Sunshine

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Zoe

Eu e o Kyle estávamos cada vez mais próximos. Costumavamos falar muitas vezes na escola, embora ele passasse a maioria do tempo com a equipa de futebol e também com a Madison. Isso deixava-me irritada. Talvez com ciúmes. Mas eu tinha que ter noção de que comparada com ela eu não era nada. E de qualquer das formas ter um amigo já era magnífico.

Na maioria das vezes em que ela o tentava beijar no corredor ele fugia dela. Eu adorava ver isso. Detestava apenas quando ela lhe conseguia roubar um beijo ou outro quando ele estava distraído. Isso destruía-me por dentro.

– Hey, Benson! – Saí dos meus pensamentos ao ouvir a voz do William, e bufei. – Tu e o Kyle são muito amigos agora. – Ele gozou, colocando o braço à volta do meu pescoço e deixando-me extremamente desconfortável. – Vais à festa da Sophia hoje?

Tentei tirar o braço dele de cima dos meus ombros e contorci-me toda, tentando sair do seu aperto.

– Vá lá, Zoe... Aposto que existem umas quantas surpresas boas debaixo desses trapos estranhos. – Fiquei vermelha de raiva e continuei a lutar para me libertar dele.

– Hey! – Agradeci mentalmente ao Kyle, que apareceu na hora certa. – Acho que ela não está confortável com a proximidade, William. Larga-a.

O William largou-me e ergueu os braços no ar em sinal de redenção e riu, irónico. De seguida saiu como se nada fosse.

– Estás bem? – O Kyle aproximou-se de mim, e eu sorri.

– Estou. Obrigada por me ajudares.

Kyle

Mal chegamos ao balneário, empurrei o William e ele bateu na parede.

– O que há de errado contigo, meu? – Ele berrou.

– Não te metas mais com ela, ouviste? – Vociferei, agarrando as golas da sua blusa. Senti os braços do Jacob puxarem-me para longe.

– O que se passa aqui? – Perguntou.

– Nada. – Respondeu o William, ajeitando os cabelos. – Aqui o Kyle é que parece estar perdido de amor pela estranha. – Virou-se para mim.

– Isso é mentira. – Respondi, vermelho de raiva. – Eu vou fode-la, William. Vou ganhar a merda da aposta e esfregar isso na tua cara.

Zoe

Depois das aulas optei por ir para um parque perto da escola. Não estava com muita vontade de ir para casa. Tinha comigo um livro e estava um dia agradável, seria bom ler um pouco ao ar livre.

Encontrei um bom sítio, perto de uma árvore. O tempo estava agradável e, apesar de ser Outono, o sol estava morno.

Estava tão empenhada na minha leitura que me assustei ao ver um par de all stars pretos à minha frente.

– Kyle! Meu Deus! Queres matar-me de coração? O que estás aqui a fazer?

– Desculpa. – Ele riu. – Eu chamei-te duas vezes. – Ergui o livro, dando a entender o porquê de não ter prestado atenção. – E eu moro aqui perto. Tens os condomínios ali – Ele apontou para uns prédios luxuosos. – E eu moro numa casa branca na rua de trás.

– Não tens treino hoje? – Franzi o sobrolho, olhando para o meu relógio de pulso e vendo que ainda era cedo.

Ele encolheu os ombros, atirando a sua mochila para a relva e sentado-se ao meu lado. Fechei o meu livro e guardei-o, dando toda a minha atenção ao Kyle.

– Faltei ao treino.

– O capitão anda a ficar rebelde. – Gozei, e ele riu.

– Às vezes é bom ser rebelde. Já experimentaste? – Gozou-me de volta, e eu ri.

– Estava a brincar! – Defendi-me. – Aconteceu alguma coisa?

Ele voltou a encolher os ombros, olhando para o horizonte. Reencostou-se contra a árvore.

– Já te sentiste como se ninguém te compreendesse verdadeiramente?

– Sinto isso diariamente... Sei como é.

– Eu sei. – Ele olhou para mim e sorriu, suspirando depois. – O que estavas a ler? – Mudou de assunto, e eu optei por não insistir mais com ele.

Peguei no livro, mostrando-lhe.

– As vantagens de ser invisível. Já leste?

– Não, mas já ouvi falar. – Pegou no livro, folheando-o. – Posso ler quando o acabares?

– Claro! – Sorri. Adorava que ele gostasse de ler. Tornava-o interessante. Achava apenas triste que ele escondesse isso de toda a gente.

Ele retirou uns auscultadores da mochila e o seu telemóvel. Ofereceu-me um dos lados e eu sorri, agradecendo.

– Preparar-te porque estás prestes a conhecer o paraíso. – Disse com um tom de voz engraçado que me fez rir.

Sem pensar, pousei a cabeça no seu ombro enquanto ele colocava a playlist em modo aleatório. Ficamos assim ali sentados a ouvir música. Em silêncio.

Conseguia sentir o seu cheiro e quando me apercebi da nossa proximidade e do que eu tinha feito, senti-me envergonhada. Pensei em afastar a cabeça do seu ombro, mas estava demasiado confortável.

– Meu Deus, eu adoro esta música. – Sussurrei, quando o som de Guns N' Roses - Don't cry encheu os meus ouvidos.

Ele sorriu.

– Eu também.

Desencostei-me do seu ombro e mordi o interior da minha bochecha, nervosa. Ele olhou-me no momento em que eu olhei para ele, e o nosso olhar encontrou-se.

Ele aproximou o rosto do meu e eu senti as borboletas esvoaçarem loucamente no meu estômago. Fichei os olhos quando senti o seu nariz tocar no meu e os nossos lábios tocaram os meus.

Inicialmente foi um toque leve, mas logo ficou mais intenso e eu deixei-me levar. Acariciei a sua face enquanto ele intensificava o beijo, e apenas nos separamos porque o ar começou a faltar.

Não sabia o que dizer. Sentia as minhas bochechas a arder de vergonha. Ele sorriu.

– Eu... Desculpa... – Pedi, visivelmente envergonhada.

– Hey... – Sussurrou. – Está tudo bem. – Acariciou-me a bochecha. – Eu gostei. Muito.

– Eu também. – Admiti, sorrindo timidamente. – Eu só... Não quero que as coisas fiquem estranhas...

– Porque haveriam de ficar? – Tranquilizou-me.

– Não sei...

Ele sorriu, tentanto tranquilizar-me e abraçou-me. Pousei a cabeça no seu peito, ouvindo o seu batimento cardíaco acelerado. Ri alto quando ouvi o seu estômago roncar.

– Desculpa. – Riu.

– Já sei. – Ergui os dedos, fazendo sinal de aspas. – Tiveste treino. – Gozei.

– Engraçada tu. – Riu, tirando uns salgados da bolsa mais pequena da mochila. – Em minha defesa, a caminhada até aqui desgastou-me quase tanto como um treino. – Ri e ele estendeu-me o pacote, partilhando comigo a comida.

Kyle

Passamos o resto da tarde a dividir os salgadinhos e a rir de parvoíces sem sentido que contávamos um ao outro.

Nunca me tinha sentido tão livre e, por uns míseros momentos, quase me esqueci o porquê de me ter aproximado dela.