Prosper

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     Effy deve ter notado minhas mãos tremendo ao volante. Meu rosto ardendo em vermelho. Minha respiração acelerada. Ela tem que ter notado. Dizer em voz alta que gosto dela está me causando uma reação física da mesma proporção de um choque. Estou elétrico. Crispo os lábios com força, temendo que meu coração escape por eles se eu disser mais alguma coisa.

     – Então... - Effy quebra o silêncio incômodo. - Como são seus tios?

     Olho de esguelha para ela. Está remexendo as mãos sobre o colo. Está nervosa. Será que foi o que eu disse?

     – Ah, eles são bem normais, são gêmeos. Me acolheram após a morte de meus pais.

     Não tenho memória alguma de meus pais e, não fosse pelos poucos retratos que meus tios têm deles, eu nunca conheceria seus rostos. Minha mãe era extraordinariamente bela e meu pai era forte e imponente. Havia algo a mais na postura deles e no modo como se posicionavam um ao lado do outro nas fotos. Algo nobre.

     – Sinto muito - diz Effy, olhando para mim. - Também perdi meus pais.

     Olho para ela e a vejo em choque. Effy cobre os lábios com as duas mãos, como se tivesse dito algo que não devia.

     – Droga - rosna ela. - Prosper... finja que não ouviu isso.

     Franzo a testa.

     – Isso o quê? Que você perdeu seus pais?

     Effy me encara como se eu fosse maluco, com aquele par de olhos lindos arregalados.

     – Não perdi - ela sussurra. - Não perdi meus pais.

     O que Effy tem de atraente, tem de misteriosa e estranha. E isso é muita coisa.

     – Tudo bem - assinto.

     Moro com meus tios num sobrado à encosta das montanhas, onde poucos sinais de civilização podem ser detectados. Por algum motivo, sempre que nos mudamos, tio Don escolhe casas mais afastadas da cidade, para que tenhamos mais privacidade e conforto. Sou grato por isso.

     Observo Effy admirar-se conforme a paisagem ao nosso redor muda e as familiares montanhas e pinheiros com os quais estou acostumado surgem. Ela parece encantada.

     – Sua casa fica nas montanhas? - pergunta.

     – Mais ou menos - dou de ombros. - Meu tio curte privacidade, sabe.

     Ela assente, sem tirar os olhos da janela.

     Finalmente chegamos ao sobrado de madeira de três andares que, para mim, mais parece um chalé grande. Effy desce do carro e admira tudo como se visse os pinheiros e as montanhas pela primeira vez. Acho que ela não costuma sair muito.

     – Isso aqui é incrível, Prosper - ela arqueja, tão inocente e vulnerável que mal parece a garota rabugenta que conheci semana passada. O vento sopra seus cabelos cor de rosa, expondo seu rosto delicado de porcelana.

     – Obrigado - digo, posicionando-me ao seu lado. - Vamos entrar?

     Ela assente.

     Passamos pelo pequeno portão de madeira e subimos alguns degraus até nos depararmos com minha tia cuidando do jardim. Ela cantarola, regando as flores.

     – Tia? - chamo. Effy está ao meu lado.

     – Sim, Prosper? - ela olha por cima do ombro e seus olhos saltam de meus rosto para a pequena figura ao meu lado. - Oh. Olá.

A Consciência de Ricky Prosper (VOLUME 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora