parte 13

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Gosto de seu jeito de pensar.
— O que mais? Filmes e comida são só o começo.
— Podemos falar de política e religião, mas melhor deixar esses tópicos para quando já estivermos apaixonados.

Ela fala com tanta confiança, mas também como se brincasse. De qualquer forma, concordo que devemos evitar política e religião. Esses assuntos costumam acabar em discussão mesmo quando as pessoas têm a mesma opinião.

— Definitivamente concordo em não falar das duas coisas.

Villanelle  segura meu punho e o puxa de baixo de minha cabeça. Entrelaça os dedos aos meus e pousa nossas mãos entre nós. Tento não pensar muito no quanto acho o gesto fofo.

— Qual seu feriado favorito? — pergunta ela.
— Todos. Mas tenho uma queda pelo Halloween.
— Não esperava essa resposta. Gosta do Halloween por causa das fantasias ou dos doces?
— Os dois, mas principalmente pelas fantasias. Amo me
montar.
— Qual a melhor fantasia que já usou?

Penso no assunto por um momento.

— Provavelmente quando meus amigos e eu nos vestimos de
Milli Vanilli. Dois de nós falávamos a noite toda, enquanto os Outros dois ficavam parados na nossa frente, dublando tudo o que era dito.
Villanelle rola de costas e ri.

-Que genial! — diz ela, olhando para o teto.
-Você se fantasia no Halloween?
Não tenho nada contra, mas nunca me fantasiei quando namorava Anna , porque ela sempre escolhia algo comum e vulgar.

Uma animadora de torcida vulgar. Uma enfermeira vulgar,
Uma puritana vulgar. — Ela hesita por um segundo. Não me entenda mal. Amo uma fantasia vulgar. Não tem nada de errado em uma mulher mostrar seus atributos, se é o que ela quer fazer. É só que Anna nunca me pediu para me fantasiar. Acho que, na verdade, ela queria toda a atenção, não a coisa da fantasia de casal.

— Que saco. Tantas chances desperdiçadas.

— Não é? Eu podia ter me vestido de vampira vulgar ou de assassino vulgar e gostosa.

— Bem, se ainda estivermos nos falando quando o Halloween chegar, podemos combinar fantasias vulgares.

— Se ainda estivermos nos falando?

Eve, Halloween é daqui a dois meses. Vamos estar quase morando juntos até lá.

Reviro os olhos.

— Você é muito confiante.
— Pode chamar assim.

— A maioria das pessoas 
pressionam para fazer sexo logo. Mas você me dispensa uma noite e aparece seis meses depois, só para me dar um toco outra vez e me forçar a conversar. Não sei se devo me preocupar.

Villanelle ergue uma sobrancelha.

—Não quero que tenha uma imagem errada de mim. Sou super a favor de sexo no primeiro encontro, mas você e eu temos uma eternidade para isso.

Sei que está brincando pelo modo como tenta manter a expressão neutra. Eu me desencosto do travesseiro e levanto a sobrancelha.

— Não tenho nada contra sexo. Compromisso eterno é que pega.


Villanelle passa o braço sob mim e me aperta contra si, fazendo minha cabeça repousar em seu peito.

— Você que manda, Eve. Se preferir que a gente finja que não somos almas gêmeas por mais alguns meses, por mim tudo bem. Sou uma ótima atriz.

Rio de seu sarcasmo.

— Almas gêmeas não existem.
— Eu sei.— retruca ela. — Não

somos almas gêmeas. Almas gêmeas são idiotas.

— Estou falando sério.
— Eu também. Muito sério.
— Você é um palhaço.
Ela encosta os lábios em meu cabelo, beijando o topo de minha cabeça.
— Que dia é hoje?
Ela é tão aleatório. Levanto a cabeça e o encaro.
— Oito de agosto. Por quê?

— Só quero que nunca se esqueça do dia em que o universo conspirou para nos reunir outra vez.
Pouso a cabeça em seu peito de novo.

— Você está pressionando demais. Vai acabar me assustando. Seu peito se move com o riso silencioso.

— Não, não vou. Vai ver só. Daqui a dez anos, no dia oito de agosto, vou me revirar em nossa cama à meia-noite e sussurrar:

"Eu avisei".

— Você é tão convencida assim?
---- Muito.

Eu rio. Rio um bocado enquanto conversamos. Não sei quanto tempo ficamos na mesma posição, conversando, mas ainda tenho
um milhão de perguntas quando começo a bocejar. Luto contra o sono, porque falar com ela é ainda mais relaxante que dormir e quero lhe perguntar coisas a noite toda.
Eventualmente, Villanelle vai até a cozinha para pegar um copo de água. Quando volta ao quarto, apaga a luz e deita na cama às minhas costas, de conchinha. Sinceramente, não é o que eu esperava desta noite. Não depois do modo como me abordou no restaurante, e, então, apareceu em meu apartamento. Pensei que ela tivesse uma só coisa em mente.

Não podia estar mais enganada.
Envolvo seus braços com os meus e fecho os olhos.

— Achei que a história de não transar fosse brincadeira 
sussurro.
Eu a sinto rir brevemente.

— Ficar de calça fechada não é tão fácil quanto parece. — Ela pega minha mão e leva ate sua calcinha úmida

— Isso deve ser desconfortável — provoco. —Tem certeza de que não quer mudar de ideia?

Ela tira minha mão de lá e me aperta mais, beijando um ponto perto de minha orelha.

-Nunca estive tão Bem.

As palavras me fazem enrubescer no escuro, mas não respondo. Não tenho uma resposta boa o bastante. Fico quieta por vários minutos até que ouço sua respiração se acalmar em um  padrão regular. Logo antes de eu adormecer, Villanelle sussurra
em meu ouvido:

— Achei que nunca mais veria você.

Sorrio.

— Ainda posso sumir.



— Não suma.

Tento dizer: "Não vou sumir", mas ela coloca a mão entre meu rosto e a almofada e faz com que eu vire a cabeça até sua boca alcançar a minha. Um beijo na medida certa. Não muito breve, mas não tão longo que pudesse levar a algo mais. É o beijo perfeito para o momento perfeito.

Todas as suas (im)perfeiçõesOnde histórias criam vida. Descubra agora