Eco

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     O encontro de Prosper e Effy Sem Sobrenome simplesmente não aconteceu. E eu não tenho palavras para descrever o quanto isso me deixa aliviada.

     É segunda-feira outra vez e durante todo o fim de semana Prosper esperou pelo telefonema daquela garota, que não veio. Ela simplesmente não ligou, não mandou recado nem avisou de maneira alguma que não estava a fim de sair com ele. Não dá para entender.

     Não vai dizer nada? Nenhum 'eu te avisei'?, pergunta Prosper, enquanto caminha pelo corredor até a sala de Química. Ele acabou de separar uma briga entre um esquisitão e os jogadores de lacrosse da escola, e o ingrato do garoto que ia apanhar simplesmente sumiu sem nem mesmo agradecer após Prosper livrar a pele dele.

     Decidi ignorar Prosper desde que convidou Effy para sair. Onde ele estava com a cabeça, afinal? Ela o trata como um nada e ele simplesmente vai atrás dela? Qual a lógica disso?

     Quando um borrão rosa entra no campo de visão de Prosper, faço força mental para obrigá-lo a olhar para o outro lado. Sei que é ela. Sei o que ela dirá. E não vou permitir.

     Prosper, dê meia volta e saia de perto dela, ordeno.

     O quê? De quem?, ele indaga, perdido.

     E então ele a vê. Tenho vontade de me dar um tapa. Devia ter ficado quieta.

     O olhar brilhante de Effy encontra o de Prosper e ela deixa a amiga com quem estava conversando e caminha na direção dele. Reviro-me em sua mente. Não gosto dessa garota, não gosto nem um pouco. Ela exala encrenca.

     – Prosper... – Effy sussurra. – Eu nem sei o que dizer...

     Ele sacode a cabeça.

     – Não precisa dizer nada. Eu já entendi o recado.

     O rosto de porcelana da garota se contorce.

     – Por favor, escute – ela pede, fitando as botas pretas que não combinam nem um pouco com as meias três quartos coloridas que está usando. – Eu fiquei presa em casa – sua voz é quase um sussurro e Prosper se aproxima dela. – Não pude encontrá-lo, por mais que eu... – sacode a cabeça. – É complicado. Você devia querer ficar longe de mim.

     Taí uma coisa que nós duas concordamos!, exclamo, agitada.

     Toda a resistência de Prosper desaba como uma represa arrebentada. Sua mão segura a dela e seus olhos buscam os dela. É revoltante.

     – Eu entendo, de verdade – ele diz, deixando escapar um meio sorriso. – Mas não pode me pedir para desistir de você, Effy.

     A expressão no rosto dela se fecha, como se ele a tivesse xingado.

     – Você não me conhece, Ricky Prosper.

     – E você me conhecia quando salvou minha vida? – ele arqueia as sobrancelhas.

     Effy engole em seco.

     – É diferente.

     A sineta toca, indicando o início da próxima aula.

     Effy ergue o queixo para olhar diretamente para Prosper.

     – Tenho que ir. Não me procure mais, tudo bem?

      – Effy! – grita uma garota asiática no fim do corredor.

     Effy solta a mão de Prosper e desaparece na multidão de alunos caminhando para suas salas.

     Sinto-me mal. Não por Effy simplesmente deixá-lo aqui como um cão abandonado, mas por Prosper experimentar sua primeira desilusão amorosa e eu ser incapaz de fazer qualquer coisa. Bem, eu tentei. Tentei avisar, aconselhar... Por que ele não quis me ouvir? Por que os humanos têm tanta dificuldade em ouvir a voz da razão?

     Prosper...

     Não, ele me interrompe, assustando-me. Há raiva em seus pensamentos. Estou cansado das suas reclamações e todas essas críticas idiotas. Por que você não pode ser normal como as outras consciências, hein? O que há de errado com você?

     Prosper!, censuro. Ele não devia falar assim. Algo em mim dói.

     Quer saber de uma coisa?, ele continua, caminhando em direção a sua sala. Estou farto de você. Desapareça. Você não tem me ajudado em nada.

     Eu tenho feito o meu melhor!

     Ah é?, ele ri com escárnio. Bem, o seu melhor não é o suficiente. Deixe-me em paz.

     Chocada demais para dizer qualquer outra coisa, encolho-me no espacinho mais apertado e escondido de sua mente e tento "respirar". Prosper está me culpando pelo que aconteceu com Effy? Por que eu haveria de ter algo a ver com isso? Eu só quis ajudar, ser uma boa Consciência e fazer o meu trabalho. A culpa não é minha.

     A culpa não é minha.



A Consciência de Ricky Prosper (VOLUME 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora