Jungkook
A luz fraca do sol, que passava pelas cortinas finas de seda, vencia a barreira de minhas pálpebras fechadas. Não sabia ao certo em que momento da noite finalmente consegui pegar no sono, mas julgando pela dor em minhas costas e a dificuldade para abrir os olhos, algumas poucas horas no sofá desde a madrugada contribuiu minimamente para um pouco de descanso.
O que me acordou, a despeito da luz incomoda que preenchia a sala, foi a voz doce que vinha da cozinha, ressonando pelo corredor ao lado em risadas e negativas divertidas. Já não me assustava mais, de qualquer forma, a ausência de respostas às perguntas repletas de divertimento de Jimin.
Me esforcei para levantar, me separando do encosto acolchoado ao qual praticamente me fundi durante a madrugada, a julgar pelos padrões de desenho marcados na parte de trás de meus braços - os mesmos presentes no revestimento dos móveis. Meus passos lentos e descalços não me traíram, seguimos silenciosos para o quarto onde a cama arrumada me esperava já arrumada.
Os lençóis estendidos e bem arrumados, em conjunto à luz pálida que vencia as vidraças lisas, dava ao interior de casa o clima leve e agradável que tanto amava, mas que sempre fora tão contraditório à sensação de quando nós dois finalmente nos encontrávamos no mesmo cômodo.
Baguncei meus cabelos, me encarando no espelho somente para conferir as marcas escuras abaixo de meus olhos antes de abrir a porta de correr do guarda roupa, tomando um dos ternos disponíveis sem dificuldades para escolher entre a limitada paleta que variava do tom mais claro de cinza ao mais escuro de preto.
As manhãs, alguns anos antes daquilo, eram sempre a pior parte de meu dia se não considerasse as horas aparentemente intermináveis que passava longe de casa no escritório. Mas naqueles tempos, quanto mais ficávamos separados - mesmo que estando na mesma casa-, mais tínhamos esperança de que as coisas entre nós se manteriam bem dentro do possível.
Sem roupas, quando abri o registro do chuveiro. O vapor pareceu se mostrar antes mesmo que a primeira gota de água quente caísse, aquela cena me parecia quase familiar. Quando o som do chuveiro reverberou pelas paredes do banheiro, então, pude ouvir: o estrondo de um raio que ecoava ao rebater em paredes cinzentas, fumaça e olhos flamejantes, um olhar brilhante, chuva vermelha. Perdi o equilíbrio por um momento, me apoiando no vidro do box para me manter de pé, minha visão não era a única coisa deturbada, meus pensamentos - em questão de intensidade - quase a superavam.
Haviam alguns dias que sonhava com aquilo que parecia ser uma batalha, assistindo suas cenas breves e pouco claras, como borrões. Mas a falta de forma nas imagens era compensada pelo sentimento claro por através dos olhos de quem eu podia enxergar toda a baderna: tudo doía, mais que os ferimentos na carne, mais que os cortes, doía a alma de quem quer que fosse ali presente, se obrigando a enfrentar os que parecia depositar sua confiança.
- O que devo fazer com isso? - perguntei a mim mesmo, respondido pelo som imperturbável do chuveiro ligado e da cascata de água, rodeada por vapor, batendo contra as cerâmicas escuras do chão. - O que devo enxergar?
Quando cheguei à cozinha, as risadas que ainda cheguei a ouvir a poucos passos de entregar minha presença cessaram. O sorriso aberto de Jimin não passava de um fantasma enquanto, debruçado sobre um dos braços onde a mão segurava as folhas de jornais enquanto a outra se ocupava em misturar a bebida fumegante na caneca azul, encarava a cadeira vazia - mas afastada da mesa - ao seu lado por uma última vez antes de fingir sua total atenção às manchetes da manhã.
Sorri minimamente para tal atitude.
- Bom dia para os dois - disse ao entrar no cômodo, seguindo com meus passos hesitantes em direção aos armários suspensos que guardavam mais canecas coloridas. - Podem continuar, sabem que não me incomodo.
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Icarus - Asas De Cera | TaekookMin (FINALIZADA)
FanfictionApós a terceira grande guerra, o mundo ainda está longe de alcançar a paz que todos tanto esperam há tempos. Com o surgimento de pessoas habilidosas, os chamados "incomuns", as colônias de unificação - onde todos passaram a viver em meio à grande di...