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Zoe

Apenas quando cheguei a casa depois de ter passado a tarde com o Kyle no parque é que percebi que tinha ficado com os auscultadores dele. Por isso, cheguei mais cedo de propósito à escola na esperança de o encontrar.

Queria devolver-lhe os auscultadores e, mais do que isso, queria estar com ele. Queria poder beijá-lo de novo, porque eu tinha gostado muito. Queria ficar com ele.

As minhas esperanças de o ver foram esmagadas quando ele não apareceu às aulas da manhã. À hora de almoço comi à pressa e fui novamente dar uma volta à escola na esperança de o ver. Sem sucesso.

Procurei o telemóvel na minha mochila, e quando estava prestes a mandar-lhe uma mensagem, recebi um encontrão no ombro que me fez voar para cima dos cacifos, causando um baque surdo e risos de estudantes que passavam.

– Já te disse que devias de ter mais cuidado, Zoe. – Nem precisei de olhar para perceber que a dona daquela voz enjoada era a Madison.

Ignorei-a, pegando na minha mochila e no meu telemóvel, que tinham caído ao chão, preparando-me para sair.

– Hey, estou a falar contigo, ó sem abrigo. – Ela acelerou o passo, colocando-se à minha frente. – Já te avisei antes. Para de andar atrás do meu namorado.

Gargalhei alto da cara dela e ela ficou a olhar para mim sem entender.

– És tão patética, Madison. Tenho pena de ti. – Ela colocou as mãos na cintura, indignada. – Olha para ti. Sozinha. A mendigar o amor de alguém que só te quer para dar umas voltas às vezes.

– Ele ama-me. – Sorriu cínica. – Mas tu andas a encher-lhe a cabeça. Tu andas a meter-te entre nós. E isto vai acabar muito mal.

Ri mais uma vez e virei-lhe as costas. Ia a meio do caminho e voltei-me para trás, vendo-a ainda no mesmo sítio.

– Hey, Madison! – Ela olhou para mim, sem saber o que se estava a passar. – Escolheste bem! O teu namorado beija mesmo bem.

Saí de lá antes que ela viesse atrás de mim ou sequer tivesse tempo de reagir. Ela era louca. Só podia.

Já cá fora pude pegar no meu telemóvel, gemendo de frustração ao ver que ele tinha o ecrã rachado.

– Que vaca! – Queria chorar ao ver o estrago que ela tinha feito. Tentei desesperadamente ligá-lo, mas foi em vão.

Bufei em sinal de frustração e guardei o aparelho inútil no meu bolso.

Avistei ao longe o Harry, colega do Kyle, e fui na direção dele. Talvez ele soubesse algo sobre o desaparecimento do Kyle.

– Olá! – Cumprimentei e ele acenou com a cabeça como forma de cumprimento. O Jacob e o idiota do William estavam ao seu lado, controlando-se para não rir. Não entendia porquê. – Sabes alguma coisa do Kyle? Ele não apareceu hoje.

– É, eu sei. Não sei de nada, ele não disse que ia faltar. – Justificou, acendendo um cigarro. Era impressionante como eles nunca eram apanhados a fumar ali dentro.

– Já lhe tentaram ligar? – Insisti, preocupada. Eles eram amigos dele supostamente, deveriam estar preocupados.

– Porque não lhe ligas tu? – Provocou o William. – Já não namoram?

– O meu telemóvel está partido... – Tentei explicar. – Não lhe podem ligar, por favor? Ou deixar-me usar um telemóvel? Ele é vosso amigo também.

– O moço deve estar bem. Simplesmente não quis vir. – O Jacob encolheu os ombros. – Descontrai, miúda. – Estendeu um maço de tabaco. – Fica aqui connosco. Sem preocupações. O teu namorado não está aqui e nem precisa de saber. – Piscou o olho.

– Idiota. – Respondi, virando costas. Ouvi as gargalhadas deles e continuei a caminhar, não olhando sequer para trás.

Não entendia o motivo de gozo. Nem entendia que amizade era aquela que os unia. Eles eram uns porcos.

Estava mesmo preocupada com o Kyle, portanto faltei às últimas aulas da tarde para ir para casa. Precisava de chegar até um telemóvel.

Mal cheguei a casa vi que a minha mãe já lá estava também.

– Mãe. – Chamei, surpreendida. – Já estás em casa?

– Já. Eu saí mais cedo porque entrei mais cedo também. – Colocou as mãos na cintura e olhou para o relógio na parede. – E tu, minha menina? Não devias de estar na escola ainda?

Mordi o interior da minha bochecha. Fui apanhada.

– Sim, mas eu não me estava a sentir muito bem... Não passei muito bem a noite na verdade. – Menti.

– Hum... – Ela torceu o nariz. – Se o dizes... Depois justifico-te as faltas.

Assenti com a cabeça e subi para o meu quarto, indo direta para as gavetas e procurando o papel que o Kyle me tinha dado com o número. Tinha a certeza de que o tinha guardado algures.

Bufei de frustração e respirei fundo, fechando os olhos na tentativa de me lembrar onde o tinha colocado.

Dirigi-me à secretária e comecei a procurar no meio dos livros, encontrando o maldito papel dobrado dentro do livro de matemática. Suspirei, aliviada e sorri.

– Mãe. – Chamei. – Posso usar o meu telemóvel?

– O que é que aconteceu com o teu?

– Eu caí e ele partiu. – Menti. Não lhe queria contar sobre a Madison.

Ela suspirou.

– O teu antigo está na gaveta no armário da sala se quiseres. Ele ainda funcionava da ultima vez que vi.

Sorri abertamente com a notícia e corri para o buscar. Tive que o ligar à tomada porque ele tinha descarregado, mas fiquei feliz por o ver ligar.

Troquei os cartões e liguei logo para o Kyle.

Para minha desilusão, nada. O telemóvel estava desligado, o que aumentou ainda mais a minha preocupação.

– Mãe, eu vou sair, ok? – Perguntei, pegando no meu telemóvel e na carteira. – Não me demoro muito. Vou ver o Kyle.

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