Todas as suas (im)perfeições

17

Ficamos em silêncio enquanto me visto. Não
nos encaramos. Ela levanta e para alguns centímetros.
Agora estamos de frente um para o outro.
Meus braços estão cruzados, e ela olha para mim como se não tivesse certeza de que os últimos quinze minutos de fato existiram. Eu devolvo o olhar como se quisesse uma reprise.

Ela abre a boca, prestes a falar alguma coisa, mas, então, apenas dá um aceno rápido de cabeça e
um passo à frente, segura meu rosto e me beija
outra vez. É um beijo rude, como se dissesse que ainda não tinha terminado. Eu correspondo ao
beijo com igual intensidade. Depois de um minuto, ela começa a andar de costas, na direção
das escadas. Nós nos separamos para tomar fôlego, e ela sorri, pressionando os lábios contra meu
cabelo.

Subimos dois degraus antes de me dar conta de que não me olhei num espelho. Acabei de transar
com essa mulher e estou prestes a sorrir para sua família. Penteio freneticamente o cabelo com os
dedos e ajeito o vestido.

— Como estou?
Villanelle sorri.
— Como se tivesse acabado de transar.

Tento lhe dar um tapinha, mas ela é mais rápido; segura minhas mãos e nos gira até minhas costas estarem coladas à parede da escada. Ela
ajeita alguns fios soltos do cabelo, então passa os polegares debaixo de meus olhos.
— Pronto — diz ela. — Está linda. E inocente, como se tivesse dado um simples passeio pela casa.

— Ela me beija de novo, e sei que sua intenção era ser rápido e gentil, mas seguro sua cabeça e o puxo
para mais perto. Não me canso de seu gosto. Quero apenas estar de volta a meu apartamento, em minha cama com ela, beijando-a. Não quero ter que voltar lá para cima e fingir que quero torta, quando tudo que quero é Villanelle.

— Eve— murmura, segurando meus punhos e os pressionando contra a parede. —Quão rápido você acha que consegue comer uma
fatia de torta?

É bom saber que temos as mesmas prioridades.

— Muito rápido.- Digo

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Engoli a fatia de torta em cinco dentadas.
A família de Villanelle pareceram um pouco confusos com nossa saída apressada. Ela disse à
Irmã que tínhamos ingressos para uma queima de fogos eprecisávamos ir antes que perdêssemos o Grand finale.
Fiquei aliviada por ela não ter pescado o trocadilho na mentira.
Quase não conversamos no caminho de volta.
Villanelle diz que gosta de dirigir com as janelas abertas à noite. Ele liga o rádio e pega minha mão, segurando-a durante todo o trajeto até minha casa. Quando chegamos a meu apartamento, abro a  porta e caminho até a metade da sala de estar antes de me dar conta de que ela não me acompanhou. Dou meia-volta, e ela está encostado ao batente, como se não tivesse a menor intenção de entrar. Noto uma expressão preocupada em seu rosto,
então caminho de volta até a porta.

— Está tudo bem?

Ela assente, mas o gesto não convence. Os olhos passeiam pela sala, em seguida encontram os
meus com muita gravidade. Eu estava me acostumando ao lado brincalhão e sarcástico de
Villanelle. Agora o lado intenso, sério, ressurgiu.

Villanelle desencosta da porta e passa uma das mãos pelo cabelo
.
— Talvez isso seja… muito intenso. Muito rápido.

Sinto o rosto esquentar; não de um jeito bom,
mas de um jeito tão carregado de irritação que deixa o peito em chamas.
— Você está de sacanagem? Foi você que me obrigou a encontrar seus pais antes mesmo de eu saber seu sobrenome. — Levo a mão à testa,
completamente atordoada com sua decisão de desistir agora.
Depois de me foder.

Dou uma risada, não acreditando em minha estupidez. —Isso é surreal.

Recuo para fechar a porta, mas ela avança e a abre, me puxando pela cintura.

— Não. — Ela balança a cabeça com convicção. — Não. — Ela me beija, mas se afasta antes que eu sequer tenha a chance de rejeitá-la.

— É só que… Deus, não consigo encontrar as palavras nesse momento. — Sua cabeça pende para trás, como se não fosse capaz de digerir a própria confusão.

Elame solta e segue para o corredor, então anda de um lado para o outro enquanto organiza os pensamentos. Parece tão atormentada quanto da primeira vez que a vi. Também estava andando de um lado para o outro naquele dia, do lado de fora do apartamento de Niko.

Villanelle dá um passo em minha direção,
agarrando o batente da porta.
— Passamos um dia juntos, Eve. Um. Tem sido perfeito e divertido, e você é tão bonita.Quero pegar você no colo e levar você até sua cama, e foder você a noite toda, e amanhã, e depois, e é… — Ela passa uma das
mãos pelo cabelo rebelde, depois aperta a própria nuca. — Está dando um nó em minha cabeça, e sei que, se não me afastar agora, vou ficar bem decepcionado quando você perceber que não sente o mesmo.

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Voltei kkkkkk e trouxe comigo a discórdia e a confusão.