, para me segurar quando minhas pernas estão prestes a ceder e se curvar ao meu lado em agradecimento. 

Joseph aplaude do outro lado do salão, próximo às cadeiras ocupadas por Jin, Namjoon e Jizzy. Todos eles aplaudem com um sorriso orgulhoso no rosto, e me enchem de alívio. 

Sempre me senti sozinho, desde que não pude mais sentir o calor de meu irmão. Mas estavam todos ali: o que veio a se tornar minha família, orgulhosos do que fiz, me aplaudindo. 

Os olhos de Joseph transbordam pouco antes de as cortinas se fecharem, e Jungkook me servir de apoio para fora do palco. E me sinto feliz por estar realizando o sonho que ele teve para mim um dia e sempre nutriu. 

- Garoto... - O homem com  a prancheta se aproxima, aponta a caneta para nós dois. - A energia de vocês deixou os jurados maravilhados. - Se aproximou mais, até podermos ouvir o que veio a seguir como um sussurro. - Ouso dizer, duvido mais alguém conseguir reações tão maravilhadas. 

Sem tempo, o homem toma o caminho de volta para o palco, gritando com mais alguém. 

Jungkook e eu ficamos em nossa crise de risada. Estou usando seus ombros como suporte enquanto a risada espasmódica me escala a garganta. 

- Foi perfeito. - Ele interrompe a sua para dizer baixinho. As mãos firmes em minha cintura. - Já podemos ter certeza da decisão dos superiores. 

Minha euforia para aos poucos, quando encaro seus olhos firmes nos meus não importa o que faça. Quando sinto aquela proximidade que não nos pertence mais. 

Me afasto sem cuidado, com pressa. Retraio minhas mãos para abraçar meu próprio tronco. 

A adrenalina se esvai de uma vez, e estou de volta à minha realidade. À nossa realidade. 

- O Juiz redigiu seus documentos. - Comento, sem coragem para voltar a tomar seus olhos. 

- Namjoon me avisou. - Sua voz é abafada. - Vou buscá-los amanhã pela manhã e-

- Onde está Taehyung? - O interrompo de imediato. - Onde está? Para onde o mandou dessa vez?

Remexo meus dedos, tamborilando contra o chão. Está frio, e parece piorar quando ele parece entender a pergunta.

- Não o mandei a lugar algum. - É ríspido como de costume, agora. - Você é quem deveria saber por onde anda o pirralho. 

- É você quem o exige como fosse um objeto. 

- Não faço mais isso desde que... - Ele mesmo se interrompe, aperta as mãos em punho e busca a calma onde não pode encontrar. 

Sairia dali, e seguiria meu caminho outra vez. O questionaria qual o problema, porque se irava tanto com Taehyung, se foi ele quem escolheu o fato de estarmos afastados. Gritaria, qualquer coisa, até mesmo reclamaria por ter invadido o palco apesar da reação dos jurados a nós dois. Mas não pude fazer nada antes de Joseph nos alcançar com urgência em todos os gestos.

- Joseph? - O encaro, preocupado. 

Ele me pega pelo punho, e leva minha mão até o braço de Jungkook. A urgência também está em sua voz quando os dois se encaram:

- Peça a Namjoon e Seokjin para esvaziar o lugar.

- O que? - Jungkook parece tão confuso quanto eu. 

- Precisamos tirar as pessoas daqui. 

Quando termina de dizer, a estrutura do anfiteatro treme como estivesse sobre efeito de um terremoto. Poeira de concreto cai do teto e gritos se erguem da plateia.

-  O que é isso? - Eu pergunto. 

- Você, Jin e Namjoon, tirem todos os que puderem daqui e levem para o mais longe possível. - Joseph aponta para a saída. - Jungkook vem comigo. Taehyung precisa de ajuda.

Icarus - Asas De Cera | TaekookMin (FINALIZADA)Onde histórias criam vida. Descubra agora