APRESÁGIO.

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Despertei entre lírios cor-de-rosa, flores de uma beleza estonteante. Sem saber como cheguei ali, não senti medo, apenas uma leve surpresa e fascínio pelas flores e suas cores vibrantes. Deitada na grama verde e macia, admirava os lírios e a suavidade de cada pétala clara, delicada e sedosa.

As flores eram realmente distintas entre si, e suas diferenças despertavam em mim uma curiosidade recíproca para admirá-las.

"- Aproximem-se."

Uma voz distante ecoou, semelhante ao som de um trovão, firme e profundo, surpreendentemente poderoso e corajoso. Apesar da confusão, considerei ignorá-la, mas acabei por seguir seu comando.

Ao me levantar, observei várias outras meninas se erguendo ao mesmo tempo que eu, e ao meu redor, todas pareciam idênticas.

Todas as loiras de olhos azul-claro eram adornadas com um dourado incomum, aproximadamente metade delas, enquanto a outra metade tinha cabelos alaranjados como brasa, envoltos por um brilho prateado encantador que capturou minha atenção. Elas começaram a se mover para o norte e, sem muita escolha, apressei-me em segui-las.

Durante o caminho, toquei cada flor, sentindo a textura macia dos dente-de-leão e o aroma doce das sempre-vivas, admirei as várias tonalidades de rosa das rosas e botões e também observei o verde vibrante da campina atrás de mim. Ali estava a paisagem mais bela que já vi em toda a minha vida, um campo de lírios roxos de tirar o fôlego, tão vasto que era impossível ver onde começava ou terminava, uma imensidão que ficaria para sempre em minha memória, uma obra de arte real eternamente gravada em minha mente frágil.

Voltei minha atenção para as garotas, reuni-me com elas em um local um pouco mais sombrio, afastado do brilho e da maravilhosa paisagem do campo de flores ao longe. Perto das meninas, notei que algumas tinham orelhas pontiagudas, adornos ao redor da cabeça e mechas douradas entrelaçadas nos cabelos que reluziam com graciosidade ao se moverem. Muitas outras pareciam comuns, exceto pelas unhas mais longas e olhos esverdeados como esmeraldas polidas e luminosas, as mesmas que me atraíram pelo brilho prateado ao redor, mas uma coisa era comum entre nós: nossas idades.

Após nossa chegada ao local, todos trocaram olhares curiosos até que começaram a notar também a mim, minhas vestes, feições e aparência, com um desdém e desprezo tão evidentes que me causaram um desconforto palpável. Eu não entendia o que estava errado, tampouco qual poderia ser o problema.

Examinei meus pés, que eram bastante comuns. Minha vestimenta de um lilás suave não diferia muito das outras, sem nenhum brilho na pele pálida ou qualquer peculiaridade nos braços, pernas ou mesmo nos ombros. Mãos normais, sem unhas longas nem curtas, de um tamanho médio que não me parecia de forma alguma notável ou interessante.

Finalmente, deparei-me com mechas de cabelo negro caídas sobre os ombros; um choque fez a bile subir à minha garganta e as palpitações em meu peito despertaram o medo, causando-me arrepios. Naquele momento, percebi a diferença. A intensidade da voz que nos chamara minutos antes me assustou, e, por curiosidade, optei por ignorá-la, fingindo que estava tudo bem. Esforcei-me para me integrar às outras, um pouco envergonhada, escondi os cabelos atrás e permaneci de pé, apenas mais uma na multidão, esperando que ninguém me notasse.

Uma a uma, todas as garotas foram chamadas à frente; eu não conseguia ouvir o que diziam e, entediada, ansiava por retornar à campina. Com um pouco de coragem, decidi caminhar de volta ao local onde estivera antes, desejando deitar minha cabeça na grama fresca e inalar o aroma das flores enquanto contemplava o céu. Meus passos me levaram inconscientemente em direção aos lírios e ao campo verdejante, mas um muro transparente surgiu, revelando uma de minhas inúmeras prisões.

Pelo Sangue da Besta (Saga Leviatã)Onde histórias criam vida. Descubra agora