A cadeira caiu mais uma vez, minhas costas doíam com esses movimentos repetitivos, já seria a sétima vez. Me soltei das correntes, percebendo ter me teletransportado, desta vez, para o meio da floresta. Levantei-me, observando ao redor, um pouco devagar com a dor do impacto, me endireitei e dei alguns passos para esticar as pernas enquanto me alongava.
- Quieta!
Um homem de bigode branco tinha acabado de colocar uma espada em meu pescoço. Um passo em falso e eu morreria com um corte na artéria. Quase elogiei seu desempenho, mas continuei imóvel já que era quase impossível pegar minha espada.
Levantei as mãos enquanto outro guarda me revistava, e eu reparei que ao redor, eu estava cercada de guardas armados e homens, por sorte minha, todos eles eram homens. Revirei os olhos antes de começar a tentar me apresentar, já que era essa minha tarefa.
- Sou Damara, Mandri da Rainha...
- Calada!
O homem de pele escura quase tanto como a noite de perum, cabelos brancos como leite e olhos penetrantes se aproximou fungando sobre minhas sobrancelhas, ele era alto o suficiente para me fazer silenciar.
Os demais guardas guardaram suas espadas e armas, pouco tempo depois eu já estava algemada e, por fim, segui em direção a uma sela não muito distante de onde estávamos.
O lugar era incrivelmente vigiado e impenetrável. Uma ponta de deslumbre percorreu meus olhos e eu fiquei quase que lisonjeada em ser presa ali.
Já havia conhecido prisões piores, e já recebi ordens para deixar algumas delas quase que inabitáveis, mas essa cela era bem limpa e eu agradeci por ter uma cama quase que confortável dentro dela. Algumas poucas horas depois, foi oferecido um jantar resumido, pão, ovo, carne e algum tipo de erva, acompanhado por um suco de frutas frescas.
"Se eu fosse um comandante ou um encarregado, selas assim seriam cortesias para os visitantes."
As luzes foram apagadas assim que terminei de comer, eu me deitei, mas mesmo assim, o silêncio se tornava brutal e eu não conseguia cochilar nem sequer por um instante.
Me senti solitária quase todo o tempo e a noite se estendeu preguiçosamente. Tentei contar Theores, mas tudo se findava com tédio e uma pitada de saudade do meu tigre de estimação.
Minha mochila, armadura, água e comida me foram tirados, até mesmo o Bloquin que carregava a mensagem da rainha, mas eu ainda tinha minha espada, escondia por dentro das minhas roupas, se fosse preciso.
Já está de madrugada, percebi que os vigias estão sendo trocados de seus turnos, enquanto meus olhos cansados procuravam confortavelmente um ângulo para se acomodar e eu caí no sono no mesmo instante em que a ruruny coaxou próximo à minha janela pela terceira vez.
[...] [...]
- Bom dia!
Acordei um pouco assustada, bati a cabeça no teto acima do local onde eu havia me deitado para dormir, uivei de dor. A "cama" que agora mais parecia uma gaveta na parede, era mais baixa que o restante da cela, mas, pelo menos, eu havia dormido bem, de certa forma.
Passei a mão direita por onde doeu, daqui a algumas horas eu teria um calombo na testa, quase do tamanho de uma carota. Levantei-me para "agradecer" o dono da voz pelo presente, já que eu deveria conviver com a pontada de incômodo pelo resto do dia.
Minha expressão raivosa não incomodou o homem, já que ele estava do outro lado das grades de aço. Prosseguiram-se poucos segundos até que ele me analisasse, ainda escondido nas sombras da prisão.
- Disseram que você chegou em um Ilunal ontem à tarde. - Que faz perguntas demais e que seu nome é Damara, a Mandri de uma tal Rainha.
O moço abriu a porta da cela e, com um gesto desleixado, me mandou sair. Percebi seus passos leves, sua voz bruta e sua altura esguia. Mesmo tendo talvez o dobro do meu peso, meu sangue ainda fervia por ter sido recebido daquela forma em Mertax.
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Pelo Sangue da Besta (Saga Leviatã)
FantasiaLivro I - Saga Leviatã - O que você faz quando o coração diz sim, mas a mente diz não? O que você faz quando todos te abominam ou detestam, quando a sua vida se torna um apoio? Ela era apenas uma jovem decidida a não se comprometer, decidida a lutar...