Loyal

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     Esbarro de propósito no ombro do capitão do time de lacrosse.

     Sim, de propósito. Ele mereceu. Por culpa desse idiota, estou sendo mandado para a detenção pela terceira vez esse mês e, de acordo com a diretoria, isso é péssimo para meu histórico escolar. Não que eu me importe com essa idiotice, mas detesto ser acusado de coisas que não fiz.

     - Está com algum problema, esquisito? - pergunta o capitão, erguendo o queixo quando olha por cima do ombro para mim.

     Afundo as unhas na alça da mochila nas minhas costas. Tenho que me conter para não partir para cima dele.

     - Você é o problema - rosno, mas não tenho certeza de que ele escuta.

     Um de seus amigos sacode a cabeça e dá um tapa amigável no braço dele. Não sei os nomes de nenhum deles e não me importo em saber.

     - Deixe esse babaca pra lá.

     O capitão do time assente de testa franzida e me dá as costas. Ele e os amigos começam a se afastar, conversando sobre movimentos de jogo. Eu, porém, vim atrás dele porque estou mesmo procurando encrenca.

     - Ei! - grito, e alguns estudantes que circulam pelo corredor onde estamos param e me olham de canto de olho.

     O capitão olha de soslaio para mim por cima do ombro e para de andar.

     - O que você quer? - ele grita de volta.

     Caminho até ele, apontando o dedo para seu rosto.

     - Você e seus amigos de merda picharam o maldito carro daquela professora e colocaram a culpa em mim. Eu bem queria ter feito tudo isso, mas como não fui eu - dou de ombros -, vocês terão que contar a verdade sobre o que fizeram.

     O amigo do capitão começa a rir e os outros logo juntam-se a ele. A atenção de todos no corredor está em nós e não sei se isso é algo positivo. Se eu realmente precisar usar a força, não quero testemunhas.

     - Ele está falando sério? - pergunta um deles, como se eu não estivesse aqui.

     - Cara, vá arrumar o que fazer - diz o capitão, empurrando-me pelo ombro.

     Sinto algo queimando por dentro e trinco os dentes.

     - Não encoste em mim, idiota.

     Ele reage da maneira como eu esperava.

     - Não me chame de idiota.

    - Ou o quê? - desafio, dando-lhe um empurrão. - Vai correndo chamar seu papai técnico do time para gritar comigo ou pedir para seus amiguinhos imbecis me baterem?

     Quase não vejo quando seu punho atinge minha mandíbula. Cambaleio para trás e tento recobrar o equilíbrio. Meu coração martela em meus ouvidos e meus dedos tremem. Faz muito tempo desde que estive em uma boa briga e duvido que essa vá ser mesmo boa. Ainda assim, dá para o gasto. Avanço sobre o capitão, dando-lhe um gancho de esquerda que o faz cair contra um de seus amigos. Eles rosnam e começam a se aproximar de mim, e um deles me agarra pela gola da jaqueta.

     - Você vai apanhar muito, desgraçado.

     - Ei, ei! - alguém grita atrás de mim, interferindo na tensão que só cresce.

     Os olhos do cara que está me segurando deixam meu rosto e olham para o dono da voz e sua expressão muda. Ele me solta e fecha a cara, como uma criança mimada que acaba de ser repreendida. Olho de relance por cima do ombro e vejo a cabeça loira do novato.

A Consciência de Ricky Prosper (VOLUME 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora