Prendo uma mecha de cabelo atrás da orelha e viro-me para olhar para ele por cima do ombro. Loyal sacode a cabeça, afastando a franja negra como piche dos olhos. Ele está concentrado em anotar algumas partes de um livro grosso de história e seu rosto está apoiado em uma das mãos pálidas. Não há ninguém na mesa com ele e meu coração dispara quando penso em me convidar para sentar ao seu lado.
Não sei se foi seu estilo largado e sombrio ou se foi seu rosto frio e bonito que me chamou atenção, mas desde que pus os olhos em Loyal pela primeira vez, algo em mim se acendeu como uma pequena chama que só cresce. Isso foi há dois anos. Namorei dois garotos desde que o vi, em fúteis tentativas de tirá-lo de meus pensamentos. Afinal, não costumo correr atrás de rapaz algum e muito menos ficar pelos cantos suspirando feito uma sonhadora ingênua. No geral, sou bem direta e prática quando gosto de alguém.
Mas com ele é diferente.
Sempre que tento me aproximar, algo dá errado e as palavras simplesmente não chegam aos meus lábios. Há dois dias, ele tomou a iniciativa e veio falar comigo. Perguntou se eu iria à festa das Sinistras. Eu gaguejei que sim. Ele disse que nós veríamos lá. E foi embora.
Decidi interpretar seu gesto da melhor maneira possível: como um convite.
No entanto, aqui, olhando para ele a duas mesas de distância na biblioteca completamente silenciosa, não tenho tanta certeza. Loyal mal deve importar-se com quem eu sou ou com o que faço.
Suspiro e, de repente, ele levanta a cabeça do livro e olha diretamente para mim, como quem diz Você não sabe de nada. Sinto um calafrio pelo corpo e baixo os olhos para meu caderno. Preciso terminar a lição de cálculo, preciso terminar a lição de cálculo, preciso terminar a lição de cálculo.
Uma mão puxa a cadeira de madeira ao meu lado e o dono dela se senta. Não preciso nem olhar para saber quem é, e não olho.
– Problemas com a lição de casa? – a voz de Loyal soa como uma lixa, como se ele não falasse há bastante tempo. Ele limpa a garganta.
Levanto o rosto e o encaro.
– N-não. Tudo bem.
Ele apoia os cotovelos na mesa e junta as mãos. Há um anel prateado em seu dedo anelar e uma tira de couro em um dos pulsos.
– Sabe, eu... – ele começa a dizer, mas desiste. Olha para as próprias mãos e depois para mim. Seus olhos são cinzentos. – Eu poderia ajudá-la com isso. É cálculo, certo?
Pisco duas vezes.
– Você me convidou para a festa das Sinistras? – pergunto, num impulso.
Desejo retirar o que disse imediatamente, mas é tarde. Ele ouviu bem.
– Festa? – franze a testa, confuso. Seu rosto então se ilumina. – Oh, sim. Aquela festa. Bem, acho que podemos dizer que fui desconvidado.
Franzo a testa.
– Desconvidado?
– Sim. Uma das três, a dona da casa, queria que eu fosse apenas para tirar fotografias de graça – Loyal faz uma careta. – Mas eu valorizo meu trabalho, sabe. Prefiro passar a noite sozinho e dormir mais cedo do que trabalhar por nada.
– Eu não sabia que você tirava fotos – digo com mais calma do que pensei que diria. Estou mais calma.
Loyal tira o cabelo negro dos olhos com as costas da mão.
– É, eu tiro algumas. Paga meu jantar e aluguel.
– Você mora sozinho?
– Sim.
Estou louca para perguntar sobre a família dele e sobre muitas outras coisas, mas crispo os lábios. Não quero ser invasiva.
– E quanto a você? – Loyal indaga, com um meio sorriso. – Só te conheço de longe. Qual é o seu lance?
Não contenho uma risada.
– Meu lance?
– É. Eu sou aspirante a fotógrafo – ele dá de ombros. - Meu lance. Qual o seu?
Penso por um segundo.
– Bem, eu adoro escrever peças de teatro. E atuar. E dirigir.
– Ah – ele assente. – Artes cênicas. Não somos tão diferentes.
Sorrio. Ele é mais fácil de conversar do que pensei. Só precisava dar o primeiro passo.
– Então... sobre essa festa...
– Você não vai – concluo, dando de ombros.
Loyal sorri.
– Não. Desculpe se te fiz interpretar de outra maneira...
Levanto as mãos.
– Sem problemas.
Mas estou mentindo. É claro que é um problema. Loyal não quer realmente sair comigo, do contrário teria proposto que fizéssemos alguma outra coisa que não fosse ir à festa. Tudo o que ele está fazendo, toda essa conversa fiada que estamos alimentando, não passa de gentileza entre colegas.
– Preciso ir – pego meu caderno e minhas canetas coloridas espalhadas pela mesa. Deixo cair uma, mas Loyal a recolhe do chão e me entrega. Não olho para ele. – Obrigada.
– Não por isso. Nos vemos por aí, Lola.
Sorrio amarelo e saio a passadas rápidas da biblioteca. Espero que ele não esteja olhando para mim.
Quando encontro Effy no corredor, puxo-a para um canto. Seus cabelos cor de rosa estão bagunçados e ela está com curativos nos cotovelos e joelhos. Não sei o que essa garota anda fazendo, mas espero que pare. Às vezes os segredos de Effy me perturbam.
– Lola – ela arregala os olhos -, está tudo bem?
Arquejo.
– Não – respondo. - O que aconteceu com você?
Ela olha para os curativos e revira os olhos.
– Prosper.
Cubro a boca com as duas mãos.
– Ele bateu em você?
– Não – ela franze a testa. – É claro que não. Ele... ele se afogou e eu tentei ajudá-lo.
– Mas por que está machucada desse jeito?
Effy revira os olhos outra vez.
– Isso não vem ao caso, eu estou bem. – Sua mão pousa em meu ombro. – Você é que não parece estar num bom dia. O que houve?
Suspiro. Não quero contar o quanto fui burra e interpretei mal as ações de Loyal. Effy é tão forte e determinada que demonstrar esse tipo de fraqueza perto dela é quase como implorar para que ela ria de mim.
– Loyal não vai à festa – digo simplesmente.
– Oh. Ele desmarcou com você?
– Não, não exatamente. Foi... um cancelamento mútuo do nosso... encontro.
Effy franze a testa, desconfiada. Mas então lembra-se de algo e cobre o rosto com as mãos.
– Você não vai acreditar no que aconteceu, Lola – resmunga, como se estivesse prestes a dizer que tirou zero numa prova importante.
Arqueio as sobrancelhas.
– Diga, diga.
– É Prosper – ela morde o lábio, vermelha como um pimentão. – Ele quer sair comigo num encontro.
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A Consciência de Ricky Prosper (VOLUME 1)
Novela JuvenilRicky Prosper é diferente. Suas notas são incrivelmente melhores que as de qualquer aluno, sua aparência é de dar inveja a astros de cinema e sua sorte nunca falha. Certo dia, algo ainda mais fora do comum acontece ao rapaz: uma voz começa a convers...