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Taissa

Bufei, saindo do provador pela milésima vez. Mal falei à Skylar do jantar com os colaboradores, ela obrigou-me a fazer uma tarde de compras.

– Não gostei muito desse. – Torceu o nariz e eu revirei os olhos. – A sério! Fica muito largo e é demasiado comprido.

– Mas é muito mais confortável!

– Nem penses que eu te deixo ir assim! – Ela entregou-me um vestido que tinha pendurado no braço. – Este vai ficar maravilhoso.

Nem prestei muita atenção ao desenho do vestido. Vi apenas que era vermelho. Entrei rapidamente no provador e comecei a despir o o vestido preto que tinha vestido em primeiro lugar.

– De certeza que não podes vir comigo? – Perguntei, começando a vestir o vestido novo. Torci o nariz ao ver que parecia muito justo.

– Claro que não posso! O Luke não foi convidado. E mesmo que eu tivesse sido convidada, eu não iria. Tens que ter uns momentos a sós com o Kyle.

– Outra vez essa conversa não, Sky. Que melga!

Arregalei os olhos ao ver-me com o vestido. Era completamente justo ao corpo e tinha uma racha na frente ate quase meio das minhas coxas. Na verdade, mais parecia um top e uma saia.

– Nem penses que eu vou levar isto.

Saí do provador, apavorada com a ideia de usar aquilo em público.

– Uau! Zoe! É incrível. – Ela abriu a boca em espanto. – A sério. Fica-te mesmo bem.

Eu bufei.

– Eu não vou sair com isto, Sky. Não me sinto bem!

– Zoe. Tens 23 anos! –Aproximou-se de mim, ficando comigo de frente para o espelho. – Olha para ti. Estás perfeita. Favorece-te muito.

A minha dor enorme nos pés e a insistência da Skylar fizeram-me ceder e acabei por levar aquele vestido.

– Agora anda, chata. Vamos ver uns sapatos!

Arregalei os olhos, rindo e sentindo a minha mão ser puxada até uma loja se sapatos do shopping.

[...]

– De certeza que não estou exagerada? – Mordi o lábio, nervosa.

– Estás perfeita, Zoe. – A Skylar sorriu.

– Não sei onde estava com a cabeça para aceitar que ele me desse boleia.

Olhei nervosa para o meu relógio, trocando o peso de um pé para o outro. Malditos sapatos. E malditos nervos.

– Aceitaste porque no fundo gostas dele ainda. – Ela encolheu os ombros, e eu ri. – A sério, Zoe. Só vives uma vez. Vai-te a ele.

Gargalhei perante o seu tom de voz, e despedi-me dela quando vi a Range Rover do Kyle dobrar a esquina.

– Não te esqueças do que te disse! – Ela sussurrou/berrou e eu ignorei.

O ambiente no carro estava demasiado pesado. Eu tentei olhar pela janela, mas sentia que por vezes ele me olhava.

–Estás muito bonita. – Ele quebrou o silêncio. Senti as minhas bochechas arderem de vergonha e agredeci baixinho.

Brinquei com os meus dedos até ganhar coragem de falar. A Skylar tinha razão. Eu talvez estivesse a ser orgulhosa. Seria bom termos uma relação minimamente boa porque teríamos que conviver muito na empresa.

–O que é feito dos teus pais? – Mordi o interior da bochecha e observei-o. Ele encolheu os ombros, parando num semáforo vermelho.

– O inevitável. – Ele olhou-me e eu senti-me ainda mais nervosa. – Acabaram por se divorciar de vez há dois anos. Não havia mais nada a fazer.

– Acho que foi melhor assim.

– Sim, sem dúvida. Eu não tenho grande contacto com eles por causa da empresa. Eles mudaram-se e eu acabei por ficar cá. O meu pai deixou-me a empresa, pôs a mochila às costas e está a viajar pelo mundo. A minha mãe dedicou-se às plantas. – O semáforo ficou verde e ele arrancou. – Pelo menos estão felizes agora.

– Sim. – Concordei. – É espantoso estares tão à vontade a gerir aquilo tudo. Acabaste há pouco a faculdade.

– É, eu sei. Tive que me desenrascar sozinho. E a tua mãe? Estás a viver com ela?

– Não. – Sorri de leve. – A minha mãe está em Sidney. Ela e o meu pai decidiram tentar novamente e estão numa espécie de lua de mel.

– Parece que está toda a gente feliz agora. – Comentou, sorrindo concentrado na estrada.

Suspirei, olhando pela janela e vendo que estávamos numa zona mais isolada da cidade.

– Onde vai ser o jantar ao certo?

– Eles alugaram uma quinta. Estamos quase lá já. Isto costuma acabar tarde. Há música e tudo mais. Mas se quiseres eu posso levar-te mais cedo embora.

Sorri, envergonhada. Estava nervosa. Já não falava assim com ele há muito tempo. Por momentos recordei as conversas que tínhamos quando adolescentes. Estávamos sempre a rir e a partilhar pensamentos. Senti saudades disso. Sentia a falta dele, não podia negar.

– Não é preciso. Eu fico até ao fim. Não tenho compromissos.

Ele sorriu, e eu senti uma vontade absurda de lhe tocar. Reprimi esse desejo e decidi concentrar-me na música da rádio.

– Vamos basicamente estar com alguns investidores, nada do outro mundo. É bom manter as pessoas felizes se queremos que elas invistam.

Sorri levemente.

O meu coração falhou quando na rádio começou a dar Guns N' Roses na rádio. Nada mais nada menos que Don't cry. Rapidamente levei a mão até ao controlo da rádio, mudando para uma estação qualquer. Nem reparei nisso.

O Kyle pareceu notar o meu desconforto, e ele próprio ficou tenso. Mordeu os lábios e continuou a conduzir focado. Eu fiquei nervosa. Depois do que aconteceu tinha passado a evitar aquela música.

O ambiente ficou muito pesado. Encostei a cabeça ao vidro a fim de evitar contacto visual.

– É ali à frente.

Assenti. A noite seria bem longa.


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