Capítulo 1

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Jungkook

•×•

"Tudo está bem. Tudo vai ficar bem desde que eu continue exatamente aqui. "

É um bom pensamento. Dizem que se mentalizar o que mais quer, o quer que queira pode acontecer. Acho que por isso mesmo passava a maior parte dos meus dias repetindo como um mantra: "Tudo está bem. Tudo vai ficar bem desde que eu continue aqui".

Da minha mesa podia ver o quadro de avisos, o bebedouro, a máquina de petiscos - constantemente agredida -, o relógio logo acima da porta de entrada e, por último, não menos importante mas devidamente indesejado, a mesa de Namjoon.

- Devia organizar isso. - Apontei, mais uma vez. Mais pela necessidade de preencher a lacuna do dia, obedecer à nossa rotina repetitiva.

Como esperado, a resposta também foi a mesma de todos os dias: primeiro um dar de ombros, depois os olhos preguiçosos se viravam para mim e o dedo médio se ergueu junto às covinhas se afundando nas bochechas.

- E eu acho que você deveria cuidar das suas coisas.

- Já deu uma olhada na minha mesa? Não tem metade disso tudo aí.

- Deve ser porquê somos tão diferentes. - Bocejou. - Por exemplo: eu sei cuidar da minha vida, e odeio ser enxerido.

- Essa foi a maior hipocrisia que ouvi hoje.

Namjoon riu.

- Não se preocupe, ainda estamos na metade do dia. - Bocejou outra vez. - Sorte minha, talvez tenha tempo para um cochilo.

Para quem vê tanto, tenho que admitir que era um tanto lento para aquele cargo. Se não brincasse de adivinhar cartas durante um dos exames admissionais, talvez sequer tivesse uma mesa para discutir algo. Me reafirmava essa certeza o fato de, só então, eu conseguir reunir todos os sinais, incluindo as marcas escuras abaixo dos olhos - que passaram despercebidas desde o início da manhã-, para reparar o quão Namjoon parecia cansado.

- Noite difícil? - Perguntei por fim.

Reorganizei os papéis empilhados ao lado de meu computador desligado e espanei da superfície lisa da mesa os farelos de amendoim torrados. A sombra de um vento soprou meu rosto, vindo da janela que não alinhada à minha mesa, e sombras de papéis caíram ao chão junto a duas sombras de duas canetas.

- Não faz a menor ideia. - Namjoon respondeu e eu me levantei da cadeira confortável em um pulo para alcançar suas folhas espalhadas sobre a mesa.

Sem se surpreender por atitudes minhas, já acostumado com minhas ações repentinas, Joon apenas continuou:

- Jizzy anda tendo pesadelos. Nada mudou, pelo menos é o que os responsáveis por ela no orfanato disseram. Ela sempre teve esses sonhos... Sinto tanto quando acorda assustada no meio da noite, chorando e esperneando, chutando o que quer que esteja em seu encalço e que não podemos ver.

O vento soprou seus cabelos tingidos de loiro claro, soprou as folhas que eu segurava, duas canetas foram barradas pelo dorso de minha mão estendida sobre a mesa. Namjoon sorriu e acenou.

- Obrigado. - Agradeceu e eu sorri também. Acenei em correspondência depois de olhar em volta para encontrar todos distraídos com a própria papelada, para meu alívio.

- Ela diz sobre o que são os sonhos?

Sonhos são importantes.

- Fala sobre uma plataforma de areia. Algo como um baile de época e pessoas dançando a música que se torna gritos. Ela ouve soluços antes de algo queimar a paisagem como se queimassem o filme de uma foto, e então acorda.

Icarus - Asas De Cera | TaekookMin (FINALIZADA)Onde histórias criam vida. Descubra agora