Parte 7

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-Preciso confessar uma coisa-digo.
-Nada do que disser é páreo para as últimas horas da minha vida. Confesse aí.
Apoio o cotovelo no bar e pouso a cabeça na mão. Olho esguelha para ela.
-Anna saiu do prédio. Depois que você foi embora.
Villanelle consegue ver a vergonha em minha expressão. Suas sobrancelhas se erguem em curiosidade.
- O que você fez, Eve?
- Ela perguntou para que lado você tinha ido. Me recusei a responder. -Então me endireitei e giro a cadeira até encará-la - Mas ,antes de entrar no carro, dei meia-volta e disse: "oitocentos dólares em um jogo de palavras? Sério, Anna?"
Ela me encara. Intensamente. O que me faz refletir se ultrapassei algum limite. Com certeza não devia ter dito aquilo a ela, mas me sentia rancorosa. Não me arrependo.
- O que ela respondeu?
Balanço a cabeça.
- Nada. Seu queixo meio que caiu de espanto, mas depois começou a chover e ela correu para dentro do prédio de Niko.
Villanelle continua me encarando com intensidade. Odeio isso. Queria que ela gargalhasse ou ficasse zangada com a minha interferência. Qualquer coisa.
Mas ela não diz nada.
Depois de um tempo , abaixa o olhar até encarar o vazio entre nós. Estamos de frente um para a outra , mas nossas pernas não se tocam. A mão de Villanelle , que pousam em seus joelhos, se move um pouco para frente até os dedos rouçarem minha perna.
É ao mesmo tempo sutil e óbvio. Todo o meu corpo enrijece com o contato. Não porque eu não goste, mas porque nao consigo me lembrar da última vez que um toque de Niko me causou uma onda de calor como a que sinto agora.
Villanelle traça um círculo no topo do meu joelho. Quando ela ergue o olhar de novo, não me sinto confusa com o brilho em seus olhos. Seus pensamentos estão bem claros agora.
- Quer dar o fora daqui?- seu tom é um tanto sussurro quanto um apelo.
Assinto com a cabeça.
Ela levanta e tira a carteira do bolso. Deixa o dinheiro no balcão e coloca o casaco. Então estende o braço e entrelaça seus dedos aos meus, me guiando em direção à porta do restaurante, para fora dali e , com sorte, em direção a algo que torne esse dia aceitável.

Eu nunca nunca trouxe uma alguém ao meu apartamento que não fosse Niko . Para falar a verdade, Niko também mal vinha aqui. Seu apartamento é mais confortável e muito maior, então sempre ficávamos por lá. Mas aqui estou, prestes a transar com uma completa estranha, poucas horas depois de flagrar a traição de meu noivo.
Se Niko é capaz de me trair, com certeza sou capaz de fazer sexo por vingança com uma mulher muito charmosa. O dia inteiro tem sido um incidente bizarro após o outro. Qual é o problema de mais um?
Abro a porta e confiro se tem alguma coisa que preciso esconder no apartamento. Mas então me dou conta de que teria que esconder TUDO, o que não é possível com villanelle a um passo atrás de mim. Eu me afasto e abro espaço para ela.
-Entre- convido.
Villanelle entra depois de mim, observando o apartamento com seu olhar triste. Todas as fotos que eu tenho com Niko fazem parecer o apartamento ainda menor. Claustrofóbico.
O restante dos convites de casamento ainda está espalhado sobre a mesa de jantar.
Vestido de noiva que eu comprei há duas semanas está pendurado na porta do armário da entrada. Olhar para ele me deixa zangadoa. Eu o arranco dali, Dobro a capa com zíper ao meio e jogo tudo dentro do armário. Nem me incomodo em pendurá-lo no cabide. Espero que fica amassado.
Villanelle vai até o bar e pega uma foto minha e de Niko. Eu tinha acabado de aceitar o pedido de casamento de Niko, e estava exibindo o anel para a câmera. Paro ao lado de Villanelle e observo a foto com ela. Seu polegar roça no vidro.
- Você parece feliz de verdade.
Não respondo; ela tem razão. Pareço feliz naquela foto porque eu estava feliz. Muito feliz. E ignorante. Quantas vezes Niko me traiu? Será que aconteceu mesmo antes de ele me pedir em casamento? Tenho tantas perguntas, mas não creio que queira as respostas o bastante par me sujeitar a interrogá-lo.
Villanelle pousa o porta retrato no bar, virado para baixo. E, como fizemos com os celulares, pressiona o dedo contra a moldura e o empurra pelo balcão. Ele cai pela beirada e quebra quando atinge o piso da cozinha.
É algo tão rude e imprudente de se fazer no apartamento de outra pessoa. Mas estou feliz que tenha feito. Há mais duas fotos do bar. pego outra Nossa e coloco virada para baixo. Então empurro porta-retratos pelo balcão e, quando quebra ,sorrio. Villanelle também.
Olhamos para a última foto. Niko não aparece nessa; é uma foto minha com meu pai, tirada apenas duas semanas antes de sua morte. Villanelle apanha a moldura e inspeciona a imagem de perto.
- Seu pai?
- Sim.
Ela coloca o porta retratos de volta no balcão.
-Essa pode ficar.
Villanelle segue para a mesa, onde os convites de casamento restantes estão jogados. Não escolhi o modelo; foram minha mãe e a de Niko.
Elas até enviaram os convites. Minha mãe largou a sobra aqui há duas semanas, e me aconselhou a pesquisar no Pinterest O que fazer com ela, mas eu não tinha o menor interesse em criar nada com aquilo.
Decididamente vou jogar-los no lixo agora. Não quero uma única recordação desse relacionamento desastroso
Sigo Villanelle até a mesa e me sento nela, colocando as pernas para cima. entrelaço as pernas como um índio enquanto Villanelle pega um dos convites e começa a ler em voz alta.
-Young-Nam Dianne park e Joon-Soo park(in memoriam) ,de old. Egerton Crescent , Connecticut , e Sra. E o Dr. Kevin samson polastri, também de old Egerton Crescent convidam para a cerimônia religiosa do casamento de seus filhos, Eve Dianne park e Niko samson polastri, a realiza-se no prestígioso Somerset House, no dia....
Villanelle se interrompe e olha para mim, Ela indica o convite de casamento.
-Seu convite de casamento tem a palavra prestigioso.
Posso sentir o rosto enrubescendo.
Odeio aqueles convites. Quando os vi pela primeira vez, fiz um escândalo por conta da arrogância de tudo aquilo, mas minha mãe e arrogância caminham lado a lado.
-Obra de minha mãe, Às vezes é mais fácil concordar com ela do que criar caso.
Villanelle levanta uma sobrancelha, em seguida joga o convite de volta ã pilha.
-Então você é de Egerton Crescent, é??

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