Assim como eu

O que isso faz com você

Nós três fazemos nosso caminho de volta para a sala de jantar onde os outros ainda conversam, Norte os chama para se reunirem na mesa outra vez logo após os Yetis terem terminado de arrumá-la. 

-Aconteceu alguma coisa? - Coelhão pergunta enquanto nos sentamos

-Aparentemente eles dois deixaram de nos contar uma coisa - Norte responde olhando para nós mas não com uma expressão de repreensão e sim preocupação - E é algo sério pelo visto… 

Todos se voltam curiosos para mim e para a Jane, que se mantém em silêncio fitando as mãos enquanto, com a mão direita, esfrega os dedos da esquerda um por um e vice versa, repetindo sem parar como um ciclo vicioso. Por conta de suas mãos estarem no seu colo, sou o único que consegue ver que ela faz isso já que estou sentado do seu lado, mas somente a expressão em seu rosto é o bastante para fazer os outros ficarem tensos com essa nova reunião.

-O que houve? - Fada indaga meio temerosa

-Bem, é que... nós falamos sobre como foi nosso encontro com a Maria Sangrenta, mas não dissemos como a encontramos - respondo devagar

-Você disse que envolvia o mundo dos mortais. O que isso tem a ver? - Norte questiona confuso

-Eu vou contar - digo, logo dando uma pausa para tentar definir de onde eu começo a falar, já temendo a reação deles. Será que vão ficar bravos? Ou vão nos culpar? Acho que só tem um jeito de descobrir - Bom, nós tínhamos terminado nosso trabalho e estávamos prestes a voltar para o pólo quando ouvimos um barulho muito alto não muito longe de nós na floresta. Quando fomos checar para ver se tinha alguém precisando de ajuda, a Maria Sangrenta apareceu e a poucos metros de distância dela, vimos o que causou o estrondo. Um carro bateu e caiu do viaduto, que passa em cima da floresta, em meio às árvores. Quando perguntamos se ela tinha feito aquilo, a resposta foi que ela queria chegar até nós dois e para conseguir isso ela usou o retrovisor interno do carro, o que obviamente assustou o motorista e o fez perder o controle, assim causando o acidente.

-Mas e o motorista? - Coelhão se apressa a perguntar, se levantando da cadeira ao passo que os outros me olham desesperadamente querendo saber a mesma coisa

-Ele não sobreviveu - respondo com pesar e os quatro expiram pesadamente, fazendo parecer que estavam segurando o ar enquanto ouviam a última parte do meu relato

-Droga… - Coelhão murmura, fechando os olhos e esfregando as têmporas com as patas, se sentando novamente

-Por… Por que não nos contaram isso antes? - Fada me encara assustada

-É que o assunto da Sangrenta estar ligada com o Breu parecia mais sério no momento. Eu acabei esquecendo - respondo meio envergonhado

-Venham - Norte diz nervoso, coçando a cabeça e se levantando para sair do salão - Agora!

Todos nós levantamos e vamos atrás dele sem perder mais tempo. É difícil ver o Norte desse jeito todo nervoso, ele sempre carrega aquele ar de alegria e esperança consigo, eu acho que na verdade acho que nunca vi nenhum deles agirem assim tão... assustados. No fim das contas eles não ficaram bravos ou nos culparam pelo o que aconteceu, mas a reação que tiveram foi bem pior. Para eles ficarem nesse estado é uma coisa bem mais séria do que pensei, com consequências bem sérias e não saber ao certo o que está acontecendo, me deixa extremamente apreensivo.