Explicações

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Os guardiões voltam a se sentar à mesa, ajeitando as cadeiras de forma que eles consigam ficar de frente para a Jane e eu, que por conta do nosso estado sujo pós luta, ficamos em pé. É notável o nervosismo no rosto dos quatro, embora pareçam estar fazendo de tudo para manterem a calma, todos estão em silêncio esperando um de nós começar a dar explicações sobre o que aconteceu. Concordamos que eu começaria a falar, mas tem tanta coisa que nem sei por onde começar! Enquanto levo alguns segundos para organizar os meus pensamentos e definir o ponto de partida dos acontecimentos, a inquietação do Norte fala mais alto e ele se pronuncia, me olhando parecendo irritado:

-Que agonia, falem logo antes que eu tenha um ataque! O que aconteceu com vocês?  Afinal, por que saíram da oficina?

-Saímos para fazer nosso trabalho - Jane responde antes que eu possa falar alguma coisa - Bom… eu saí. Jack só foi atrás de mim quando percebeu que eu tinha saído. Depois que eu expliquei o que eu estava fazendo, ele foi comigo para nosso trabalho ser mais rápido e para garantir que eu iria voltar. 

-Ah! Entendo - Norte volta a se recostar na cadeira assentindo com a cabeça parecendo relaxar um pouquinho - Continuem, o que aconteceu depois?

-Fomos fazer nevar nos países que precisavam de neve - continuo por onde a Jane começou, já que ela me deu um bom ponto de partida - Estávamos na Rússia, numa floresta. Já havíamos terminado e estávamos a ponto de voltar para cá quando ouvimos um barulho bem alto ecoando entre as árvores, então fomos checar para ver o que era ou se alguém estava precisando de ajuda e quando fomos ver o que era, encontramos com a Maria Sangrenta.

Nem termino de falar o nome dela direito e vejo os olhos dos guardiões se arregalarem. Eles olham uns para os outros com uma expressão de confusão total, como se perguntassem entre si mentalmente se todos tinham ouvido a mesma coisa, apenas o Norte permanece olhando para nós e pergunta: 

-Eu ouvi bem? Vocês encontraram com a Maria Sangrenta? - eu balanço a cabeça afirmando mas pelo visto isso não ajudou a esclarecer as coisas

-Mas o que ela… o que ela estava fazendo lá? - diz Fada sem entender nada - Ela não fica só dentro de espelhos? O que ela fazia no meio de uma floresta?

-Ao que parece ela foi atrás de nós - respondi

-Por que? O que ela queria com vocês? - pergunta Coelhão confuso e até mesmo um ponto de interrogação se forma na cabeça do Sandy

-Não sabemos exatamente - Jane fala - Ela só disse que tinha que fazer o que lhe foi designado.

-E o que era? O que ela fez? - pergunta Fada. Jane abre os braços mostrando o estado em que nós dois estamos e faz uma cara de “não é óbvio?”. A outra entende o recado, balançando a cabeça em afirmativa e pela sua expressão apenas serviu para mais perguntas aparecerem em sua cabeça - Mas ela não disse mais nada? Nem uma pista do motivo disso?

-Não. Ela só disse isso e nos atacou - digo

-Não faz sentido… Nos contem tudo. Cada detalhe desde que vocês a encontram. Tudo o que ela fez. Talvez a gente consiga achar alguma coisa que explique esse ataque - Norte fala num tom sério mas ao mesmo tempo, preocupado 

Como foi pedido, começo a contar tudo, desde a hora em que a Sangrenta apareceu e correu em minha direção. Conto que ela fez meu cérebro parar e que por conta disso nada no meu corpo funcionava mais, descrevo como foi a sensação, já que Norte pediu detalhes, e eles me olham assustados mas ao mesmo tempo concentrados. Eu continuo contando como a Jane afastou ela de mim e que por conta disso a Sangrenta se virou contra ela, perfurando seu pescoço com as unhas e como ela se defendeu congelando o coração da Maria Sangrenta mas não antes de ser afetada por uma taquicardia. Por fim conto que ela fugiu dizendo que nos encontraríamos de novo, após nos deixar incapacitados demais para irmos atrás dela. Tendo terminado, os guardiões ficam um tempo em silêncio para digerir tudo o que ouviram.

-Eu não entendo - Coelhão sussurra chamando nossa atenção, logo levantando seu tom de voz - Por todos esses anos Maria Sangrenta nunca fez nada de mal a não ser assustar criancinhas através do espelho. Na verdade, eu nem sabia que ela podia sair do espelho. Não consigo entender o que ela queria com vocês.

-Então vocês não sabem nada sobre ela? - pergunta Jane - Nada sobre o que ela pode fazer?

-Só que ela consegue ir de lugar para lugar através dos espelhos, como se ela tivesse acesso à todos os espelhos do mundo e aparecesse em qual quisesse - diz Norte 

-Então foi bom nós termos descoberto algumas coisas a mais - comento 
-Que ela é capaz de sair dos espelhos já é uma delas, né? - Fada pergunta e eu concordo 

-O que já é um grande problema - Norte completa preocupado - Afinal, isso significa que ela pode vir para cá a qualquer momento que quiser e atacar a todos nós. 

-Bem… poder ela pode - Coelhão se pronuncia - Mas não acho que ela seria burra o bastante para tentar enfrentar nós seis e mais as centenas de Yetis que tem aqui sozinha e de uma vez só! 

-Não é só isso! - Jane toma a palavra e todos prestam atenção nela - Sangrenta também pode manipular o sangue de qualquer um que ela encostar. Foi assim que conseguiu paralisar o Jack, fazendo o sangue parar de circular no cérebro dele e o fazendo circular rápido demais no meu coração, assim causando a taquicardia.

Os guardiões suspiram pesadamente com essa nova informação, sendo inundados de preocupação. Até mesmo o Sandy que sempre parece estar positivo sobre tudo fecha os olhos enquanto massageia suas têmporas. 

-Isso não é nada bom - murmura o coelho 

-Mas por que? - Norte se levanta nervoso - Por que ela atacou vocês? Em todos esses anos nós nunca nem ouvimos falar que ela podia sair dos espelhos, por que agora do nada Maria Sangrenta atacaria vocês? Por que?! Por qual motivo?

-Fazer o que lhe foi designado - repito o que ela nos disse pouco antes de nos atacar - Agora, o que isso quer dizer é outra questão.

-Fazer o que lhe foi designado… - Jane repete também sussurrando e o faz mais outras duas vezes de olhos fechados pensando sozinha, tentando dar sentido à essa frase. Então seus olhos se abrem lentamente enquanto ela passa a mão por sua cabeça - Fazer o que lhe foi designado - ela repete, como se estivesse em choque dessa vez - Caramba… 

-Pensou em alguma coisa? - pergunto, me aproximando 

-A resposta é bem óbvia na verdade. Ela não nos atacou porque simplesmente deu vontade ou por qualquer outro motivo dela própria, ela nos atacou porque recebeu uma ordem. O que lhe foi designado! - Jane olha para mim, parecendo lutar contra o que vai dizer - Alguém mandou ela fazer isso. Alguém que quer ver todos nós dizimados. Alguém que quer destruir os guardiões para sempre - entendo onde ela quer chegar, o que faz o ar me faltar por um segundo. Ela olha para os outros, esperando alguma reação mas os quatro não fazem outra coisa a não ser olharem atônitos para a garota - Breu! Sangrenta está com ele. Foi ele quem mandou ela nos atacar.

Os guardiões ficam pensativos, apreensivos e chocados ao mesmo tempo com essa afirmação, como eu também fico. Penso em todas as possibilidades possíveis para aquele ataque ter acontecido, alguma que não seja essa, mas não encontro nenhuma.

-V-Você não sabe o que está dizendo. Só quer tentar nos amedrontar! - Fada diz com a voz trêmula parecendo não querer acreditar, mas me parece que, mesmo no fundo, ela sabe que é verdade

-Amedrontar vocês? Por que eu faria isso? Afinal quer dizer que eu também corro perigo como acabei de correr a algumas horas atrás - Jane diz apontando para o seu pescoço e para o seu moletom sujos de sangue, parecendo ficar um pouco irritada - Pensa! O Breu nos disse que ele tem “amigos” que iriam ajudar ele contra nós, que logo iríamos conhecê-los e de repente aparece a Maria Sangrenta querendo acabar conosco sendo que nunca fizemos nada para ela e dizendo que vai fazer o que lhe foi designado, ou seja, o que mandaram ela fazer. O Breu é o único que tem motivos para querer acabar com a gente. Querendo ou não, essa é verdade e se eu fosse vocês, começaria a me preparar para o pior porque ela é apenas uma dos aliados dele e se só ela conseguiu fazer isso conosco, eu não quero nem saber do que os outros são capazes. 

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