Um novo guardião

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Está tudo escuro. Silencioso, a ponto de meu ouvido zunir. Tenho até a sensação de estar completamente sozinho. Sinto vários grãos de areia flutuando ao meu redor, alguns se arrastam em minhas mãos e em meu rosto, mas por mais que eu tente afastá-los eles sempre voltam. Então faço uma corrente de vento bem forte entrar pela porta e sair pelas janelas, fazendo as cortinas se abrirem e levando consigo todo e qualquer resquício de areia negra. O salão é iluminado pela claridade que vem de fora, já que todas as luzes foram explodidas, e assim sou capaz de enxergar os outros a minha volta.

Todos, até mesmo os duendes, estão com a boca aberta, alguns menos outros mais mas todos estão com suas bocas abertas tamanha a perplexidade. Ninguém diz nada, talvez por não saberem o que dizer ou talvez pela total descrença naquilo que acabamos de presenciar. Os guardiões também tem uma feição extremamente preocupada em seus rostos enquanto mantém seus olhares fixos na porta.

Coelhão parece ser o primeiro a se livrar da paralisia, ele olha para o chão suspirando e lentamente levanta a cabeça, olhando para mim com uma expressão de culpa.

-Você sabia… Não sabia, Jack? - ele sussurra - Era isso o que estava tentando nos dizer.

Eu concordo com um olhar triste. Por mais que eu soubesse, daria tudo para não ser verdade.

-Aquilo… aquilo era… ele?! - Fada pergunta sem querer acreditar, voltando o olhar para nós

-Não. Não era - Norte fala nervosamente, com a voz meio trêmula - E-Era só uma sombra.

-Norte… - tento falar mas ele me interrompe

-Não era ele! Ele está preso debaixo da terra, não era ele. Não tem como ter sido ele. Era só um sombra! - diz dando as costas e andando em direção à janela mais próxima

-Da outra vez, no início, também foi só uma sombra, Norte - Coelhão chama a atenção dele para quatro anos atrás. Ouço ele resmungar alguma coisa e soltar o ar dos seus pulmões, vencido. O Papai Noel se vira de uma vez e vem andando rapidamente até nós, parando bem na minha frente

-Conte o que você sabe - sussurra tristemente

Respiro fundo e após colocar os meus pensamentos em ordem, começo a contar o que aconteceu. Eu terminando meu trabalho, indo brincar com as crianças, depois a explosão, os tentáculos negros saindo da terra e quase nos esmagando, as crianças indo para casa, eu conseguindo destruir os tentáculos, a prisão aberta, eu congelando a entrada e por fim eu vindo até aqui.

Os quatro têm um olhar triste, preocupado, talvez até envergonhado também. Norte que antes estava todo nervoso e em negação, sacode a cabeça em desaprovação e culpa.

-Então… esses tentáculos abriram a prisão para ele - Coelhão diz para ver se entendeu direito, enquanto aparece um ponto de interrogação na cabeça do Sandy e eu confirmo

-Eu tentei fechá-la outra vez para atrasá-lo até chegarmos lá mas… acho que não o atrasou suficiente - digo

-Não é culpa sua, Jack - Norte sai do silêncio - Você tentou nos avisar mas nós… eu, não te dei ouvidos. Se tivesse te escutado assim que chegou invés de focar nessa festa talvez isso não teria acontecido. Organizei ela para comemorar a prisão dele mas no final das contas, ela contribuiu para que ele se soltasse.

-Sinceramente, acho que não faria diferença. Se não conseguisse hoje, ele iria se soltar em uma outra ocasião mas sabemos que não iria desistir. Acho que não tinha nada que pudéssemos fazer - concluo

-Só não entendo. Como ele conseguiu ficar forte o suficiente para fugir? - Fada pergunta

-Como ele disse o medo sempre vai existir, independente dele estar preso ou solto. Acho que algumas crianças voltaram a ter medo dele e aí… - Coelhão tenta achar uma explicação

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