Lola

6.9K 618 220
                                    

     Minha garganta arde tanto que parece que engoli pregos. Cuspo e tusso, caída de joelhos no chão sujo e frio, cheio de uma gosma preta nojenta que me lembra piche. Os olhos de Loyal estão sobre mim, impacientes e arrogantes, e tudo o que eu mais quero agora é recobrar minhas forças e dar um belo soco bem no meio da cara dele.

     Ainda não sei bem o que aconteceu. Num segundo, estávamos no meio daquele bar fedido e cheio de homens fortes e assustadores. Eu estava apavorada - principalmente porque fui levada até lá contra a minha vontade. Então, de repente, havia um buraco negro no chão e Loyal saltou para dentro dele comigo. Foi como mergulhar em águas escuras e tão geladas que meus ossos doíam e meus pulmões pareciam ser incapazes de conter o ar que prendi. E aí emergimos.

     - Pronto? - Loyal pergunta, pela terceira vez.

     - Não... se atreva a me apressar - minha voz soa como a de uma velha. - Des...graçado.

     Ele dá uma risada sarcástica.

     - Desgraçado? É assim que você chama a pessoa que acaba de te livrar da morte? - Ele estala a língua. - Você só está me atrasando...

     - Devia ter me deixado morrer então!

     Loyal rosna e se aproxima. Ele pega um dos meus braços e passa ao redor de seu pescoço, enquanto me ergue do chão. Nós dois estamos sujos de gosma preta, então não posso ver a expressão que ele tem no rosto.

     - Não pensei que fosse viver o suficiente para ter que carregar uma humana.

     Cubro a boca e tusso novamente.

     - Eu posso andar...

     - Nem se incomode em bancar a forte agora - ele me interrompe e começa a andar comigo nos braços. É desconfortável.

     Fito seu queixo.

     - Quando você diz carregar uma humana, você... você não é humano, é?

     Ele dá outra risada sarcástica.

     - Achei que fosse bem óbvio.

     Tusso outra vez e Loyal faz uma careta de nojo.

     - Como... como isso pode ser possível? Se você não é um ser humano, é o quê?

     - Acho que você não é capaz de entender...

     Encaro-o.

     - Se tem uma coisa que eu odeio é que duvidem da minha capacidade - resmungo.

     Finalmente desvio o olhar para tentar me localizar, onde quer que estejamos. Parece o sopé de uma montanha bem alta, rodeada de árvores com folhas - que, aliás, têm um tom muito estranho de verde. O ar é surpreendentemente limpo e refrescante. Não há uma nuvem no céu.

     - Onde nós estamos?

     Loyal caminha na direção das árvores.

     - Chama-se Centelha do Norte - ele diz, sem sarcasmo dessa vez. - É de onde eu e todos aqueles caras no bar viemos.

     Arqueio as sobrancelhas.

     - Eles também não são humanos?

     - Não.

     - Por que vocês não vivem aqui, se é a sua casa?

     Loyal dá uma risada.

     - Casa? Sombrios não têm casa.

A Consciência de Ricky Prosper (VOLUME 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora