A Consciência de Ricky Prosper (VOLUME 1)

Prosper

     Prosper...

     A voz dela está tão distante e tão baixa que eu quase não ouço.

     Prosper...

     Eu me sinto tranquilo e renovado como nunca estive e aos poucos minhas memórias mais recentes retornam. Eu estava em um quarto grande e luxuoso, sozinho e sem saber como cheguei ali. Eco estava me dizendo algo, mas de repente eu senti como se toda a energia do meu corpo tivesse sido drenada e desmaiei. Isso parece acontecer com cada vez mais frequência.

     Prosper, estou assustada!

     Isso me sobressalta.

     Eco?

     Aconteceu algo... algo completamente impossível...

     O quê? O que foi?

     Recobro a consciência e abro os olhos, mas mantenho o foco em Eco - não é sempre que sua voz está tão trêmula. Ela está mesmo com medo.

     Você está bem?, pergunto, fitando o teto dourado.

     Eu acho que tem algo muito errado comigo, Prosper. Eu fiz algo errado.

     Quer me dizer logo qual é o problema?

     Ela hesita. Sinto que está acuada no canto mais afastado de minha mente. O que ela pode ter feito de tão ruim, me xingado enquanto eu dormia?

     Prosper, eu... eu assumi o controle do seu corpo.

     Franzo a testa.

     O que quer dizer com isso?

     É exatamente o que eu disse, sua voz fica embargada. Não sei como aconteceu e não sei como foi possível, mas eu fiz isso. Peço... peço desculpas...

     Uma risada escapa de meus lábios. 

     Do que você está falando? Isso é impossível, Eco, você é minha Consciência. Todo mundo tem uma Consciência e não é como se...

     Estou dizendo que eu assumi o controle do seu corpo, idiota!, ela grita. Eu quis que seu braço se mexesse e ele se mexeu. Eu quis andar com as suas pernas e elas me levaram até o corredor. Eu quis gritar com Effy e foi a sua voz que saiu! Você está me entendendo?

     Sacudo a cabeça, transtornado.

     Não pode ser...

     Eu acho que não sou sua Consciência.

     Arregalo os olhos por instinto. Que história é essa agora?

     Seus tios... eles me chamaram de Yonmirei...

     Num pulo, eu me sento. Olho ao meu redor e vejo que estou na mesma cama e no mesmo quarto onde acordei hoje mais cedo - se é que foi mesmo hoje. Cerro meus punhos e fito os lençóis, ainda concentrado em Eco.

     Yonmirei é um dos personagens de uma história fantástica antiga que meus tios costumavam me contar quando eu era criança. A primeira vez que ouvi foi no hospital, após o acidente que levou meus pais. Tia Beth me contou sobre as bondosas forças da natureza que cuidavam do equilíbrio de uma dimensão mágica fora do nosso mundo. Uma dessas forças se chamava Yonmirei.

     Ouço o som da porta ser aberta e Effy surge no quarto. Ela arregala os olhos quando percebe que estou olhando em sua direção. Acho curioso o modo como seus cabelos parecem ter perdido o tom rosa - quando ainda ontem eu a vi e eles estavam como sempre. Agora parecem... cinzentos. Por quanto tempo eu fiquei desacordado?