Capítulo VIII: Velocidade

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Calor. Antes de abrir os olhos, senti meu rosto sendo aquecido pela luz do sol que entrava discretamente pela janela, a sensação que era bem vinda, me fez querer pular da cama feliz e aproveitar o dia lá fora. Mas infelizmente não dava, precisava ir pra escola.
Espera aí.
Minha escola era pela manhã, como eu estava sentindo aquele sol se...
Me levantei e peguei meu celular, liguei a tela e vi o horário: 11:06. Passei as mãos no rosto frustrado, nem se eu quisesse poderia chegar a tempo na escola. Havia perdido um dia de aula, aquilo me incomodava, não era exatamente um super fã da escola, mas sabia da importância de boas notas num futuro estágio, por isso, prezava tanto pela presença quanto pelas atividades e trabalho, um dia a menos significava um passo pra trás nos meus planos. Me sentei na cama.

Carlos inesperadamente adentrou o quarto segurando um pedaço de pão já na metade, me senti confuso, será que ele também havia se atrasado?

-Carlos? - perguntei com a voz ainda embargada por ter acabado de acordar- Você também se atrasou?
-Atrasou pra quê?
-Pra escola ué.
-Mas não tem aula hoje- tá, aquilo me pegou de surpresa.
-O que? - perguntei ainda mais confuso.
-Greve dos professores - disse ele impaciente, sentando em sua cama, finalizando seu pão e colocando seu tênis de corrida- Passaram avisando na primeira aula ontem, se você estivesse prestando atenção na aula saberia.
-Ah- disse por fim- Eu tenho andado com a cabeça meio longe mesmo.
-Meio? -Carlos riu- Beto tu tá em outro mundo esses dias.
-Você ficaria surpreso- sussurrei.
-Oi?
-Ah, nada não- precisava mudar de assunto- Vai fazer o que?
-Tô saindo pra correr com o Rafa.
-Ah, beleza, vê se não joga sua meia suada na minha cama de novo, tive que botar minha roupa de cama pra lavar duas vezes naquela semana.
-Pode deixar- disse ele saindo do quarto, ao invés de dar uma resposta ácida como era de costume, ele também parecia mais... como posso dizer? Ele parecia mais feliz que o normal. Não tô dizendo que isso é ruim, torcia pela felicidade do meu amigo, mas era estranho pra mim essa felicidade tão repentina. Ainda ia descobrir o que havia causado aquilo, mas agora, precisava sair da cama.

Me levantei finalmente e entrei no banheiro do quarto, escovei meus dentes, lavei o rosto e saí. Peguei meu celular novamente e procurei pelo contato de Lúcia, por sorte ela estava acordada. Combinamos de nos encontrar na casa dela pra visitar novamente a Exoterra.

O orfanato tinha uma conduta bem flexível, nós poderíamos ir a qualquer lugar e passar o dia todo fora nos dias que não tinham aula, contanto que voltássemos no horário combinado, felizmente ninguém desobedecia a regra, isso poderia diminuir o tempo do "toque de recolher". O orfanato não tinha tantas regras, além das óbvias como: não usar drogas, não roubar, etc... Haviam apenas mais algumas regras, meninas não podiam entrar nos dormitórios dos meninos e vice versa, em nenhum horário, por mais que namoros não fossem proibidos a diretora não queria que nenhuma gravidez acidental acontecesse, o que já chegou a acontecer uma vez, mas isso já fazia bastante tempo, aconteceu anos antes de eu chegar aqui.

Tomei meu café por fim, e me dirigi até a casa de Lúcia, a pé mesmo, não era assim tão longe. Ao chegar na casa fui recebido por Nicole, que me estendeu a mão em cumprimento.

-Bom dia dona Nicole- disse apertando sua mão e soltando logo depois, terminando o cumprimento.
-Bom dia, er... Ricardo? - perguntou meio sem jeito.
-Roberto.
-Sabia que começava com "R"- ela disse rindo, acompanhei a risada- Entra, a Lúcia está só resolvendo umas coisas, logo ela aparece pra vocês irem.
-Beleza.

Entrei na casa e me sentei no sofá aparentemente caro, na sala de estar daquela casa tudo parecia muito... chique, não sei se era pra isso me deixar surpreso, afinal, mesmo que ela fosse no presente momento humana, ela ainda pertencia a família real, né? Mas, se as Aquas que se tornam humanas tem sua memória alterada, então por que Nicole ainda se lembrava? Quando decidi me levantar pra perguntar a ela, Lúcia entrou na casa e me disse pra irmos logo. Quando ela adentrou a porta, a luz do sol a iluminou por trás, fazendo seus cabelos vermelhos brilharem como fogo, dando a ela uma aparência fantástica, era impressionante o quanto aquela menina era linda, ela usava um vestido branco estampado com flores coloridas, eu teria achado meio brega, mas não nela, no corpo dela tudo ficava lindo, era impressionante. Ela se aproximou de mim e me deu uma bitoca, sem se preocupar com a tia dela que ainda estava de pé ali, Nicole não pareceu se incomodar também. Lúcia disse a sua tia que iria me levar as montanhas fofas, a reação de Nicole foi rir alto, o que me pegou de surpresa, começava a temer o que quer que fossem aquelas montanhas fofas. Após alguns segundos sem entender nada, nos preparamos novamente pra atravessar o portal.

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