Sunshine

-3-

Kyle

Ao contrário do que esperava, tinha gostado de conhecer a Zoe. Ela era uma pessoa muito interessante e gostava das mesmas coisas que eu.

Com ela pude finalmente relevar o meu lado mais nerd. Se eu o fizesse perto da equipa de futebol seria posto de parte e gozado até ao fim do ano.

Tinha era que pensar no que fazer a seguir por causa da aposta. Tinha feito amizade com ela, mas ainda tinha que ganhar confiança suficiente para começar a agir.

– Kyle! – Quis arrancar os meus ouvidos ao ouvir a voz da Madison. A única coisa boa que ela tinha era a beleza, daí eu andar com ela quando me queria divertir. Nunca gostei realmente dela. Pelo contrário.

– Hey. – Cumprimento, forçando o sorriso.

– Não me apetece ir à primeira aula. – Disse com uma voz melosa que me deixou enjoado. – Podíamos ir dar uma volta... – Apoiou o dedo no meu peito, fazendo figuras imaginárias e eu afastei-me ligeiramente, dando-lhe a entender que a sua tentativa de sedução foi em vão.

– Não vai dar, Madison. Não posso faltar a esta aula. Tive uma nota muito baixa e não quero ter os meus pais à perna. – Menti.

Não a deixei responder e deixei-a no corredor boqueaberta.

Ela sempre teve uma paixão platónica por mim, mas eu sempre deixei claro que só a queria para dar umas voltas.

Zoe

No dia seguinte estava muito nervosa. Tinha feito supostamente um amigo. Mas  iria ele procurar-me? Ou ia falar comigo na sala de aula?

As pessoas estavam a começar a entrar na sala para a primeira aula e eu olhava impaciente para a porta enquanto remexia impacientemente o lápis na mão.

O meu coração disparou quando vi o Kyle entrar e desculpar-se pelo atraso, e senti que ele queria saltar-me do peito quando ele caminhou para a minha mesa e se sentou ao meu lado.

Cumprimentei-o com um sorriso, que murchou quando vi o olhar furioso da Madison, que chegou atrás dele. Apenas ergui uma sobrancelha, retribuindo-lhe o olhar. Sempre a odiei.

Acho que nunca estive tão distraída numa aula como naquela. Ter o Kyle ao meu lado deixava-me extremamente nervosa. Quando o toque soou, senti-me mais aliviada porque estava prestes a ficar sozinha novamente. No entanto, desejava falar novamente com ele. Tinha esperança que ele puxasse conversa.

Arrumei lentamente o material, tentando parecer indiferente, e vi pelo canto do olho o Kyle procurar algo na mochila, tirando de seguida do livro que eu lhe tinha emprestado.

– Adorei. – Eles estendeu o livro na minha direção e eu sorri, guardando-o na minha mochila.

– Uau. Tão rápido? – Franzi o sobrolho, surpreendida.

Ele encolheu os ombros e pegou na mochila.

– Tive uma noite aborrecida.

– Mentiroso. – Ele olhou-me surpreendido. – É impossível teres tido uma noite aborrecida. Esse livro é fantástico. – Expliquei.

– Ah, sim! – Ele riu. – A noite estava a ser aborrecida até que eu continuei a ler o livro. – Corrigiu, dando ênfase ao "até que", o que me fez rir.

– Eu tenho mais se quiseres. Costumava colecionar. E eles fizeram adaptação para o cinema também. Acho que ias gostar do filme.

– Seria fantástico! – Aproximou-se um pouco de mim e eu recuei, mantendo uma distância segura. Não tinha confiança com ele ainda. – Eu gostei muito de ler contigo. Podíamos combinar e víamos os filmes juntos também. Eu acho que seria divertido.

Senti borboletas esvoaçarem loucamente no meu estômago e engoli em seco, controlando o nervosismo.

– Quem sabe. – Limitei-me a dar uma resposta vaga. – A tua namorada está à tua espera, acho que devias ir. – Provoquei-o, apontando para a porta, onde estava a Madison, que fingia mexer no telemóvel e me olhava como se me quisesse matar.

Ele bufou.

– Ah, não! Ela não é minha namorada. – Corrigiu-me. – Mas de qualquer das formas eu tenho que ir andando. Tenho que ir ter com o pessoal da equipa. Eles devem estar à minha espera. Vejo-te em inglês!

Ele passou reto pela Madison, que pareceu super ofendida por ele não lhe ter dirigido a palavra. Às vezes gostava de poder filmar as reações extremamente dramáticas dela. Dava dó.

Peguei na minha mochila e caminhei para a porta, sendo barrada pela Madison.

– Olha lá. – Começou e eu quis rir do seu tom de voz anasalado e irritante. – Quem é que tu pensas que és para te meteres assim entre mim e o meu namorado?

– Namorado, é? Engraçado. – Respondi sarcástica, tentando passar. Fui novamente barrada por ela e bufei, ajeitando a mochila no meu ombro. – Deixa-me passar, Madison. Não estou com paciência para isto.

Ela riu seca e apontou o dedo na minha direção. Quase fiquei visgarolha a olhar para a sua unha vermelha extremamente comprida e ponteaguda.

– Tu vais ouvir-me com muita atenção agora. Esta foi a última vez que te meteste entre mim e o meu namorado. – Deu ênfase à palavra "meu". – Sua... Sua sem abrigo.

– Madison, eu já disse que não tenho paciência para isto. – Tentei passar novamente e suspirei quando fui novamente barrada por ela. – O Kyle sabe que vocês são namorados sequer?

Ela olhou-me furiosa e ia abrir a boca em protesto, mas eu interrompi.

– Vês? Devias trabalhar um bocadinho nessa tua obsessão, chega a dar pena. Mas de qualquer das formas não te preocupes. – Sorri abertamente, irónica. – Eu não quero o Kyle para nada.

Avancei, disposta a sair dali de uma vez. Ela barrou mais uma vez o meu caminho, mas eu perdi a paciência para aqueles jogos e dei-lhe um encontrão com o ombro, passando reta por ela.

– Isto não fica assim, Zoe Benson. – Ouvi a voz dela atrás de mim no corredor e apenas lhe ergui o dedo do meio sem sequer olhar para ela.

Ri mentalmente, imaginando a cara indignada dela.