UM PONTO...

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Senti uma queda, como se o ar esmagasse superficialmente meus pulmões.

Meus pelos se arrepiaram e eu sorri com a sensação de cócegas.

Caí desajeitada com o impacto. Minhas costelas rangeram.

- Pela Deusa! Procrastinando, me levantei com dificuldades.

O ar era rarefeito, mesmo caindo e não subindo. E o calor era imensamente desconfortável.

O lugar era silencioso, empoeirado e vazio.

Agradeci por ter me espatifado bem perto do que me parecia ser o coração do Leviatã.

Me aproximei, surpresa. Afinal, era a única coisa do recinto.

Sentia pulsar as batidas sob o chão de terra seca.
Era como se alguma coisa também pulsasse sobre meus ossos e por dentro da minha pele, me arrepiei mais uma vez.

Eu estendi a mão direita com receio, toquei levemente a enorme pedra avermelhada à minha frente. No exato momento, senti uma coisa dentro de mim se acalmar.

Um arranhão percorreu meu peito. Algo ardido tocou meu coração.

Eu senti.
Nós estávamos ligados.

Uma mistura de emoções doía meu subconsciente, me impulsionava a querer desistir e a me deixar levar, simplesmente fluir, como um rio. Aquele mesmo rio que me queria antes, que chamava e que eu sentia que precisava aceitar.

Mas o desejo de me unir a ele me dava medo.

O impulso e a pulsação me enjoavam, junto com a sensação de estar derretendo e dissolvendo no ar como pó. Eu não queria aquilo, mas eu precisava.

A força que eu ainda tinha, de me manter de pé, era a única força que me restará. Até eu fechar os olhos.

Eu me esqueci, apaguei, desisti e aceitei.

[...] 

Um grito agudo saiu dos meus lábios e minha mente dolorida via...
Ela via tudo.

Cada estrela e cada planeta que o Leviatã já havia visto.

Como ele os engolia, como os encolhia e como eu faria para tirá-los dali.

Mas a sensação era diferente, um instinto aguçado de saber onde cada Minuaí morria e exatamente onde cada Nirote fazia jorrar sangue pela terra durante todos esses séculos e poucos segundos antes de eu vir para cá. Esses detalhes me faziam querer vomitar.

Eu era ele, eu fazia parte daquilo.

Eu sabia que eles não eram dignos da misericórdia ou da justiça, a mesma que eu estava planejando dar.

Uma pressão me fez cair e uma voz ecoou no lugar vazio e silencioso.

- E foi assim que você nasceu.

A voz era delicada e, mesmo com meu corpo todo dolorido, eu me levantei desconfiada.

- Quem é você? Meu peito doeu e eu cambaleei um pouco, me aproximando das sombras do outro lado do lugar.

- Eu sou você em uma alma passada.

- Bom, era para eu ser você.

Um pequenino menininho saiu da escuridão e se achegou a mim. Ele era azul, um pouco transparente e brilhava como pó de fada.

- Você foi o primeiro, Ezlyn.

Eu havia lido sobre seu nascimento nos diários dos gêmeos Delfazão. Era o bebê que não havia conseguido sair com vida antes que o Ancião soubesse.

Pelo Sangue da Besta (Saga Leviatã)Onde histórias criam vida. Descubra agora