NIROTE E MANUAÍ

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Acordei rápido com alguma coisa mexendo em meu nariz.

- Olha, acordou. Um homem ao meu lado começou a me bater sem qualquer motivo.

- O que está fazendo? Eu gritei alto, mas já estava com as mãos amarradas.

O homem baixo me puxou para que me levantasse quanto antes e eu o fiz, sem ter outra opção. - Graviel? Chamei pela única pessoa que deveria estar comigo, não havia mais ninguém ali, além do homem baixo, magro e corcunda com uma bengala que mais parecia um galho nas mãos, juntamente com a corda que amarrava meus pulsos.

- Está chamando pelo garoto ranzinza? O moço tinha alguns poucos dentes na boca e eu não poderia imaginar o que ele comia para ficarem escuros daquela forma.

- Sim, onde ele está? - O que você fez com ele? Eu tentei me soltar das amarras pela terceira vez, mas sem sucesso. Minha raiva cresceu mais um pouco com o sorriso do velho.

- Comi! O homem mordeu o ar e puxou minhas amarras com força em direção à saída da gruta.
- Agora vamos. Ele me tirou de lá a tropeços.

Eu estava fraca por não ter comido nada, me desestabilizei e caí no chão empoeirado assim que saí à luz do dia.

- O que você tem? - É doente por acaso? O homem parou quando minhas amarras travaram seus passos, enroscando-se em seu cinto de ossos e carcaças.

- Estou sem alimento há muito tempo. Engoli a seco e me apoiei na perna direita para tentar levantar.

- Vai comer quando chegarmos na aldeia. O homem cuspiu antes de me oferecer algo para beber. - Agora beba isso, vai ajudar, é uma longa viagem.
Peguei a bolsa vermelha com rapidez e desejei o líquido, guardando nas bochechas até terminar de engolir toda a água.

- Espere, a montanha é para lá. Eu apontei para o Norte, tentando me virar com a esperança de ver a montanha e que, talvez, o homem estivesse velho demais para lembrar o caminho. O homem não prestou atenção e continuou andando e me arrastando o suficiente para não conseguir perder tempo ao me virar.

- Não vivemos na montanha. - Lá vivem os Mauí traiçoeiros, bárbaros e incomunicáveis. - Há, você vai adorar nossa aldeia. O velho sorriu enquanto meu suor pingava pelas pontas dos meus miúdos cabelos grudados à minha testa.

Logo quando achei que havia me enganado, o homem confirmou minha conclusão anterior. Certamente havia alguma civilização morando lá, talvez fosse para lá que Graviel havia ido, ou voltaria até a gruta para me procurar algum momento.

- Como uma prisioneira? Olhei para as cordas e percebi a maneira como eu era puxada e arrastada pelo caminho de pedras pontudas, sem descanso, comida ou gentileza do homem.

Se eu fosse uma convidada, seria diferente, acho que a palavra hospitalidade não mudou de sentido desde que eu fui engolida por um monstro gigante.

- Sim, será assim, até eu ter certeza de que posso confiar em você. O homem parecia dormente por andar descalço nas pedras pontudas, já que meus sapatos eram fincados por algumas pedrinhas, muitas vezes ao longo do caminho.

Eu agradecia quando elas saíam pelos meus pontapés no ar, após o desconforto e o incômodo de tentar tirá-las por metros adiante.

O homem falava demais e eu mal conseguia escutar meus pensamentos com o pouco silêncio entre seus diálogos e monólogos.

Se o homem disse que havia duas aldeias, provavelmente teriam bem mais habitantes na barriga do grande Leviatã do que eu imaginava e aquilo poderia ser questionado ao longo da minha prisão, sabe-se lá, onde ou até quando.

- Onde estamos? - Quem é você? Eu queria indagar o homem com questões mais importantes além da sua conversa fiada, já que ele não fechava a boca.

- Perguntas, eu odeio perguntas. O homem parou, se sentou e bebeu um pouco de água de outra sacola vermelha, já que eu havia acabado com sua água da primeira sacola.

Pelo Sangue da Besta (Saga Leviatã)Onde histórias criam vida. Descubra agora