SANGUE E LÁGRIMAS

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Havia momentos em que tudo ficava em silêncio e momentos em que eu ouvia algumas vozes.

Pela pouca luz que entrava na tenda, eu não conseguia saber ao certo se tudo havia escurecido lá fora ou se ainda estava iluminado.

Não me foi dado nada além de pão e água. Eu tentei focar minha atenção em minha respiração e nos barulhos imperceptíveis do lado de fora, o som do meu suor pingando no vidro temperado abaixo dos meus pés me fez ter a certeza de que estava calor o suficiente para queimar sorja.

A caixa de vidro era apavorante quando as vozes desapareciam. Depois que comi todo o pão e até mesmo as migalhas, eu me sentei abraçada a mim mesma e cochilei por um tempo.

Acordei com um vento fraco vindo de um dos quatro lados da caixa, e uma sombra esguia me cobriu repentinamente. Sonolenta, eu me forcei a levantar.

- A senhorita é um tanto quanto sortuda. O mesmo homem de mais cedo me ofereceu a mão, terminou de me colocar de pé com facilidade e amarrou meus pulsos com uma corda. Com um olhar de perdão, me pediu para segui-lo até a tenda mais cedo.

Ao caminhar mais calmamente, eu observei melhor todas as tendas que haviam sido estipuladas por mim, como comércios. Elas estavam sendo desmontadas naquele momento. Na minha esquerda, um pouco longe, percebi uma movimentação.

Uma cabeça loira me chamou atenção, com toda certeza era Aliferouz. Ele também estava amarrado e sendo levado para outra direção, com dificuldades pela perna quebrada.

- Aliferouz. Não pude deixar de chamá-lo, eu queria conversar com ele e saber se ele estava bem.

- Dama. Ele procurou por mim e encontrou meus olhos depois de segundos. Seu olhar era fraco e cheio de lágrimas.

Eu queria abraçá-lo, queria o acalmar e dizer que ficaria tudo bem. Mas eu não poderia, não quando eu prometi dar minha vida pela dele, eu precisava terminar o que comecei, já que ele estava aqui agora e em segurança.

Fui puxada para terminar de entrar na tenda que nem mesmo percebi que havíamos chegado, me desequilibrei e caí. Desta vez, tomei cuidado com o rosto, que mesmo assim se sujou.

- Zeta. Não levantei os olhos de imediato, mas observei os pés descalços do homem à minha frente, deduzi que seria mais velho e que seria o líder. - Encontrou essa moça observando seus filhos e me pediu um Ceral. O homem confirmou, se posicionando bem à minha frente juntamente com o outro descalço.

- Tem certeza? - Um Ceral não seria apropriado. A voz do homem era rouca e desconfortável, suspirei, engasgando quando percebi começar a ficar um pouco zonza.

- Senhor, peguei essa mulher chamando pelos meus filhos. Dessa vez era Zeta, eu deveria saber que ela também estaria aqui. - Se tiverem alguma coisa contra mim ou aos meus filhos, eu preciso saber. Ela me parecia impaciente e eu realmente me importava com ela. Queria muito dizer que eu nunca faria mal a nenhum de seus filhos, mas a vertigem me fez ficar enjoada e era melhor esperar tudo passar antes de vomitar nela e piorar as coisas.

- Traga a cadeira de Gar. Um outro homem ordenou.

- Sim, senhor. Eu não fazia ideia do que significava uma "Cadeira de Gar", nem mesmo para o que servia aquilo. Mas fez minhas mãos suarem.

Fiz questão de afastar a sensação de enjoo levantando a cabeça e, com os olhos ainda fechados, respirei fundo, relaxando os ombros.

Eu não olhei para o homem que posicionou a cadeira, mas observei todos os nove passos dados por ele com a audição, até me erguer do chão e desamarrar minhas mãos. Então, só assim eu abri os olhos.

Pelo Sangue da Besta (Saga Leviatã)Onde histórias criam vida. Descubra agora