Eco

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     Eu me sinto estranha, quando não deveria sentir absolutamente nada.

     Então noto que estou acordada. Não devia estar.

     Prosper está dormindo profundamente e, como sua Consciência, eu deveria estar tão inconsciente quanto ele. Mas como estou pensando? Como estou acordada? Isso nunca aconteceu antes e devo admitir que me deixa inquieta e assustada.

     Algo está muito errado e não é só comigo. Além do que houve com as raízes mutantes e aqueles homens bizarros, os tios de Prosper também agiram mais estranho do que de costume. Quer dizer, eles sempre escondem coisas do garoto e ficam sussurrando pelos cantos, mas nunca foi algo que me fizesse desconfiar dos dois. A última memória que Prosper tem antes de desmaiar é de sua tia cobrindo seu rosto - o que pode ser tudo, menos normal.

     Reviro mais memórias para tentar encontrar qualquer outro sinal de que Beth e Don são algum tipo de ameaça. Eles cuidam de Prosper desde o acidente que matou seus pais, então ambos estão presentes o tempo todo ao longo das lembranças do garoto. É ruim suspeitar deles. Eu gosto dos dois. São prudentes e sensatos - características que aprecio muito - e cuidam de Prosper melhor do que qualquer um poderia fazer.

     Não encontro motivos para sustentar minhas desconfianças.

     Beth e Don agem estranho, mas sinto que são boas pessoas. Sinto que não machucariam Prosper - não de propósito.

     E outra vez estou sentindo, o que não deveria.

     Argh.

     A culpa é de Effy. Desde que ela apareceu, as coisas se tornaram tão estranhas que Prosper e eu começamos a conversar como duas pessoas separadas e eu comecei a ter esses sentimentos impossíveis. Por causa dela, Prosper não me escuta e agora age de forma irresponsável - coisa que nunca fez antes. É como se ele estivesse hipnotizado por essa garota, ou algo assim. E ela é tão estranha! Como uma pessoa consegue ter tantos segredos ao mesmo tempo? Como ela se aguenta mentindo para tanta gente?

     Eu gostaria que Prosper a visse como eu vejo.

     Eco?, ouço a voz dele sussurrar, distante.

     Isso é outra coisa que tem acontecido desde que Prosper teve aquele pesadelo: nossa comunicação parece falha. Às vezes eu o chamo e ele não me escuta.

     Prosper!, respondo, preocupada. Pode me ouvir?

     Eco...

     É, sou eu. Acorde. Abra os olhos para ver onde estamos.

     Estou tão cansado...

     Prosper!

     Eu me lembro... eu me lembro de coisas que ainda não aconteceram...

     Hesito. Ele enlouqueceu?

     O quê?

     Você, Eco... eu... eu me lembro de você...

     Pare de falar sandices e acorde!, grito. Vamos, acorde! Não sabemos onde estamos, Prosper!

     Prosper abre os olhos com uma lentidão agoniante e uma luz muito forte quase o cega. É como o sol, mas não é quente e parece estar vir de todos os lugares. Prosper pisca várias vezes até se acostumar com o brilho e finalmente abre os olhos. Ele vê o teto branco decorado com arabescos dourados e um lustre muito grande e brilhante provavelmente feito de cristal. É tão bonito que até eu perderia o fôlego se pudesse respirar. Prosper esfrega os olhos com uma das mãos e se apoia nos cotovelos para dar uma olhada no lugar.

A Consciência de Ricky Prosper (VOLUME 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora