Capítulo 9

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Jungkook

Vou contar o que me lembro do resto daquela noite.

Depois que Jimin saiu do estúdio, não consegui tirar os olhos do anel deixado para trás. Nos primeiros minutos, o nomeei como um dos piores ingratos sob a terra, me perguntei o quão uma pessoa poderia exigir tanto de alguém que lutara o quanto lutei apenas para mantê-lo vivo, mas então as palavras de Namjoon ressurgiram e me arrancaram mais uma parte da alma que ainda julgava ter.

Aquilo tudo...

Costumava dizer que isso tudo sempre foi por Jimin. Por Namjoon, ou todos os outros que passaram por mim durante todas as tentativas de vivência que criei. Mas foi naquele momento, quando parte de minha promessa mais importante repousava abandonada em minha palma - tão incompleta - que eu percebi de verdade, e realmente aceitei,o quão ignorante era aquilo e o quanto todas as justificativas aceitáveis se desfaziam das desculpas até apontar para a única resposta plausível: nunca me preocupei em salvá-los somente, sempre procurei pela realidade perfeita para mim.

Pessoas sofrem perdas todos os dias, todos devem lidar com a realidade à qual são sujeitos, mas eu me coloquei muito acima disso. Brinquei com as realidades como se pudesse escrever uma para mim, e ali foi onde todos fomos parar.

Namjoon e Jin construíam iam família, mas estavam presos a mim. Jimin e ainda estava vivo, mas não conseguia me permitir amá-lo e então o fazia infeliz para afastá-lo, porém, também continuava preso a mim.

A realidade era que eu bancava o deus, em busca de uma realidade que pudesse satisfazer meu ego. Usava as regras entre dimensões a meu favor para que pudesse manter por perto os que me eram importantes, mas não esperava pelas consequências que sofreria por interferir em algo tão inconstante.

A primeira grande consequência foram as memórias que perdi entre uma realidade e outra. Quando virava uma chave, as pessoas em volta não se lembravam mas eu costumava me lembrar, porém com o tempo fui perdendo alguns detalhes importantes que, no fim, nada me diziam, mas deveriam dizer.

A segunda eu encarava naquele estúdio: As pessoas que eu amava não me amavam mais. Estavam infelizes e só me recebiam porque estavam presas a mim.

Nada, nem nenhuma realidade, poderia repetir a intensidade de sentimentos de uma dimensão original. Pode comparar a quando se escuta uma música pela primeira vez, o sentimento é completamente diferente se quando a repete por gosto, em determinado ponto lembrará de toda sua letra e saberá tudo o que quer dizer, então se enjoaria. Era isso o que acontecia, os sentimentos dos que amava; todo o nosso amor estava desgastado, e já não importava mais o significado já que a melodia não era mais atrativa.

E desgastado era como me sentia. Cansado de me submergir em alto piedade enquanto continuava me submetendo a tantos caprichos quanto podia para compensar os que arrastei para esse ciclo cansativo. Desesperançoso, por saber que não me restava escolha alguma além de simplesmente erguer as mãos em rendição e esperar que o universo me tragasse, possivelmente dando um fim à confusão que gerei para que a realidade pudesse se restaurar.

Jimin tinha saído pelos corredores em sua recente sobriedade, mas a garrafa de Gin continuava pela metade próxima à parede. É o primeiro gole, e as lágrimas quentes que embaçaram minha vista, o que me lembro do resto daquela noite.

A noite pareceu cumprida. Mas quando abri os olhos o sol ainda não tinha expurgado a madrugada. Lutei para voltar a fechar meus olhos, mas a realidade me chamava como sempre.

A garrafa estava próxima o bastante para me deixar vesgo, a bebida no fundo esverdeado brilhando com as luzes ainda acesas no teto. Sons vindos da varanda e o cheiro de café causaram um suspiro cansado antes mesmo de me esforçar minimamente para levantar. O cheiro de álcool, porém, não era o bastante para sobrepor o meu.

Icarus - Asas De Cera | TaekookMin (FINALIZADA)Onde histórias criam vida. Descubra agora