ARREPENDIMENTO

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Há três dias, sigo minha rotina ininterruptamente.

Sempre ao acordar, eu realizo minha inspeção por toda Caelum, observando as árvores e espiando secretamente os três últimos moradores. Em cada momento, repasso detalhadamente os eventos de Roraxy e reflito sobre a recuperação de Graviel. Por fim, verifico se tudo está em ordem. Prossigo com minha caçada, colhendo frutas e verduras para me sustentar durante o dia, antes de retornar para casa.

Treino sempre o Theor, meu imenso tigre, e acabo com alguns arranhões, mas para ele, é apenas diversão. Arrumo a casa e estudo o mapa, ponderando sobre todas as terras que explorei nos dez reinos, além de Uriel e Caelum.

"Se as premonições de Aliferouz estiverem corretas, quais seriam as possibilidades de escaparmos? "

Tentei considerar todas as opções, mas não encontrei nenhuma. Era necessário estudar sobre o Leviatã, porém eu não possuía os livros adequados, pelo menos não em Caelum. No primeiro dia de questionamentos, desisti e me frustrei, adiando essa pesquisa para depois do sorteio e, ao final do dia, fui lavar-me no riacho deserto.

Ao anoitecer, realizei mais uma ronda e não consigo entender por que todas me fazem pensar em Graviel. Já tentei esquecê-lo várias vezes, mas sempre acabo me perguntando se o Comandante de Roraxy está bem.

"Será que ele se recuperou dos ferimentos?"

Após me alimentar e cuidar de Theor, deitei-me. Refleti sobre inúmeras maneiras de escaparmos de ameaças como o Leviatã e adormeci ao som da chuva, que caiu ao longo do restante da pacata semana.

Suspirei aliviada, acomodando-me no colchão, contente por finalmente retornar à minha vida sem guerras ou combates em nome de Uriel.

Recordo-me de que, frequentemente, nos campos de batalha, o general, os comandantes, os encarregados e os líderes possuíam suas próprias tendas. Eles enfrentavam o frio sob peles de lobos brancos e dispunham de braseiros ao lado de suas camas macias, adornadas com travesseiros de algodão e seda de mil fios. Os subordinados do batalhão eram forçados a se arrastar para além das tropas, enfrentando o frio cortante que desafiava a hipotermia, dormindo abraçados para não congelar, e muitos tinham que se manter acordados, exercitando-se para manter o sangue aquecido. Dormíamos em pé junto às tendas quando chovia, fervíamos água para beber durante a viagem e rezávamos para que pudéssemos despertar vivos no dia seguinte.

Bom dia, Theor. Voltei da minha ronda e despertei o tigre preguiçoso que dormia na minha cama. Ele se virou para que eu coçasse sua barriga. Theor tem dez anos e não consigo imaginar perdê-lo. Olha, preciso que você cuide de Caelum novamente; tenho que partir para uma missão e sairei hoje, Theor. Coloquei as frutas que recolhi na ronda numa vasilha de barro sobre a mesa. Peguei o pacote que estava aberto no criado-mudo ao lado da minha cama desfeita e o levei para a mesa da cozinha.

- Então, abri o bilhete que já tinha espiado e li em voz alta para Theor. - Recomendações: primeiro, esteja limpa - unhas, cabelo, ouvidos e dentes. - Bem, parece que precisarei tomar um banho pela manhã. Observei minhas unhas encardidas e cheias de terra.

Peguei uma toalha de algodão e fui ao riacho com uma faca para limpar as unhas, um pouco de óleo de coco e sabão para o cabelo e uma mistura de menta para os dentes.

Levei três horas imersa no riacho para me limpar conforme as instruções.

Voltei para casa envolta na toalha para ler as demais recomendações.

- Segundo, vista-se adequadamente. Examinei o vestido claro que veio com o bilhete no pacote.

- Terceiro, cabelo preso e bochechas rosadas. Sorri, descartando o papel na mesa e caminhando até meu quarto para vestir o traje. Prendi o cabelo, deixando a franja solta por ser mais curta.

Pelo Sangue da Besta (Saga Leviatã)Onde histórias criam vida. Descubra agora