-19-

59 6 0
                                    

Zoe

Passei o fim de semana a sofrer com aquilo. O Kyle tentou ligar-me algumas vezes, mas eu ignorei as chamadas e as mensagens.

– Tens a certeza de que queres fazer isto? – Perguntou a Skylar, que se encontrava sentada ao meu lado no sofá.

– Sim. Não quero trabalhar mais lá. – Murmurei enquanto corrigia a minha carta de demissão.

Fui desperta pela campainha a tocar e por batidas na porta. A Sky sorriu triste, levantando-se e indo olhar pelo olho mágico.

– É ele outra vez. – Sussurrou.

Eu suspirei, guardando o documento e fechando o computador. Mais uma vez, ignorei os seus pedidos para que eu abrisse a porta. A Sky abraçou-me e eu chorei no seu colo até ele se ir embora.

...

Na segunda de manhã vesti a minha melhor roupa e prometi a mim mesma não chorar. Ia entregar a minha carta de demissão e não voltaria lá mais. Sairia por cima daquela situação toda.

Respirei fundo ao ver o prédio e entrei de cabeça erguida. Cumprimentei os meus colegas com um falso sorriso e quase esbarrei no Michael.

– Zoe. – Ele cumprimentou com um sorriso.

– Olá, Michael. – Forcei um sorriso simpático e suspirei. – O que fazes aqui?

– A minha empresa decidiu investir na exportação de jóias. Então eu vim deixar uns papéis.

–Ah, sim! Pensei que não te via tão cedo.

Ele encolheu os ombros, coçando a nuca.

– Estava a pensar ligar-te no fim de semana para saber como estavas, mas não te quis incomodar. – Sorriu, tímido.

– Não incomodas. Eu é que tenho que te agradecer por me teres levado a casa na sexta feira. Perdeste o resto da festa por minha causa. – Ri, embora estivesse um caco por dentro.

– Não, não perdi nada. – Ele riu. – A festa ia ser secante a partir do momento em que fosses embora.

Sorri, envergonhada. Ele era um bom amigo, mas não passaria disso. Por mais que eu odiasse, eu ainda gostava do Kyle.

– Bom, eu vou andando. – Sorriu mais uma vez. – Depois eu ligo-te e combinamos algo.

Sorri, despedindo-me dele. Dirigi-me à mesa da Amy e bufei ao ver que ela não estava lá. Procurei-a no andar de baixo para lhe deixar os papéis, mas continuei sem a encontrar. Após alguns segundos de reflexão, optei por apanhar o elevador. Ela deveria de estar num dos últimos andares a arquivar ficheiros.

Fiquei feliz por não ver o Kyle e pelo elevador estar vazio. Isso permitiu-me encostar a cabeça contra a parede prata do elevador e fechar os olhos, refletindo sobre tudo.

Senti o elevador parar no que julguei ser o quarto andar, mas continuei na mesma posição, de olhos fechados e rezei mentalmente para que o funcionário não metesse conversa comigo. Não me apetecia falar com ninguém.

Senti uma presença ao meu lado e o elevador voltou a ficar em movimento. Suspirei.

– Zoe?

Abri os olhos bruscamente e mordi o interior da bochecha, tentando controlar os nervos. Aquela voz despertou em mim uma mistura incontrolável de sentimentos.

O Kyle estava ali, à minha frente. Parecia irreal vê-lo depois de tudo. Bufei, começando a carregar nos botões do elevador, na tentativa idiota e desesperada de o fazer parar para que eu pudesse sair.

– Zoe, para. Vais -

Ele foi interrompido por um abanão. O elevador parou com um baque surdo e as portas não abriram. Bufei, em pânico. Continuei a carregar nos botões na esperança de que aquilo o voltasse a pôr em movimento.

Boa. Ficaria sem emprego e ainda teria que pagar o arranjo do elevador.

– Que porcaria! – Bufei, dando um murro no elevador.

– Calma. – Ele pegou no telemóvel e discou rapidamente alguma mensagem. – Eles já vão tratar disto.

Bufei, encostando-me na parede oposta à dele.

– Zoe, em relação à noite de sexta, eu-

– Eu não quero ouvir nada, Kyle. Eu vi o suficiente. – Tentei ser o mais fria possível, e isso pareceu deixá-lo um pouco abatido.

– Nao, vais ouvir-me. – Aproximou-se de mim. Eu saí de onde estava, mas ele continuou a insistir na minha direção. Acabei por ficar entre ele e a parede gelada do elevador.

Quis bater em mim própria por ficar afetada pela proximidade com o corpo dele. Tentei demonstrar que isso não era incómodo para mim, por isso tentei aparecer indiferente.

– Não tenho nada para ouvir. – Murmurei, quando o senti aproximar o rosto do meu. O meu coração disparou no meu peito. Eu coloquei as mãos no seu peito, na tentativa de o empurrar para longe. Em vão. Desviei os olhos dos dele, evitando contacto visual.

– Tens. Eu tenho coisas a dizer. Zoe, o que tu viste... Não foi o que achas que foi. Ela apareceu lá do nada. Eu não a convidei. Pelo contrário. Tu viste que eu a expulsei da empresa e tudo. – Ele tentou agarrar o meu rosto e fazer-me olhar para ele, mas eu desviei com um movimento brusco. – Zoe, ouve-me. Eu não a quero para nada. Ela beijou-me, mas eu parei-a. Eu amo-te caramba.

Não consegui responder. Fiquei estática e com o olhar preso no chão. Ele rapidamente me agarrou novamente no rosto, fazendo-me olhar para ele.

– Olha para mim nos olhos e diz-me que não sentiste nada naquela noite. Diz.

– Eu tinha bebido. – Menti.

– Ah, Zoe. Para de fingir que eu não te afeto. – A sua cabeça desceu para o meu pescoço e eu tentei afastá-lo mais uma vez. Desisti ao sentir os seus lábios quentes de encontro à minha clavícula, deixando um beijo e uma pequena mordida. Reprimi um gemido. – Para de fingir que não te sou nada. – Os seus dedos desceram lentamente pela lateral do meu corpo e tocaram a minha pele por baixo da camisola. Gemi ao sentir as suas mãos frias. – Diz... Diz que não me amas também.

– Kyle... Eu... – Gemi ao sentir a sua língua passear no meu pescoço e logo senti os seus lábios nos meus.

Deixei que a pasta me caísse das mãos e por momentos ignorei o que tinha acontecido na noite de sexta. Deixei que ele me beijasse e deixei-me levar.

Agarrei fortemente os seus cabelos, aproveitando a nossa proximidade e ele gemeu contra os meus lábios. Só acordei para a realidade quando o elevador voltou a remexer, voltando a andar.

Afastei-me rapidamente dele e apanhei as minhas coisas do chão.

– Zoe. – Ele começou, mas a porta do elevador abriu.

– Tens aqui os papéis da minha demissão. – Estendi-lhe a pasta com as folhas e saí sem o olhar e sem ao menos reparar em que andar estava.

SunshineOnde histórias criam vida. Descubra agora