Sunshine

-9-

Kyle

Não voltei para casa. Estivemos o resto da noite a conversar e acabamos por adormecer.

Ela contou-me acerca da sua vida. Descreveu a sua infância e falou da separação dos pais. Parece que o pai dela vivia no Canadá, e ela optou por viver com a mãe porque queria estudar cá.

No outro dia tive que acordar bem cedo para sair de casa da Zoe sem que a mãe dela me visse. Foi muito bom acordar e ter a Zoe ao meu lado. Pude finalmente dormir em paz, sem ter medo da solidão e sem ter que esconder o que eu sentia.

Fui a casa tomar um banho rápido e trocar de roupa. Os meus pais agiram como se nada tivesse acontecido, mas sinceramente eu nem estava a pensar mais nisso. Só conseguia pensar na conversa que teria que ter com o William sobre a aposta.

Madison

Acordei com os raios de sol na cara. Gemi frustrada e virei-me para o outro lado, batendo contra o corpo nu do William.

Preferia milhões de vezes o Kyle, mas o William servia para me distrair um pouco. Além disso, precisava de saber o que andava a acontecer entre o Kyle e a estranha da Zoe, e ninguém melhor do que o idiota do William me podia esclarecer.

– Bom dia! – Acordei-o, tentando ser simpática. Tinha que o manter por perto enquanto não tivesse as informações necessárias.

Ele bufou e esfregou os olhos sentado-se na cama.

– Caralho, Madison. – Resmungou. – Ainda é muito cedo.

Passei levemente os dedos no seu peito.

– Eu sei... Mas preciso de falar contigo.

Ele encostou-se na cama, olhando para mim para me incentivar a falar.

– Não achas estranho que o Kyle ande sempre colado àquela sem abrigo da Zoe?

Ele encolheu os ombros, pegando num maço de tabaco da mesinha de cabeceira. Entregou-me um cigarro e eu agredeci, inclinando-me na sua direção para que ele o acendesse com o isqueiro.

– Não sei, não sei muito sobre isso. – Ele soltou o fumo pela boca e eu traguei o cigarro.

– Como assim não sabes? – Interroguei, um pouco irritada. Não queria acreditar que ele não sabia de nada. Ele estava claramente a mentir. – És amigo dele. Sei lá. Não me parece natural.

Ele suspirou, apagando o cigarro no cinzeiro da mesa de cabeceira.

– É tudo uma aposta.

Aposta? Então ele não gostava dela?

– Como assim uma aposta?

– É uma aposta. Fizemos uma aposta e agora ele tem que foder aquela estranha. Só isso.

Sorri, e não consegui evitar gargalhar. O William olhou-me meio estranho, mas eu ignorei. Tinha uma informação muito boa nas mãos.

Zoe

Depois do Kyle ter saído de minha casa mais cedo, não consegui dormir mais. Pensava muito no que tinha acontecido na noite anterior. E naquilo que quase tinha acontecido.

Pensar nisso deixava-me envergonhada, mas eu seria hipócrita se dissesse que não queria. Ou que não gostava de imaginar isso.

Quando cheguei à escola tinha uma mensagem dele a dizer que ia ter comigo às bancadas de futebol. Esperei lá por ele, tentando não parecer muito nervosa. Será que ele tinha pensado também em mim? E no que quase fizemos? E será que ele queria tanto que tivesse mesmo acontecido como eu?

– Hey. – Sorri quando ele chegou, e beijei-o.

– Como estás? – Ele sentou-se ao meu lado, abraçando-me.

– Estou muito melhor. – Depositou um beijo na minha testa. – As coisas estavam mais calmas em minha casa hoje de manhã. E ajudou muito poder desabafar contigo.

Agarrei nas suas mãos, beijando-as.

– Vais ter-me sempre aqui. Até que a terra pare de girar.

– Prometes? – Perguntou, inseguro, e eu sorri.

– Prometo.

Ele deu-me um beijo rápido nos lábios e levantou-se, pegando na sua mochila.

– Desculpa, mas eu tenho mesmo que ir falar com o William. Já o viste hoje?

Refleti durante uns segundos.

– Não, não vi ainda... Também não cheguei há muito tempo.

– Ok... – Ele olhou ao redor, parecendo nervoso ou pensativo. Não consegui decifrar muito bem. – Eu vou ver se o encontro então. Vejo-te na aula!

Sorri, acenando e vendo-o caminhar descontraidamente pelo campo de futebol.

Franzi o sobrolho. Estaria ele metido em problemas com o William? Nunca o tinha visto tão desespero para falar com ele. Só esperava que não fosse nada de grave.