Jimin
Estão todos sobre mim. Os olhares. E as cortinas sequer se abriram ainda.
- Mais cinco minutos, por favor!
- Não temos mais cinco minutos. - O homem com a prancheta é simples. Vira as costas e gira o indicador em direção à equipe, que se prepara para começar a melodia.
- Droga... - Praguejo, e Joseph corre para fora do palco. - Onde está Taehyung agora?
Ensaiamos toda a coreografia inúmeras vezes durante as últimas semanas, e seria perfeito. Tudo sairia certo, mas não o vejo desde a manhã.
Mordo os lábios, e nego em silêncio.
Ele sabe o quão isso tudo é importante para mim. Sabe o quanto esperei por isso, e o quanto confiei nele para estar ao meu lado.
Mas não está aqui.
Gostaria de saber o porquê de nunca me aproximar das pessoas certas.
- Trinta segundos. - O homem com a prancheta está de volta à sua cadeira, e a equipe corre de um lado para o outro, finalizando os detalhes do palco e buscando as cordas das cortinas.
Sozinho. É como farei. Mas não é uma novidade, afinal.
- Tudo bem. - Assinto e as cortinas se mexem.
Meus olhos percorrem as marcas no chão, encaram meus próprios pés calçados em sapatos bonitos, para encontrar os pés em movimento que estagnam bem aqui à minha frente.
Pode ser?
Não. Não pode ser...
Os ergo com cuidado, e as cortinas já estão se abrindo quando encontro os olhos de Jungkook me encarando, hesitantes.
- O quê? - É tudo o que escala minha garganta.
O sorriso vacila. Se esforça para me encorajar.
Entendo quando ele tira os sapatos, usando os próprios pés para isso. Ainda o encaro por um tempo, enquanto os olhos curiosos da plateia - os que já nos enxergavam - nos encaravam, antes de também tirar os meus.
- Vamos fazer isso. - Sua voz também me sorri, e Jungkook me estende a mão enquanto caminha para o centro do palco. - Não se preocupe. Vai ficar tudo bem.
A frase me faz arrepiar. Minhas pernas tremem até alcançar o meio do palco, onde uso as mãos para tapar meu rosto antes mesmo de assentir para a equipe como sinal.
Durante todo o tempo, Jungkook acompanha meus passos, e me conduz como soubesse a coreografia desde o início.
É estranho sentir seu cheiro, e rodear seus passos, e permitir seu toque, e sentir sua aura tão próxima. Quando seus braços me prendem, e me tiram do chão, me lembro de que nunca me senti tão seguro como em seu abraço, e isso é tão errado... Tão errado com Taehyung, e o que descobrimos sentir pelo outro.
É mais fácil quando ele está longe, e é esse pensamento que me faz demorar no sorriso forçado que faz parte da coreografia.
Ele se aproxima quando as palmas começam e meu coração dispara no peito, para me segurar quando minhas pernas estão prestes a ceder e se curvar ao meu lado em agradecimento.
Joseph aplaude do outro lado do salão, próximo às cadeiras ocupadas por Jin, Namjoon e Jizzy. Todos eles aplaudem com um sorriso orgulhoso no rosto, e me enchem de alívio.
Sempre me senti sozinho, desde que não pude mais sentir o calor de meu irmão. Mas estavam todos ali: o que veio a se tornar minha família, orgulhosos do que fiz, me aplaudindo.
Os olhos de Joseph transbordam pouco antes de as cortinas se fecharem, e Jungkook me servir de apoio para fora do palco. E me sinto feliz por estar realizando o sonho que ele teve para mim um dia e sempre nutriu.
- Garoto... - O homem com a prancheta se aproxima, aponta a caneta para nós dois. - A energia de vocês deixou os jurados maravilhados. - Se aproximou mais, até podermos ouvir o que veio a seguir como um sussurro. - Ouso dizer, duvido mais alguém conseguir reações tão maravilhadas.
Sem tempo, o homem toma o caminho de volta para o palco, gritando com mais alguém.
Jungkook e eu ficamos em nossa crise de risada. Estou usando seus ombros como suporte enquanto a risada espasmódica me escala a garganta.
- Foi perfeito. - Ele interrompe a sua para dizer baixinho. As mãos firmes em minha cintura. - Já podemos ter certeza da decisão dos superiores.
Minha euforia para aos poucos, quando encaro seus olhos firmes nos meus não importa o que faça. Quando sinto aquela proximidade que não nos pertence mais.
Me afasto sem cuidado, com pressa. Retraio minhas mãos para abraçar meu próprio tronco.
A adrenalina se esvai de uma vez, e estou de volta à minha realidade. À nossa realidade.
- O Juiz redigiu seus documentos. - Comento, sem coragem para voltar a tomar seus olhos.
- Namjoon me avisou. - Sua voz é abafada. - Vou buscá-los amanhã pela manhã e-
- Onde está Taehyung? - O interrompo de imediato. - Onde está? Para onde o mandou dessa vez?
Remexo meus dedos, tamborilando contra o chão. Está frio, e parece piorar quando ele parece entender a pergunta.
- Não o mandei a lugar algum. - É ríspido como de costume, agora. - Você é quem deveria saber por onde anda o pirralho.
- É você quem o exige como fosse um objeto.
- Não faço mais isso desde que... - Ele mesmo se interrompe, aperta as mãos em punho e busca a calma onde não pode encontrar.
Sairia dali, e seguiria meu caminho outra vez. O questionaria qual o problema, porque se irava tanto com Taehyung, se foi ele quem escolheu o fato de estarmos afastados. Gritaria, qualquer coisa, até mesmo reclamaria por ter invadido o palco apesar da reação dos jurados a nós dois. Mas não pude fazer nada antes de Joseph nos alcançar com urgência em todos os gestos.
- Joseph? - O encaro, preocupado.
Ele me pega pelo punho, e leva minha mão até o braço de Jungkook. A urgência também está em sua voz quando os dois se encaram:
- Peça a Namjoon e Seokjin para esvaziar o lugar.
- O que? - Jungkook parece tão confuso quanto eu.
- Precisamos tirar as pessoas daqui.
Quando termina de dizer, a estrutura do anfiteatro treme como estivesse sobre efeito de um terremoto. Poeira de concreto cai do teto e gritos se erguem da plateia.
- O que é isso? - Eu pergunto.
- Você, Jin e Namjoon, tirem todos os que puderem daqui e levem para o mais longe possível. - Joseph aponta para a saída. - Jungkook vem comigo. Taehyung precisa de ajuda.
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Icarus - Asas De Cera | TaekookMin (FINALIZADA)
FanficApós a terceira grande guerra, o mundo ainda está longe de alcançar a paz que todos tanto esperam há tempos. Com o surgimento de pessoas habilidosas, os chamados "incomuns", as colônias de unificação - onde todos passaram a viver em meio à grande di...