Capítulo 13

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Jungkook

O celular vibrou mais uma vez ao lado da minha cabeça. O som perturbador e, francamente, repetitivo demais fez meu estômago revirar.

Devia ser a quarta ou quinta vez em que o mesmo som tomava o estúdio, vazio na ausência de seus passos e falsamente preenchido por meu corpo, garrafas vazias de bebida e pela fumaça que embaçava mãos minhas visão turva pelo álcool.
Mas toda vez em que tentava atender, sentia a bile escalar minha garganta, pronta para se atirar para fora como gostaria de poder fazer com as palavras.

Por isso tentei fazer sem abrir os olhos, para não me entregar á tonteira característica dos desesperados - por mais que a ache mais digna dos grandes desistentes.

Alcancei o aparelho, tateando o chão com meus dedos trêmulos. A surpresa, porém, não veio quando consigui realmente atender á chamada antes mesmo de terminar. O que fez minhas sobrancelhas se unirem, e as linhas marcadas emergirem em minha testa, é não ouvir nenhuma das vozes que costumava ouvir sempre que atendia a uma ligação.

- Vou mostrar como as coisas funcionam com crianças. - Hoseok disse, mas não parecia sequer próximo ao microfone do aparelho do outro lado. Em seguida, o som da campainha reverberou pelos cômodos a abandonados da casa, o que fez minha cabeça doer a ponto de realmente reparar o que já estava me incomodando. - Ouviu? Ele está em casa. - Ouvi a risada conhecida também, o riso de Namjoon.

- Abra a porta, Jungkook! - Gritou como se já não o pudesse ouvir pela ligação. - Temos o resultado da perícia.

- Confirmaram o ataque típico de Regs. - Namjoon fez uma careta, não sei dizer se pelo cheiro de cigarros por todo o cômodo ou por meu cheiro. - Mas não tem nada, como sempre. Sem pegadas, nem rastros, nem reconhecimento. Não sabem dizer nada sobre todo aquele sangue, não há registros de quem quer que seja. O corpo foi completamente desfigurado, abandonado dentro da lixeira, não passava de uma pasta de carne, nervos e ossos, completamente irreconhecível.

Hoseok bufou, escorado em uma das paredes com o cigarro roubado de meu maço entre os lábios. Revirou os olhos, entediado.

- Desde quando isso é uma novidade? - Suspirou, tragando mais uma vez antes de continuar. A fumaça escapando por suas narinas para voltar a inundar o cômodo e barrar a luz. - É a maior organização de incomuns do mundo, quase nunca deixam rastros.

- Quase nunca? - Perguntei, e eu mesmo estranhei a voz que arranhou minha garganta. Era a primeira vez em que falava desde que os deixei após prestarmos nossos depoimentos sobre o beco aos superiores. - Até onde saibamos, "nunca" seria a palavra mais correta para uso.

Hoseok uniu as sobrancelhas, a careta de nojo repuxou seus lábios para baixo, e não sabia distinguir se havia mais nojo que pena em seus olhos.

- Você está fedendo a álcool.

- Só a isso? - Namjoon se aproximou, chutou os cascos de garrafas para longe até estar próximo o bastante para olhar em meus olhos depois de se abaixar. - Parece um cadáver ambulante. Quando isso começou? - Gesticulou para a cena e eu olhei em volta.

Para mim, o reflexo dos espelhos mostravam o quão deplorável tudo à minha volta sempre esteve. Era perfeitamente condizente, retratava a pura essencia de onde me permiti chegar. Não podia ser mais real, e precisava me prender à realidade, mas me deixava completamente exausto.

Precisava lembrar a mim mesmo de que aquilo era real: mesmo com a proximidade de Regs, Jimin continuaria bem, desde que continuasse ali, preso àquela realidade. Tudo caminhava exatamente como o prometido pela última página oferecida, durante a última chave que virei, mas mesmo assim era difícil me manter calmo com a aproximação de Regs.

Icarus - Asas De Cera | TaekookMin (FINALIZADA)Onde histórias criam vida. Descubra agora