LIPSON

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Após um longo dia arrancando todos os restos de legumes e verduras que o redemoinho arrancou e espalhou pelo campo, eu estava cansada, a garoa ainda permanecia desaguando dos céus, a chuva havia vindo para ficar, assim como meu desconforto emocional e sentimental por Graviel.

- Pelo menos vou conseguir descansar agora. Já estava escurecendo e minhas lamparinas estavam quase todas acesas. Olhando pela porta de entrada da minha cabana, a terra me pareceu mais macia e isso era bom, eu poderia descansar em paz.

Entrei na cabana que já estava acostumado a chamar de casa, se é que eu poderia pensar em continuar aqui, me lavei e me deitei na cama após acender uma lamparina ao lado e pegar um dos livros empoeirados debaixo da cama velha.

"Após o monstro ter engolido todo o meu planeta, não entendi como caímos, todos os habitantes de Lipson, na face de um planeta com tantos segredos."

- Lipson. Eu repeti baixo diversas vezes, tentando me lembrar de onde eu a conhecia.

Me lembrei das histórias de turco de 2.000 anos atrás.

Lipson foi um reino criado em Estramúdio, o único reino que, por sinal, conseguiu a mudança de todos os habitantes para um outro planeta durante a guerra, para mantê-los seguros. O Rei os levou para um planeta sem nenhum habitante anterior e isso nunca foi feito em toda a história, mesmo porque era impossível a sobrevivência de todos os habitantes vivendo em um novo planeta desconhecido.

- Isso foi há tanto tempo... - E Lipson foi retirado da órbita da União e do Claelum, ele nunca mais foi visto. - Quer dizer então que o Leviatã também o engoliu, assim como Trista? Voltei à leitura ainda mais empolgada para saber sobre a história do Sr. Delfazão, ou qual o motivo de ele estar preso em Nirote e não poder voltar para Manuaí.

"Todos os habitantes de Lipson caíram em um planeta ainda mais desconhecido, poucos conseguiram sobreviver, já que a noite é dona de uma escuridão sem fim. O frio das manhãs arrepiantes, combinado com os ventos das montanhas e a alta temperatura da tarde, fritava qualquer criatura viva. Havia somente uma hora que era favorável para todos, o entardecer, quando o vento do final do dia soprava. Nós Lipsalais nos escondíamos embaixo de duas enormes pedras centrais, com os olhos fechados e o coração esperançoso por uma chance de abrir os olhos novamente e percebermos que ainda estávamos vivos.

As crianças subiam em uma enorme árvore e eram amarradas para que não caíssem à noite. Perdemos tantas crianças que, parando para pensar, não éramos mais Lipsalais felizes como antes, onde nosso reino era conhecido por irradiar alegria e felicidade. Atualmente chorávamos a tristeza das perdas, mas não podíamos voltar para a guerra.

Nós já éramos sobreviventes de dor e aflições, logo destruídos, amordaçados pelo feroz desconhecido e, se continuássemos onde estávamos antes que pudéssemos ver nossas antigas casas destruídas e as crianças mortas em suas camas, tentamos pela última vez nos entregar a uma única esperança que foi a pior delas, a escolha de fugir que originalmente veio de mim e de meu irmão, hoje eu me arrependo profundamente de ter concordado com essa loucura.

Eu mesmo, durante minhas pesquisas, sentado depois de tentar um tipo de esquema para conseguirmos água, a culpa me corrompia. Constatei que aquilo que estávamos vivendo era consequência do que acontecia dentro do grande monstro que, por alguma razão, reconheceu nosso novo planeta como alimento e nos engoliu, pouco tempo depois da mudança. Declarei que a única água era o suco gástrico misturado com a saliva do mostro, isso também explicava as gosmas em volta do rio.

A noite era tão escura pelo fato de que o único provedor de luz daquele local era a luz que entrava pelos olhos do monstro. Assim que fechasse seus olhos para dormir, a luz cessaria no exato momento, nos deixando propensos a qualquer perigo naquele período.

Pelo Sangue da Besta (Saga Leviatã)Onde histórias criam vida. Descubra agora