Prosper

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     Tentei ser gentil, mas a garota, Effy, não facilitou as coisas. Não que ela tenha sido mal educada – não muito.

     Algo nela chamou a minha atenção e não foi só o fato de ela ser a primeira garota a me deixar falando sozinho ou a primeira a não aceitar um aperto de mão meu. Effy é a primeira garota que me atrai. Ela tem o rosto mais bonito que já vi e tudo em seus gestos parece bem pensado e calculado, como se ela não quisesse fazer coisas simplesmente por fazer. Tem um olhar nobre e tempestuoso – sem dúvida deve ser arrepiante vê-la furiosa – e sua voz é tão aveludada quanto cortante.

     Ah, vai realmente perder tempo listando as qualidades daquela garota?

     Eu arquejo, pego de surpresa. É a voz em minha mente. A tal Consciência que, de repente, começou a falar comigo sem nenhum motivo aparente, como se minha vida já não fosse suficientemente estranha.

     Não seja desagradável, respondo.

     – O que ela queria? – pergunta Liz, a amiga de olhos bonitos que fiz hoje.

     – Quem? – pergunto, distraído, entre um gole e outro do suco de laranja que me serviram.

     – Effy Sem Sobrenome – sussurra Liz, inclinando-se em minha direção. – Ela é famosa por intimidar as pessoas. Tipo, intimidar sem motivo nenhum.

     Franzo a testa.

     – Sem Sobrenome? – é o que consigo dizer. Como uma pessoa pode não ter sobrenome?

     – Ela diz que é filha de um cara rico e que vive na cidade vizinha – comenta Marvel -, mas ninguém acredita. Não há nada nos registros a respeito da família dela ou de onde ela mora ou de quem diabos ela é. Então nós a chamamos de Effy Sem Sobrenome.

     – Pelas costas dela – Liz acrescenta, rindo.

     Mastigo meu sanduíche enquanto formulo perguntas sobre Effy. Não é possível que alguém se matricule em um colégio desses sem que ao menos tenha um sobrenome, endereço ou nome dos responsáveis.

     Talvez ela seja protegida. Como naqueles casos em que testemunhas de crimes são guardadas pela lei e devem ficar escondidas, supõe minha Consciência. Como é o nome disso?

     Hum, programa de proteção às testemunhas?, digo. Acha mesmo que ela presenciou um crime?

     Minha Consciência hesita.

     É a única justificativa plausível em que consigo pensar.

     Eu rio em pensamento.

     Você é só um eco em minha cabeça. Como consegue pensar, falar e ter vontade própria?

     Ela parece ofendida.

     Não tenho vontade própria, garoto. E não sou um eco. Sou...

     Sei, sei, interrompo. Você diz que é minha Consciência. Mas é um nome bem comprido, não acha? Consciência. Se vamos conversar assim de agora em diante, quero que escolha um nome pra você. Um nome curto pois sou eu quem vai dizer.

     Isso não pode estar acontecendo, ela ri, sarcástica.

     Ande logo.

     Não tenho ideia, Prosper.

     Dou outra mordida em meu sanduíche.

     Já sei, digo. Vou chamá-la de Eco. É curto, descolado e combina com você. O que me diz, Eco?

A Consciência de Ricky Prosper (VOLUME 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora