Sunshine

-11-

Zoe

O resto da semana foi tranquila. Quer dizer, mais ou menos tranquila. A Madison continuava a tentar ser simpática comigo, e isso deixava os meus nervos à flor da pele porque eu sabia que havia alguma coisa de errado ali. Não era normal.

Suspirei, fechando a porta do meu cacifo. Estava a virar-me para sair dali quando alguém me empurrou, fazendo-me bater contra a parede oposta e cair no chão. A minha mochila voou nem sei para onde, mas a minha prioridade não foi procurar o destino dela, mas sim ver quem me tinha feito aquilo. Hannah, amiga da Madison.

– Qual é o teu problema? – Berrei, tentando levantar-me.

– Zoe! – O Kyle correu para mim, baixando-se à minha altura e abraçando-me de maneira protetora. – Estás bem?

Apenas assenti.

– Porque é que fizeste isto? – O Kyle fuzilou a Hannah com o olhar e ela apenas encolheu os ombros.

– Eu não a vi.

O Kyle deu-me a mão, ajudando-me a levantar. Tentei não corar ao ver a quantidade de estudantes que se tinha aglomerado à nossa volta. Que idiotas.

– Hannah... Devias pedir desculpas à Zoe. – Quis rir ao ver a Madison furar o círculo de alunos curiosos e juntar-se à Hannah. – Coitada... Podia ter-se magoado a sério.

– Não sejas hipócrita, Madison. – Ralhei. Estava quase pronta para virar as costas quando ela voltou a falar.

– Hipócrita? Eu? Estou só a tentar ser tua amiga. – Ergui uma sobrancelha e pelo canto do olho vi o Kyle ficar tenso.

– Vamos, Zoe. Não tens que ficar aqui a ouvi-la. – Sussurrou-me, e eu neguei. Queria ouvir o que ela tinha a dizer. Estava intrigada.

– Ai estás? Tens uma ideia um bocadinho distorcida do que é amizade então. – Encolhi os ombros, sorrindo. – Ainda há uns dias estavas toda estética por eu supostamente te ter roubado o namorado. – Gozei. – O que é que queres de mim afinal?

– Solidariedade feminina. – Olhei-a sem entender nada. – Sou mulher também, temos que nos defender umas às outras. Achei que ias precisar de um ombro amigo quando soubesses o que ele te fez. Pelos vistos não foi necessário.

– O quê?

Ela gargalhou, e o Kyle tentou puxar-me novamente para fora do círculo. Sem sucesso.

– Meu Deus! Kyle, és tão cruel! Por isso é que eu te amo tanto. – Ela dirigiu-se a ele, gargalhando.

– Cala-te, Madison. – Ele ameaçou, e ela continuou a rir.

– O que é que está a acontecer aqui? Alguém me explica? – Olhei para o Kyle à espera de uma justificação, mas quem a deu foi a Madison.

– Não achas que levaste a aposta demasiado longe? Olha para ela, Kyle! Agora acredita que a amas mesmo!

– Aposta? Kyle, o que é que ela quer dizer com isso?

– Ele apostou que te podia foder, tal como faz com todas as outras. Agora está a divertir-se com isto. Ele mesmo me disse. E podes perguntar ao William. Ele vai confirmar.

– Isso é mentira! – O Kyle berrou, e eu larguei-lhe a mão, afastando-me dele. Senti uma lágrima escorrer pela minha face.

– Oh... Tu achaste mesmo que ele te amava e que se aproximou de ti por te achar uma pessoa super interessante? Oh... Que querida... – A Madison gozou, e eu não ouvi mais nada.

Peguei nas minhas coisas e corri dali para fora.

Queria desaparecer. De vergonha e de tristeza. Não queria acreditar no que tinha acabado de ouvir.

– Zoe! Zoe, por favor. Espera!

Parei no meio da rua, olhando com raiva e vendo o Kyle correr na minha direção.

– Zoe.

– Fingires que te importas também faz parte da merda da aposta? – Ri, seca. – Claro que faz! Precisas de me levar para a cama, não é? Eu não acredito que quase caí nessa!

– Zoe, eu amo-te. Eu desisti da merda da aposta.

– Claro que sim. – Rolei os olhos e limpei as lágrimas com a manga da minha blusa. – Não te quero ver mais, Kyle. Deixa-me em paz. Tu és nojento.

– Zoe, eu... Desculpa. Eu juro, eu desisti. Eu-

– Eu odeio-te, Kyle. Apenas... Desaparece. Odeio-te.

Corri pela rua fora, não querendo ouvir mais nada. Nem fiz questão de olhar para trás. Seria menos doloroso assim.